Se você é contra a economia de mercado, você nunca viveu fora dela

Uma das mais desafiadoras e importantes tarefas de um professor de economia é ensinar aos alunos o quão pouco nós sabemos sobre o mundo.

Meu grande amigo e colega, o doutor Thomas Sowell, costuma dizer que “É necessário ter um conhecimento considerável para se dar conta de quão grande é a sua própria ignorância”.

Já o economista austríaco, e ganhador do prêmio Nobel, Friedrich August von Hayek alertou: “A curiosa tarefa da economia é demonstrar aos homens o quão pouco eles realmente sabem sobre aquilo que eles imaginam poder planejar”.

O fato de que somos extremamente ignorantes sobre como o mundo funciona é algo ignorado pelas elites políticas e progressistas que juram saber o que é melhor para nós mesmos e que, por isso, querem controlar nossas vidas.

Vejamos alguns exemplos que, embora rotineiros e triviais, mostram toda a complexidade do mundo.

Café da manhã, almoço e supermercado

Um supermercado tradicional e bem estocado possui entre 40.000 e 50.000 itens diferentes. Um supermercado de uma grande rede, como o Walmart, possui aproximadamente 120.000 itens distintos.

Agora, imagine que toda a economia tenha sido estatizada e que o governo tenha nomeado você para a tarefa de produzir e abastecer este supermercado com apenas um item: maçãs.

Toda a cadeia de produção de maçãs, agora estatizada, está sob seu comando. Sendo assim, você não pode simplesmente comprar maçãs no atacado. Já que tudo é do governo, não há mercado para os produtos. Logo, não há preços.

Consequentemente, você terá de descobrir todos os insumos necessários para cultivar maçãs, colhê-las e transportá-las ao supermercado. Você é o responsável por todas as etapas de produção e distribuição de maçãs. Vejamos apenas algumas etapas.

Você precisará de caixotes de madeira para transportar as maçãs. Contabilize todos os insumos necessários para produzir esses caixotes. Você precisa, obviamente, de madeira. Mas, para obter a madeira, será necessária uma serra elétrica para cortar as árvores. A serra elétrica é feita de aço, o que significa que minério de ferro terá de ser extraído das minas. Para isso, máquinas e equipamentos pesados de mineração serão necessários. Eles terão de ser fabricados. E não se esqueça de que todos os trabalhadores necessitam de roupas e sapatos.

A lista completa de insumos e matérias-primas necessários para simplesmente levar maçãs ao mercado é incontável. Com efeito, deve ser impossível precisar um número exato. Esqueça um item — como velas de ignição ou correia do alternador — e você provavelmente não conseguirá levar maçãs ao supermercado. Imagine, então, todos os outros alimentos. (É por isso que o povo passa fome em economias socialistas).

A tarefa de abastecer um supermercado com maçãs, algo que o mercado faz diariamente sem necessitar de nenhum comitê de planejamento central dando ordens, é bem menos complexa do que gerenciar todo o sistema de saúde de um país inteiro. E, no entanto, o governo se arvora a capacidade de fazer este último.

A beleza de toda a alocação de bens e serviços feita pelo mercado, em contraste às ordens do governo, é que nenhuma pessoa precisa saber de tudo o que é necessário para levar maçãs ao seu supermercado. O sistema de preços se encarrega de tudo.

O sistema de preços, quando deixado a funcionar livremente, é um engenhoso método de comunicação e coordenação capaz de aprimorar substantivamente as condições de vida dos seres humanos. Entender o sistema de preços é entender como bilhões de indivíduos completamente estranhos uns aos outros, espalhados pelo globo, falando dezenas de idiomas diferentes, e cada um preocupado apenas com o bem-estar próprio e o de sua família, fazem escolhas e agem de uma maneira que torna completamente possível a nossa atual prosperidade — possibilitando desde a existência diária de todos os tipos de alimentos frescos nas gôndolas dos supermercados até a incrível oferta de todos os tipos de bens de consumo e de serviços à nossa disposição.

O livre mercado, em conjunto com o livre comércio e o livre sistema de preços, nos torna mais ricos ao economizar a quantidade de conhecimento ou de informação necessários para produzir bens e serviços.

Agora, pense no café da manhã. Suponha que você e sua mulher tenham comido bacon e ovos. Você tomou café e sua mulher, pó de cacau. O preço total deve ter ficado em torno de $25 a $30. Agora, quanto será que teria custado tudo se, em vez de depender da ganância de terceiros, você fosse autônomo e produzisse seu próprio café da manhã?

Você sabe criar porcos? Você sabe abatê-los? Você sabe como transformar o porco em bacon? E os ovos? Você precisa entender de galinhas. Você precisa criar galinhas. Você sabe como alimentar porcos e galinhas? Adicionalmente, você teria um grande problema com o café e o cacau, pois seu cultivo não pode ocorrer em qualquer lugar. Depende de clima e solo.

O que é realmente garantido é que seu café da manhã seria muito mais caro do que no arranjo em que você depende dos benefícios trazidos pelas habilidades de terceiros, algo que só ocorre quando há divisão do trabalho e livre comércio.

Por fim, pense em uma metrópole, como Nova York, Londres ou São Paulo. Hoje, em cada uma delas, aproximadamente 10 milhões de pessoas irão almoçar (ou já almoçaram). Decidir a variedade de alimentos e a quantidade exata de comida disponíveis no lugar certo e na hora certa para fazer com que tudo funcione fluentemente é um problema de impressionante complexidade, o qual se torna ainda mais complicado pelo fato de que, normalmente, várias pessoas se decidem apenas no último minuto sobre onde irão comer e o quê.

Quem estará no controle supremo deste arranjo? Será que há um comissário ou mesmo um comitê central em cada uma destas metrópoles coordenando tudo isso? Há um ser tão onisciente capaz de tamanha façanha? Você seria capaz de coordenar todo este arranjo? Com efeito, por que um sistema tão crucial quanto este não é subsidiado? Como ele pode ser tão pouco regulado e funcionar tão bem?

Ainda mais importante: você confiaria em um político para tal tarefa? Se você não confia em um político para coordenar seu almoço, por que confiaria a ele o controle da educação de seus filhos, dos hospitais que você utiliza e das estradas nas quais você viaja?

Conclusão

O ponto principal é que cada um de nós é extremamente ignorante quanto ao mundo em que vivemos. E não há absolutamente nada de errado com essa ignorância. A estupidez está, aí sim, em acreditarmos que políticos podem nos proporcionar uma vida melhor do que aquela obtida por meio de transações pacíficas e voluntárias — coordenada pelo sistema de preços — com outras pessoas de qualquer lugar da terra.


Walter Williams é professor honorário de economia da George Mason University e autor de sete livros. Suas colunas semanais são publicadas em mais de 140 jornais americanos.

Fonte: Mises Brasil

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