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BC ganha prêmio por gerir bem as reservas — usando até ETFs

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Foto: Envato

O Banco Central do Brasil recebeu o prêmio de Melhor Gestor de Reservas em 2023 da prestigiosa publicação britânica Central Banking.

A cada ano, a revista seleciona os destaques em 13 categorias. Em 2020 o BC brasileiro já havia ganhado dois prêmios: Gerenciamento de Riscos e Melhor Site de Banco Central.
Nos últimos cinco anos, o BC fez uma profunda reestruturação da gestão de seus mais de US$ 300 bilhões em reservas internacionais. Em meio às tempestades recentes nos mercados, a instituição implementou novas estratégias de alocação, diversificou os instrumentos financeiros utilizados e desenvolveu in-house sistemas de negociação.
Entre as mudanças na gestão dos ativos, os investimentos em ações, que eram antes feitos em índices futuros, passaram a usar ETFs, com ganho em custos e facilidade de operação. Aproveitando essa experiência, o novo portfólio de títulos corporativos em dólares e euros foi todo implementado usando ETFs, disse a Central Banking.

A implementação da carteira de títulos na moeda chinesa demorou dois anos para ser viabilizada porque foi necessário discutir contratos e desenvolver sistemas internos capazes de processar adequadamente a negociação, liquidação e custódia dos papéis.

No que diz respeito aos processos, o BC atualizou a governança para ter maior agilidade na alocação.

Anteriormente, as estratégias eram tomadas apenas nas reuniões trimestrais do comitê de investimentos – o que, diz a Central Banking, resultava na perda de oportunidades em razão da demora na tomada de decisões.

Coincidindo com esta reestruturação da gestão, o BC reduziu proporcionalmente a participação do dólar e do euro nas reservas e aumentou sua exposição à moeda chinesa.
Em dezembro – o dado mais recente – 80,42% das reservas brasileiras estavam denominadas em dólar. O renminbi ocupava a segunda colocação, com uma fatia de 5,73% — acima do euro, com 4,74% do total.

Na sequência estão os ativos em libra esterlina (3,15%), ouro (2,52%), e iene (1,86%).
Segundo o BC, a política de investimento das reservas internacionais é definida em função de objetivos estratégicos de longo prazo. “Os parâmetros para a alocação consideram a gestão integrada de ativos e passivos, diversificação, caráter anticíclico da carteira, entre outros aspectos apresentados no Relatório de Gestão das Reservas Internacionais,” disse o BC em nota ao Brazil Journal.

O aumento da participação do renmimbi aconteceu em 2021, quando a Autoridade Monetária buscou maior diversificação na alocação de moedas das reservas. Em 2022, não houve variações significativas na carteira.

Giuliano Guandalini – Brazil Journal

RJ estuda implantação da primeira fábrica de fertilizantes no estado

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Foto: Darrenquigley32/Pixabay

Pesquisadores da Embrapa Solos e da Embrapa Agrobiologia estão estudando com representantes do Poder Público a viabilidade técnica de construção de fábrica de fertilizantes em Macaé, no norte fluminense. A prefeitura de Macaé, em parceria com o governo fluminense e com apoio da Secretaria Especial de Assuntos Federativos da Presidência da República, elaborou um projeto que está em fase de chamamento público para contratação de consultoria.

“Em três meses, o estudo de viabilidade técnica e socioambiental deverá estar pronto”, disse o assessor da Secretaria Especial de Assuntos Federativos da Presidência da República, José Carlos Polidoro. A expectativa é que até o final do ano, a planta do projeto estará aprovada, de modo a se pensar no início da obra já no ano que vem.

O anúncio foi feito durante passagem da Caravana Embrapa FertBrasil por Campos dos Goytacazes, na região, no último dia 22.

Polidoro destacou que o Plano Nacional de Fertilizantes, criado em março do ano passado, é uma das prioridades do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Uma das principais metas é diminuir a dependência externa, porque importamos 85% dos fertilizantes. E o Brasil não faz agricultura em nenhum nível sem fertilizantes.”

Segundo Polidoro, que é um dos idealizadores da Caravana FertBrasil e pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o Brasil precisa quadruplicar a produção de fertilizantes nos próximos 25 anos.

Ele ressaltou que a planta a ser construída em Macaé vai contribuir com até 10% de diminuição da dependência externa em nitrogênio, porque o município é o maior produtor de gás natural do país, respondendo por 60% da produção nacional. O gás natural é a principal matéria prima de fertilizantes nitrogenados.

O assessor informou que uma planta de fertilizantes nitrogenados exige investimento entre US$ 2 bilhões e US$ 3 bilhões e gera 5 mil empregos diretos e indiretos na fase de construção. Quando em operação, gera entre 500 a 600 empregos que exigem alta capacitação e oferecem bons salários. “É uma indústria que tem longa vida. Tendo gás, ela vai produzir aí fertilizantes por mais de 50 anos.”

Infraestrutura

O prefeito de Macaé, Welberth Rezende, disse que a construção de fábricas de fertilizantes é solução estratégica para o país e para o desenvolvimento da agricultura nacional. Para Rezende, Macaé reúne todas as condições necessárias para a instalação de uma fábrica semelhante.

Além da produção de gás natural, o município tem organização industrial, por conta do petróleo e gás na região, além de mão de obra qualificada. A cidade reúne ainda vantagens em termos de logística, localizada próximo a grandes rodovias do país, tem projeto de construção de um porto, além do aeroporto local com voos diários para Rio de Janeiro e São Paulo.

“Além de ter prioritariamente fatores como logística, mão de obra qualificada, gás natural, que é uma matéria-prima importante para a fabricação de fertilizantes, ainda possui uma infraestrutura secundária, no que diz respeito à saúde, educação, esgoto tratado, respeito ao meio ambiente que também são importantes para a tomada de decisões.”

Segundo o prefeito, Macaé pretende sediar uma das fábricas previstas no Plano Nacional de Fertilizantes. Será a primeira planta desse tipo do estado do Rio de Janeiro, para o qual a área de fertilizantes é uma das prioridades do atual governo fluminense.

Petrobras

José Carlos Polidoro explicou que a Petrobras, em 2016, interrompeu a produção de duas plantas de fertilizantes na Região Nordeste. Em 2018, arrendou as plantas para uma empresa privada, cuja produção foi reiniciada este ano, e contribuem com mais de 15% da produção nacional.

Em Mato Grosso do Sul, a Petrobras está estudando a melhor maneira de terminar a construção de uma nova fábrica de fertilizantes, que já tem 83% das obras concluídas. Será mais uma planta em produção no Brasil. “As decisões estão sendo tomadas no âmbito do novo governo.”

Localizada no Paraná, outra fábrica está “hibernada”, ou seja, com a produção paralisada. De acordo com Polidoro, esta unidade e a fábrica em construção no Mato Grosso do Sul estavam em processo de venda, que foi cancelado pela Petrobras. “Agora, está se revendo como a Petrobras vai reiniciar a produção no Paraná e terminar a obra no Mato Grosso do Sul.”

O modelo de negócio está sendo estudado pela Petrobras e pelo Ministério de Minas e Energia.

De acordo com o assessor, no caso do nitrogênio, o Brasil sairia de uma importação de 92% para cerca de 60% a 65%, o que significa cair para um terço a dependência externa.

“Tira o Brasil do risco de faltar fertilizante no mundo e faltar no Brasil. Produzir 30% a 40% já dá uma segurança para passar por esses suspiros e solavancos internacionais”. Em relação ao potássio, o Brasil importa 96% do que consome. “É mais crítico ainda”.

Segundo Polidoro, o potássio é um dos fertilizantes mais usados na agricultura e a fábrica da empresa privada Mosaic Fertilizantes, em Sergipe, pretende ampliar a produção até 2030, o que dará um pequeno alívio na dependência. Há também projetos no Amazonas, que ainda estão em estudos de viabilidade ambiental e social, por questões indígenas.

No caso do fósforo, a situação é mais tranquila. O Brasil importa em torno de 70% e pode cair para menos de 50% com investimentos, devido à existência de muito fósforo no país. Projetos relacionados a fósforo têm também questões sociais, porque se trata de atividade da mineração, que causa impacto.

“Tudo tem de ser feito com muito cuidado. Por isso, foi criado o Plano Nacional de Fertilizantes. Foi criado ainda o Conselho Nacional de Fertilizantes e Nutrição de Plantas (Confert), cuja função é ordenar e criar uma governança longa e forte para ter desenvolvimento econômico com sustentabilidade. Com fortalecimento e melhoria do plano nacional, a perspectiva é tornar o Brasil seguro para a produção agrícola no que diz respeito a esses insumos.” 

Agência Brasil

Uma nova performance demográfica que, nas próximas décadas, mudará o mundo que conhecemos

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Foto: Envato

A demografia mundial está em constante mudança, e uma das transformações mais significativas que podemos observar nas próximas décadas é o aumento do número de pessoas idosas na população. Essa mudança é explicada pela queda na taxa de fecundidade e mudanças na expectativa de vida. Essa nova performance demográfica terá impacto em todas as áreas do conhecimento e muitas das questões inerentes à vida humana, incluindo a demanda mundial de investimento em políticas públicas, alimento, saúde, empreendedorismo, construção civil, publicidade, e no perfil do empreendedor do futuro.

Economia Prateada: uma nova atividade econômica

De acordo com um estudo realizado pela Pipe Social, a Economia Prateada, que se refere a todas as atividades econômicas associadas às necessidades das pessoas com mais de 50 anos e os produtos e serviços que elas consomem, será a terceira maior atividade econômica do mundo, movimentando US$ 7,1 trilhões anuais. Nos EUA, por exemplo, a economia prateada já representa mais de 25% do consumo, enquanto no Brasil, o consumidor maduro movimenta cerca de R$1,6 trilhões/ano, ou seja, 20% do poder de consumo do País.

O envelhecimento populacional e as projeções para o futuro

Segundo as projeções da ONU, até 2050 haverá mais de 2 bilhões de pessoas com 60 anos ou mais no planeta Terra. Esse crescimento é exponencial se comparado ao medido em 2017, cerca de 962 milhões pessoas. Em 2050, esse número passará para 2,1 bilhões – o equivalente a 25% da população mundial. Já no Brasil, de acordo com o IBGE, existem 30,3 milhões de idosos e seremos 68,1 milhões em 2050. Também em 2050, segundo as mesmas projeções, seremos o 6º país mais velho do mundo. Já em 2060, um em cada 4 brasileiros terá mais de 65 anos.

O que tem sido desenhado para atender à população mais experiente?

Apesar de sermos um país com grande predominância da população jovem, é a faixa etária acima dos 60 anos que mais cresce no Brasil. No entanto, as políticas públicas ainda são formuladas pensando somente na população mais jovem, na construção de creches, escolas e universidades, por exemplo. O que tem sido desenhado para atender às necessidades e demandas da população mais velha? É preciso olhar com mais atenção para esse público nos próximos anos.

Além da Aposentadoria

Os idosos brasileiros ficam à margem das decisões das empresas, do governo e das próprias famílias, sobretudo pelo desafio do Brasil de equacionar o problema de uma previdência social deficitária, exercendo uma grande pressão, cada vez maior, em seu orçamento.

De acordo com o Sebrae, quase metade dos empreendedores no Brasil têm mais de 50 anos, e 7,3% dos novos empreendedores de negócios de pequeno porte do país têm 65 anos ou mais. Os empreendedores maduros são os que mais empregam no Brasil, sendo que metade dos novos negócios criados por essa faixa etária foi criada por mulheres.

Com a expectativa de vida crescente no país, a perspectiva de se manter ativo profissionalmente por mais tempo é cada vez mais comum entre os aposentados. Esses empreendedores buscam por oportunidades com baixo risco, preferencialmente em franquias, com processos estruturados e mais próximos à realidade das empresas em que trabalharam durante toda a vida. Eles têm clara noção de seus objetivos financeiros, procuram negócios que possam aportar sua experiência profissional e de vida, deixando um legado que se conecte com seus valores e propósito de vida.

Protagonismo dos Indivíduos

A nova performance demográfica traz consigo grandes desafios e oportunidades para indivíduos, empresas, governos e sociedade em geral. É necessário reconhecer a importância e o potencial da população madura em todas as áreas do conhecimento e na vida humana em geral, e criar políticas públicas, produtos e serviços que atendam às suas necessidades específicas, um nicho ainda pouco explorado e, portanto, repleto de oportunidades.

Indivíduos maduros são fundamentais nesse contexto, como agentes de transformação e trazem consigo a experiência e uma visão baseada em conhecimento ao longo do tempo. Empreendedores e profissionais maduros têm muito a contribuir para a economia, para a sociedade e para a inovação em diversos setores, e devem ser valorizados e incentivados.

O protagonismo dos indivíduos maduros criam condições favoráveis para o desenvolvimento humano e social, aproveitando todo o potencial dessa nova performance demográfica, além de orientar políticas de valorização da vida, da paz, da liberdade e da prosperidade.

IoP

Quatro estados brasileiros com taxas de desemprego menor do que países ricos do G7

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Foto: Arron Choi/Unsplash

Quatro estados brasileiros têm taxas de desemprego próximas ou abaixo da média de alguns países ricos do G7, de acordo com dados de dezembro de 2022. Rondônia (3,1%), Santa Catarina (3,2%), Mato Grosso do Sul (3,3%) e Mato Grosso (3,5%) apresentaram índices abaixo da média de 3,9% do G7. A coordenadora da Pesquisa Nacional por Amostra por Domicílios do IBGE, Adriana Beringuy, aponta que a recuperação do comércio e serviços é um fator que influenciou na queda do desemprego no país. A taxa de desemprego média do trimestre móvel novembro-dezembro-janeiro subiu para 8,4% após dez meses consecutivos em baixa.

O agronegócio tem sido um fator que contribui para a baixa taxa de desemprego em alguns estados brasileiros, como Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. As projeções do Banco Central indicam uma expansão de 7% no PIB agrícola e 1% no PIB da pecuária para este ano. De acordo com a consultoria Tendências, a baixa taxa de desocupação nesses estados está relacionada ao alto nível de ocupação acima da média nacional.

Em Santa Catarina, o segundo estado com a menor taxa de desemprego (3,2%), a economia diversificada contribui para amenizar os efeitos de crises. O estado também tem a segunda maior taxa de participação na força de trabalho (68,3%). O IBGE ainda não divulgou os dados estaduais para 2023, e a previsão é que ocorra na divulgação dos números do primeiro trimestre do ano.

Taxa de Desemprego por Estados Brasileiros

1 Rondônia 3,1%
2 Santa Catarina 3,2%
3 Mato Grosso do Sul 3,3%
4 Mato Grosso 3,5%
5 Rio Grande do Sul 4,6%
6 Roraima 4,6%
7 Paraná 5,1%
8 Tocantins 5,2%
9 Minas Gerais 5,8%
10 Goiás 6,6%
11 Espírito Santo 7,2%
12 São Paulo 7,7%
13 Ceará 7,8%
14 Pará 8,2%
15 Maranhão 8,3%
16 Alagoas 9,3%
17 Piauí 9,5%
18 Rio Grande do Norte 9,9%
19 Amazonas 10%
20 Acre 10%
21 Distrito Federal 10,3%
22 Paraíba 10,3%
23 Rio de Janeiro 11,4%
24 Sergipe 11,9%
25 Pernambuco 12,3%
26 Amapá 13,3%
27 Bahia 13,5%

IoP

Produção de petróleo em regime de partilha atinge recorde em janeiro de 2023

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Em janeiro deste ano, os contratos de partilha de produção de petróleo atingiram um novo recorde, com uma média de 845 mil barris por dia. Esse volume é quase o dobro do registrado em janeiro de 2022 e 11% superior ao de dezembro de 2021, devido a melhorias operacionais no Campo de Búzios, que apresentou um volume de 428 mil barris por dia, seguido por 212 mil barris por dia em Libra e 101 mil barris por dia em Sépia.

De acordo com a Pré-Sal Petróleo (PPSA), gestora dos contratos, dos sete contratos atualmente em produção, quatro tiveram uma participação fundamental no resultado de janeiro de 2023: Búzios, Sépia, Mero e Atapu. A PPSA foi criada em 2013 para gerenciar os contratos de partilha de produção e representar a União nos acordos de individualização da produção e gestão da comercialização de petróleo e gás natural.

Esses dados foram apresentados no Boletim Mensal de Contratos de Partilha de Produção da PPSA, que também destacou que o excedente em óleo da União aumentou para 42,9 mil barris por dia em janeiro de 2023. As principais contribuições vieram de Libra (32,17 mil barris por dia) e Búzios (6,04 mil barris por dia). Em janeiro de 2022, a parcela da União foi de 16,7 mil barris por dia.

Desde o início da série histórica em 2017, a produção total acumulada em regime de partilha alcança 369,30 milhões de barris de petróleo. A parcela acumulada em óleo da União, no mesmo período, é de 22,76 milhões de barris.

Gás Natural

Em relação à produção de gás natural com aproveitamento comercial, o resultado em janeiro foi de 2,28 milhões de metros cúbicos por dia, 17% maior do que no mês anterior, devido a melhorias de desempenho no Campo de Búzios. Esse campo foi responsável por 2,12 milhões de metros cúbicos por dia, seguido por Entorno de Sapinhoá, com 140 mil metros cúbicos por dia, e Sudoeste de Tartaruga Verde, com 24 mil metros cúbicos por dia.

A parcela da União foi de 54 mil metros cúbicos por dia, sendo 30 mil metros cúbicos por dia de Búzios, 24 mil metros cúbicos por dia do Entorno de Sapinhoá e 4 metros cúbicos por dia de Sudoeste de Tartaruga Verde. Houve uma redução de 57% em relação ao período anterior, devido a instabilidades na exportação de gás em Sapinhoá.

Desde 2017, o volume acumulado de gás natural soma 1 bilhão de metros cúbicos. Segundo a PPSA, o excedente a que a União tem direito é de 151,30 milhões de metros cúbicos.

IoP

O que os educadores progressistas erram sobre a criatividade

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Foto: Erik Mclean/Unsplash

Certamente, com o surgimento da Internet e da inteligência artificial, as escolas devem mudar, talvez radicalmente. Most Likely to Succeed, o documentário de educação defende esse caso usando a história de Watson, o supercomputador vencedor do Jeopardy!, um game show americano criado por Merv Griffin. O programa é uma competição de quiz que inverte o formato tradicional de perguntas e respostas de muitos quiz shows. Em 2011, depois de quatro anos projetando algoritmos e programação, os cientistas da computação desenvolveram uma máquina que poderia bater Ken Jennings, que venceu o programa de perguntas e respostas da TV 74 vezes.

Essa tarefa foi uma conquista muito mais complexa do que os antigos desafios do supercomputador, como ganhar de um humano no xadrez ou Go. Esses jogos podem ser dominados com pura proeza de cálculo. Para jogar Jeopardy!, Watson precisava “entender” a linguagem falada cheia de frases parciais, trocadilhos, metáforas, piadas e perguntas.

Se tal máquina, pergunta o documentário, pode realizar essa tarefa, então qual a utilidade das habilidades e informações factuais que podemos obter da educação tradicional? Esqueça a memorização ou a prática mecânica. Em vez disso, devemos capitalizar nossas capacidades humanas únicas – criatividade, pensamento, colaboração, resolução de problemas, comunicação, raciocínio e questionamento – ou assim diz o argumento.

O documentário recomenda a educação progressiva como nosso salvador social. Com pouca evidência ou conexão causal, aponta na direção de ideias como descoberta e aprendizado baseado em projetos – qualquer coisa que rejeite o aprendizado tradicional em sala de aula, como instrução em classe inteira, cursos formais, currículos sequenciados, palestras e coisas do gênero. Como exatamente essas abordagens “revolucionárias” para a educação promovem melhor a criatividade ou o pensamento crítico não está claro.

Esta é, de fato, uma velha disputa. No início do século 20, John Dewey apresentou um argumento semelhante para defender sua visão educacional progressista em The School and SocietyApontando para as mudanças provocadas pela revolução industrial, pelos primeiros meios de comunicação de massa e pela globalização, Dewey argumentou que “é inconcebível que essa revolução não afete a educação de outra forma que não seja formal e superficial”.

À medida que a sociedade muda, a educação deve mudar radicalmente, Dewey afirmou, persuadindo o seu leitor. E embora isso pareça plausível à primeira vista, acredito que seja um argumento falho. Algumas tradições permanecem valiosas mesmo através dos caprichos do “progresso”. Ler em voz alta para crianças ou jantar em família provavelmente é ainda mais importante em meio à revolução tecnológica pós-industrial. À medida que a ciência humana avança em campos como a medicina, práticas rudimentares, como lavar as mãos ou exercícios regulares, continuam sendo os melhores profiláticos. O objetivo deve ser promover o que é mais eficaz, não o que é mais novo, brilhante ou conveniente.

Existem inúmeras maneiras de medir a eficácia desta ou daquela prática instrucional – como os alunos obtêm sucesso em métricas como testes padronizados para objetivos mais afetivos, como competência socioemocional. Aqui abordo um: A geração da criatividade. E, finalmente, apesar da triste reputação de memorização mecânica, de tabelas de multiplicação e da miríade de regras de ortografia, a criatividade requer uma base subjacente de fatos memorizados e habilidades aprimoradas.

Pensamento criativo progressivo

Uma compreensão educacionalmente progressiva da criatividade tem como premissa uma visão romântica da infância, um estado supostamente imaculado pelas regras e expectativas embrutecedoras da sociedade. É exemplificado por frases como “As crianças estão sempre perguntando por quê” e “As crianças são naturalmente curiosas”. Desse ponto de vista, a mente da criança é inerentemente criativa e a educação tradicional apenas extingue essa centelha inventiva; se simplesmente permitíssemos que a mente da criança se desenvolvesse como uma flor, a criatividade floresceria. O professor universitário Larry Vint expressa sucintamente essa visão quando escreve que “a criatividade não é aprendida, mas sim desaprendida”.

Muitos que defendem essa abordagem da criatividade citam um famoso estudo sobre clipes de papel dos anos 60, no qual George Land e Beth Jarman pediram aos participantes que desenvolvessem o maior número possível de usos para um clipe de papel. As crianças superaram os adultos e o desempenho nessa tarefa diminuiu com a idade; quanto mais velho o indivíduo, menos propósitos exclusivos eles poderiam encaminhar para o clipe de papel.

Esse tipo de pensamento costuma ser chamado de pensamento criativo ou divergente – a capacidade de pensar fora da caixa, de considerar novos usos para coisas antigas, de inventar maneiras únicas de realizar tarefas. Não é nenhuma surpresa que as crianças sejam naturalmente melhores nisso. Eles simplesmente não aprenderam o propósito de muitos objetos no mundo. Assim, quando eles encontram um garfo, eles não o associam automaticamente com o jantar: pode ser uma arma de brinquedo improvisada, um utensílio para comer, um fazedor de barulho ou um grande instrumento para cutucar o irmão. Para a criança, os itens não são fixos funcionalmente ou associados a tarefas específicas. Portanto, o mundo deles é, de certa forma, mais aberto.

O pensamento convergente – pensar ao longo de caminhos predefinidos tipicamente associados à verdade – vem naturalmente com a idade adulta. Aprendemos que um garfo é usado para comer certos alimentos, mesmo que possa ter outros usos, como pescar algo no ralo. Aprendemos que existe uma explicação para o céu ser azul e que uma molécula de água é composta por dois átomos de hidrogênio e um átomo de oxigênio. Aprendemos verdades objetivas e normas culturais que limitam nosso pensamento.

É um equívoco atribuir essa perda de pensamento divergente à escolaridade e considerá-la prejudicial ou embrutecedora. O pensamento convergente é uma parte natural, na verdade inevitável, da aprendizagem. Sem ela, as tarefas rotineiras seriam impossíveis. Além disso, os adultos têm inúmeras responsabilidades e, portanto, não podem perder tempo experimentando todas as possibilidades bizarras de um garfo. E embora a postura de ingenuidade filosófica de quem sempre pergunta “por quê?” pode ser atraente, a maioria dos adultos compreende compreensivelmente distinguir entre pensamentos que valem o tempo e aqueles que são apenas uma distração. O pensamento convergente, em outras palavras, é principalmente um desenvolvimento positivo, embora, como a maioria das coisas, não ocorra sem compensações.

Os progressistas argumentam que podemos retreinar nossos cérebros em pensamentos divergentes por meio de mapas mentais, exercícios de associação livre, perguntas, projetos de arte, registro em diário e escrita livre. As concepções populares de criatividade a retratam como uma habilidade que pode ser treinada.

A evidência para isso é limitada, no entanto. Por exemplo, em um ensaio analisando a criatividade, o renomado psicólogo educacional John Weller observou que há uma “escassez de dados de ensaios randomizados e controlados que fornecem evidências de um aumento no pensamento crítico e criativo após a instrução”. Na verdade, ele foi ainda mais longe e escreveu que “a ausência de tais estratégias sugere que estratégias de pensamento ensináveis, gerais, críticas e criativas não existem”. Quaisquer que sejam as promessas de promover a criatividade por meio da educação progressiva, atualmente as evidências são limitadas.

Pensamento criativo tradicional

Em um vídeo cativante , Paul Simon explicou seu processo de composição da música Bridge Over Trouble Water, fornecendo uma visão esclarecedora da criatividade artística. Simon notou que a melodia original veio de um coral de Bach; ele escreveu apenas uma variação. Então ele ficou preso, mas ao ouvir alguns acordes de blues encontrou inspiração para a próxima seção. Por fim, a letra surgiu de um show que ele assistiu; ele admite que roubou as falas de outra pessoa. Este é um grande exemplo da máxima de TS Eliot: “Poetas imaturos imitam; poetas maduros roubam.”

Paul Simon explicando o seu processo de composição da música Bridge Over Trouble Water

Simon não é uma anomalia. Nos tempos elisabetanos, os escritores entendiam que a imitação era necessária para criar uma obra de arte. Os indivíduos coletariam citações atraentes e interessantes enquanto liam; a leitura se concentrou tanto na descoberta de grandes frases de efeito quanto no desenvolvimento do enredo e do personagem. Shakespeare era obviamente um gênio criativo, mas ele também “roubou” muito de sua matéria-prima. Ele não inventou enredos tanto quanto os manipulou e melhorou. Grandes ideias raramente vêm do escuro como um raio. Eles são absorvidos e transformados na mente do gênio.

“Poetas imaturos imitam; poetas maduros roubam.”

TS Eliot

Isso poderia ser ilustrado com inúmeros exemplos. Os discursos e sermões de Martin Luther King Jr. parecem um verdadeiro quem é quem entre os grandes nomes da literatura. Em apenas um parágrafo de sua “Carta da prisão de Birmingham”, ele faz referência a três passagens das escrituras, bem como a Martinho Lutero, Thomas Jefferson e Abraham Lincoln. Essa criatividade rica em conhecimento vai além da palavra escrita. É um motivo comum na improvisação de jazz fazer “referência” a outra música ou solo; artistas de jazz roubam a melodia de outra música e a alteram enquanto improvisam. Na verdade, muitos clássicos do jazz derivaram de músicas de shows da Broadway como Summertime ou Brotherhood of Man . Na poesia, The Waste Land de Elioté funcionalmente uma colagem de referências literárias e inspirações da mitologia, outros poemas, filosofia, cristianismo e obras de arte.

Em cada caso, esses gênios criativos utilizaram seu vasto conhecimento de seu próprio ofício para criar algo novo. Poucas obras de arte nascem ex nihilo de uma mente que domina o pensamento divergente. Não se deve pensar na criatividade artística como uma obra de literatura surgindo, mas sim como uma reunião e combinação única de linhas, imagens, motivos e arquétipos. Mesmo artistas tão singulares como Kafka ou David Lynch transmogrificam imagens e ideias que vêm de fora.

O axioma do Eclesiastes de que “não há nada de novo sob o sol” parece pertinente. Não podemos criar nada inteiramente novo, mas devemos aplicar a sabedoria e a tradição antigas às nossas normas modernas. Expressamos as mesmas verdades e mantemos os mesmos argumentos repetidamente, em nosso contexto moderno.

Essa abordagem dependente do conhecimento para a criatividade foi demonstrada em pesquisas. Em um estudo, os autores afirmam que os grandes artistas desenvolvem suas capacidades por meio de “encontros com as obras de outras pessoas”, permitindo que “os artistas [criem] suas próprias obras originais e estilos de expressão”. No próprio estudo, os pesquisadores pediram aos participantes que desenhassem uma imagem de controle e, em seguida, dividiram os participantes em três grupos: o primeiro grupo desenhou outra imagem do zero, o segundo copiou o exemplo de um artista e depois desenhou o seu próprio, e um terceiro modelou sua nova imagem. seguindo o exemplo de um profissional. Em cada caso, a técnica permaneceu amadora, mas os participantes que copiaram o trabalho de outro artista mostraram sinais de crescimento criativo. Eles melhoraram não por meio da prática de qualquer habilidade de pensamento crítico generalizado, mas por meio da expansão de seus conhecimentos.

Ou considere a análise de Sweller da pesquisa existente: “Há um grande corpo de evidências indicando que os alunos aprendem a resolver problemas novos e complexos com mais facilidade estudando exemplos resolvidos que demonstram possíveis etapas de solução, em vez de resolver os próprios problemas”. É por meio de explicações e orientações explícitas sobre os problemas – mesmo problemas com soluções explicitamente apresentadas – que os alunos desenvolvem a capacidade de pensamento crítico e criativo. Eles precisam de modelos e orientação, não de experimentação aleatória ou atividades de pensamento criativo cafona com as quais não podem aprender nada.

Não é apenas o conhecimento de domínio que permite a criatividade. Prática estruturada é essencial. Há uma frase comum no jazz, “derramamento”, que vem de Charlie Parker, que passava até 12 horas por dia em seu depósito de lenha executando escalas, tons longos, ensaiando passagens memorizadas e praticando as minúcias do saxofone. Desde então, tornou-se uma espécie de rito de passagem para músicos de jazz. Eles colocaram na prática do tipo drill-and-kill para dominar seu instrumento.

Qualquer arte criativa requer domínio técnico. Mesmo artistas abstratos como Pablo Picasso e Salvador Dalí primeiro tiveram que dominar as técnicas dos mestres anteriores a eles. Em termos cognitivos, devemos nos tornar tão hábeis em uma habilidade que ela não ocupe espaço em nossa limitada memória de trabalho, também conhecida como automaticidade. Para Charlie Parker e Dizzy Gillespie inventarem o subgênero do jazz chamado bebop, eles tiveram que dominar os movimentos motores de seus instrumentos e fundamentos como escalas para que tivessem espaço livre em suas mentes para considerar que melodia poderiam experimentar, o que deveria seja a forma da próxima execução de suas anotações e outras questões criativas. Eles não desperdiçaram espaço limitado em sua memória de trabalho pensando sobre a colocação dos dedos.

Qualquer arte criativa requer domínio técnico. 

A ciência cognitiva e as concepções tradicionais de educação fornecem caminhos para o desenvolvimento de uma criatividade mais madura em nossos alunos – mesmo quando o pensamento divergente da infância retrocede e o pensamento convergente da vida adulta tem precedência. Considere dois exemplos relacionados. Um pianista clássico provavelmente teria dificuldades com a música jazz porque lhe falta o conhecimento específico do domínio da música jazz. Da mesma forma, um pianista de jazz não poderia improvisar sobre uma música de jazz em um saxofone porque não possui as habilidades específicas exigidas neste instrumento. A verdadeira criatividade requer conhecimento específico do domínio e domínio técnico.

Considere como isso se aplica a uma unidade de poesia em uma sala de aula do ensino médio. Há um lugar e hora para a prática mecânica: marcar o padrão rítmico de um poema famoso ou executar exercícios métricos de tipos, onde os alunos escrevem linhas isoladas em pentâmetro iâmbico ou com certa assonância. Esperar que os alunos usem cada uma dessas habilidades em conjunto enquanto elaboram poesia original seria implausível. Eles estariam equilibrando muito em sua memória de trabalho de uma só vez. Eles devem praticar habilidades isoladas de uma maneira do tipo drill-and-kill até que se tornem automáticas.

Além disso, se queremos que eles escrevam grandes poesias, eles próprios precisam experimentar grandes poesias. Em seu livro How to Think Like Shakespeare , Scott Newstok argumenta que, antes da lei moderna de direitos autorais, ser “original” significava lutar com seus antepassados ​​intelectuais em um ataque de “imitação criativa”. Ele lista autores de Abraham Lincoln a Robert Louis Stevenson que imitaram passagens e autores que eles admiravam como prática. Em minha unidade de poesia, exijo que os alunos memorizem poesia, não apenas leiam, analisem ou escrevam. No final da unidade, a maioria dos alunos escreve um poema que imita tudo o que eles escolheram memorizar – e geralmente é o poema mais atraente e, contra-intuitivo, o poema original.

A análise de Sweller ajuda a explicar essa teoria da criatividade em termos cognitivos: “Não existem estratégias de pensamento ensinável, geral, crítico e criativo”. Pensamento bastante criativo e crítico são processos naturais que a evolução concedeu. Nesse sentido, Rousseau e outros românticos da educação estão corretos. Pensamento criativo e crítico são inatos, mas não são perfeitos na infância esperando para serem corrompidos pela escola. Em vez disso, Sweller argumenta que “a única maneira pela qual o pensamento crítico e criativo pode ser aprimorado é aumentando a base de conhecimento específica do domínio”.

O conceito cognitivo de aprendizagem primária e secundária pode ajudar a concluir esta análise. As competências primárias são aquelas coisas que nós, como humanos, podemos aprender quase sem esforço porque estamos preparados para aprendê-las – linguagem falada e movimentos motores, por exemplo. Assim, embora leve tempo para as crianças aprenderem a andar ou a falar, essas habilidades não requerem instrução explícita.

Mas muitas coisas que queremos que nossos filhos aprendam – ciência, linguagem escrita, arte, beleza e cultura – são menos fáceis. Assim, uma criança não pode escrever naturalmente em pentâmetro iâmbico. Em vez disso, as habilidades poéticas requerem instrução explícita e prática deliberada. “Aprenderemos a ouvir e falar sem escolas”, observa Sweller, “mas a maioria das pessoas não aprendeu a ler e escrever até o advento da educação em massa”. O verso shakespeariano não é um produto natural da mente humana.

Os progressistas educacionais combinam as duas competências, observando a brincadeira natural e o aprendizado alegre que ocorre na primeira infância e argumentando que tais experiências devem ocorrer indefinidamente. Quando, na realidade, de acordo com Sweller, “o conhecimento específico de um domínio biologicamente secundário precisa ser explicitamente ensinado ou não será adquirido [ênfase minha]”. Para que nossos alunos adquiram o conhecimento e as habilidades aprimoradas para a criatividade, será necessária a estrutura e a ordem de uma sala de aula tradicional. Não basta que as crianças escrevam ou façam mapas mentais livremente; eles devem encontrar o melhor que foi pensado e dito. Somente depois de anos lutando com as obras de gênios do passado é que as crianças podem se tornar adultos eloquentes, perspicazes e críticos.

Ainda aceitamos que as proezas atléticas e o brilho musical exigem prática do tipo drill-and-kill. O mesmo se aplica a qualquer trabalho criativo. Manter nossos alunos longe da prática mecânica ou do conhecimento de domínio em favor de experiências de escrita ou performance mais “autênticas” é privá-los do próprio material de que precisam para uma arte madura.

No final, Most Likely to Succeed falha em seus próprios termos. Talvez, já que o mundo está mudando, nosso sistema educacional realmente deva se concentrar em objetivos afetivos, como pensamento ou criatividade. No entanto, quando os apelos para educar para o futuro cessam e as evidências são analisadas, é precisamente a educação do passado – da memorização dos jesuítas à educação clássica dos fundadores da América, da prática estruturada à instrução direta – que promoverá o pensamento crítico de fato e a criatividade de que precisamos para enfrentar os desafios do futuro do mundo real.


Daniel Buck é professor, membro visitante sênior do Fordham Institute e autor do livro recém-lançado “What is Wrong with Our Schools?

Fonte: Quillette

Reservas de petróleo aumentaram 13% no Rio, em 2022

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Foto: Allec Gomes/Unsplash

O estado do Rio de Janeiro registrou um crescimento de 13% em suas reservas de petróleo, alcançando um total de 12,33 bilhões de barris, o que representa 83% do total nacional, segundo Anuário do Petróleo 2022, divulgado pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) na quarta-feira (15), e é a segunda consecutiva.

95% dos novos volumes foram adicionados ao país em 2022, sendo que a perfuração de poços marítimos, tanto no país quanto no estado, apresentou quedas de 22% e 27%, respectivamente, no ano passado.

Foram perfurados 12 poços exploratórios marítimos no estado em 2022, de um total de 17 no Brasil. A Firjan destaca que a perfuração pode gerar desdobramentos para a indústria, com a contratação de sondas, navios sísmicos, atividades de perfuração de poços, entre outras.

Os dados mostram ainda um aumento de 10% na perfuração de poços na Bacia de Campos em 2022. Na Bacia de Santos, houve um aumento de 13,5% na produção, comparando dezembro de 2022 com dezembro de 2021.

O vice-presidente da Firjan, Luiz Césio Caetano, afirma que o estado do Rio de Janeiro está ampliando seu potencial para se tornar o grande polo de energia do país, tendo o petróleo como importante catalisador da indústria. Para ele, os diferenciais do estado incluem seu vasto potencial energético, a proximidade entre centros de oferta e demanda, uma grande carteira de novos projetos em segmentos diversos de energia, além de uma base industrial consolidada e com tradição de fornecimento ao mercado de energia.

Os preços do barril de petróleo em 2022 favoreceram também as arrecadações governamentais, com os valores mensais do óleo tipo brent atingindo patamares que não eram vistos desde 2012, acima de US$ 120 por barril. A produção média de petróleo no estado do Rio de Janeiro atingiu 2,53 milhões de barris/dia no ano passado, alta de 7,5% em relação a 2021, o que representa cerca de 85% do total nacional. Desse total, 2,01 milhões de barris/dia foram oriundos do pré-sal.

No que diz respeito aos derivados do petróleo, o estado do Rio de Janeiro apresentou um aumento de 31% na produção de diesel S-10 em 2022, em comparação ao ano anterior, refletindo os investimentos anunciados em 2021 na Refinaria Duque de Caxias (Reduc), no valor de R$ 140 milhões. O estado também se mostrou superavitário na relação entre produção e venda dos principais derivados, com uma relação de 81% para a gasolina A, 68% para o diesel, 62% para o querosene de aviação.

O estado do Rio de Janeiro é o maior produtor de petróleo do Brasil. Segundo dados de 2022, o estado responde por cerca de 83% do total de reservas do país. A produção média de petróleo no estado atingiu 2,53 milhões de barris por dia em 2022, o que representa cerca de 85% do total nacional.

IoP

BNDES: uma máquina perniciosa de redistribuição de renda ao contrário

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Foto: Envato

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) apresentou ontem (14) os resultados financeiros de 2022. O lucro líquido recorrente foi de R$ 12,5 bilhões. O valor considera o lucro contábil líquido de R$ 41,7 bilhões, deduzido dos elementos de caráter extraordinário. Entre eles, o banco destaca receitas de dividendos da Petrobras, valores devidos pela operadora Oi e alienação de ações da JBS e da Eletrobras. O resultado representa crescimento de 46,2% em relação a 2021.

Os desembolsos, que incluem os empréstimos e as ofertas de crédito, foram de R$ 98 bilhões em 2022, o que equivale a 1% do PIB. Em comparação mais ampla, o BNDES repassou, de 2015 a 2022, R$ 873 milhões ao Tesouro Nacional, enquanto os desembolsos foram de R$ 646 bilhões.

O resultado é positivo, mas nem sempre foi assim. Em governos anteriores o BNDES financiou projetos fora do Brasil, mesmo o país tendo enormes deficiências de investimento em obras estruturais. A relação estabelecida até com ditaduras da América Latina deixa dúvidas quanto à transparência das transações e sugere influência política, sobretudo pela falta de garantia no retorno dos empréstimos.

Em 2023, a dúvida sobre o uso político volta a rondar, sobretudo pela escolha do atual presidente do BNDES, Aloísio Mercadante, que defende o uso político da instituição, através do direcionamento do crédito com juros abaixo do mercado, por meio do forte endividamento do governo.

A consequência dessa política é a elevação dos gastos públicos e do risco fiscal, além da interferência na política monetária. Em outras palavras, a medida causa distorções no mercado de crédito – enquanto o Banco Central tenta controlar a inflação elevando os juros, o BNDES continua a fornecer crédito com juros baixos, estimulando o consumo na ponta final.

A possibilidade de que Mercadante apoie maiores gastos públicos para financiar o crescimento levanta a questão sobre o modelo que será adotado no BNDES. Restaurar o modelo em que o BNDES promove uma enxurrada de dinheiro no mercado, de forma subsidiada pelo governo, pode gerar mais distorções e dificultar o trabalho do Banco Central no combate à inflação.

O histórico de uso político do BNDES para financiar projetos fora do Brasil

Não é novidade que o Brasil enfrenta sérios problemas de infraestrutura.

Na contramão deste fato, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) financiou portos, estradas e ferrovias, mas não no Brasil e sim em vários países ao redor do mundo.

O BNDES se tornou um elemento-chave do modelo de desenvolvimento proposto pelo governo do PT, quando Guido Mantega deixou a presidência do banco e assumiu o Ministério da Fazenda em 2006.

No entanto, quando se analisa a atuação do BNDES, percebe-se que, na verdade, se trata de uma máquina perniciosa de redistribuição de renda ao contrário. Ao compreender como o banco realmente funciona, fica claro seu mecanismo espoliativo.

Inicialmente, os recursos do BNDES vinham do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), um fundo destinado a financiar o seguro-desemprego e o abono salarial. No entanto, como os recursos do FAT são provenientes das arrecadações do PIS e do PASEP, na prática, os recursos do BNDES provinham dos encargos sociais que incidiam sobre a folha de pagamento das empresas. Esse dinheiro era, então, direcionado para as grandes empresas a juros subsidiados.

Esse arranjo, por si só, já demonstrava um grande privilégio. Por que as pequenas empresas deveriam financiar os juros subsidiados das grandes empresas?

No entanto, essa matriz piorou a partir de 2009. Antes, o BNDES se financiava exclusivamente por meio de impostos, mas então passou a se financiar também por meio do endividamento do Tesouro, o que significa que ele se custeia por meio da inflação monetária.

Assim, como o BNDES não tinha todo o dinheiro que o governo queria destinar aos seus empresários favoritos, como o multifacetado Senhor X, o Tesouro começou a emitir títulos da dívida para arrecadar dinheiro e complementar os empréstimos. E quem compra esses títulos? O sistema bancário, que os adquire criando dinheiro do nada, pois opera com reservas fracionárias.

O BNDES e o endividamento do governo

Com o objetivo de financiar o BNDES, o Tesouro adotou um mecanismo que aumentou o endividamento do governo e também a quantidade de dinheiro na economia. No entanto, isso prejudicou os mais pobres, pois desvalorizou a moeda e utilizou impostos dos pequenos para financiar empresários ricos. O banco se tornou uma espécie de Robin Wood às avessas.

Desde que essa modalidade foi adotada, o total de repasses do Tesouro para o BNDES aumentou significativamente, de R$ 9,9 bilhões para R$ 440 bilhões. Parte desses empréstimos, que eram destinados a financiar atividades de empresas brasileiras no exterior, eram considerados secretos pelo banco. A partir da liberação dessas informações, descobriu-se uma lista com mais de 2.000 empréstimos concedidos pelo banco desde 1998 para construção de usinas, portos, rodovias e aeroportos no exterior. A seleção dos recebedores desses investimentos era incerta, o que gerou suspeitas de critérios políticos na escolha.

Além disso, os juros concedidos pelo BNDES às empresas eram abaixo do mercado, o que levou a um subsídio que foi arcado pelos impostos e carestia, prejudicando quem, exatamente, deveria ser os beneficiados pelos projetos do banco: o povo brasileiro.

Calote

No fim de 2021, o então presidente do BNDES, Gustavo Montezano, confirmou que países da América Latina, alguns dados como ditaduras, receberam financiamento com dinheiro público brasileiro e se encontram inadimplentes em um montante de cerca de US$ 1,5 bilhão. A declaração de Montezano evidencia a magnitude do crime cometido durante os governos dos ex-presidentes petistas sob o comando de Lula e Dilma Rousseff, que usaram o banco de fomento nacional para financiar obras em nações como Cuba, Venezuela e Moçambique, sem garantias e em esquemas escandalosos de desvio e corrupção.

As “obras”

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tem suas atividades supervisionadas diretamente pelo Ministério da Economia, além de ter o Governo Federal como regulador de suas atividades através do Ministério da Fazenda. Nesse sentido, seus gastos comumente costumam ser motivo de polêmica.

No mandato presidencial de Jair Bolsonaro (PL), a instituição esteve na mira do governo, que prometeu abrir a “caixa-preta” da instituição para divulgar gastos “comprometedores”. Inclusive, foi instaurada uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar os contratos internacionais realizados entre 2003 e 2015. O relatório final afirma ter existido desvio de bilhões de reais dos cofres do banco para beneficiar empresas brasileiras.

Algumas obras financiadas em outros países pelo BNDES:

1) Porto de Mariel (Cuba) – Valor da obra – US$ 957 milhões (US$ 682 milhões por parte do BNDES)
Empresa responsável – Odebrecht

2) Hidrelétrica de San Francisco (Equador) – Valor da obra – US$ 243 milhões
Empresa responsável – Odebrecht

Após a conclusão da obra, o governo equatoriano questionou a empresa brasileira sobre defeitos apresentados pela planta. A Odebrecht foi expulsa do Equador e o presidente equatoriano ameaçou dar calote no BNDES.

3) Hidrelétrica Manduriacu (Equador) – Valor da obra – US$ 124,8 milhões (US$ 90 milhões por parte do BNDES)

Empresa responsável – Odebrecht

Após 3 anos, os dois países ‘reatam relações’, e apesar da ameaça de calote, o Brasil concede novo empréstimo ao Equador.

4) Hidroelétrica de Chaglla (Peru) – Valor da obra – US$ 1,2 bilhões (US$ 320 milhões por parte do BNDES)

Empresa responsável – Odebrecht

5) Metrô Cidade do Panamá (Panamá) – Valor da obra – US$ 1 bilhão

Empresa responsável – Odebrecht

6) Autopista Madden-Colón (Panamá) – Valor da obra – US$ 152,8 milhões

Empresa responsável – Odebrecht

7) Aqueduto de Chaco (Argentina) – Valor da obra – US$ 180 milhões do BNDES

Empresa responsável – OAS

8) Soterramento do Ferrocarril Sarmiento (Argentina) – Valor – US$ 1,5 bilhões do BNDES

Empresa responsável – Odebrecht

9) Linhas 3 e 4 do Metrô de Caracas (Venezuela) – Valor da obra – US$ 732 milhões

Empresa responsável – Odebrecht

10) Segunda ponte sobre o rio Orinoco (Venezuela) – Valor da obra – US$ 1,2 bilhões (US$ 300 milhões por parte do BNDES)

Empresa responsável – Odebrecht

11) Barragem de Moamba Major (Moçambique) – Valor da obra – US$ 460 milhões (US$ 350 milhões por parte do BNDES)

Empresa responsável – Andrade Gutierrez

12) Aeroporto de Nacala (Moçambique) – Valor da obra – US$ 200 milhões ($125 milhões por parte do BNDES)

Empresa responsável – Odebrecht

13) BRT da capital Maputo (Moçambique) – Valor da obra – US$ 220 milhões (US$ 180 milhões por parte do BNDES)

Empresa responsável – Odebrecht

14) Hidrelétrica de Tumarín (Nicarágua) – Valor da obra – US$ 1,1 bilhão (US$ 343 milhões)

Empresa responsável – Queiroz Galvão

*A Eletrobrás participa do consórcio que irá gerir a hidroelétrica

15) Projeto Hacia el Norte – Rurrenabaque-El-Chorro (Bolívia) – Valor da obra – US$ 199 milhões

Empresa responsável – Queiroz Galvão

16) Exportação de 127 ônibus (Colômbia) – Valor – US$ 26,8 milhões

Empresa responsável – San Marino

17) Exportação de 20 aviões (Argentina) – Valor – US$ 595 milhões

Empresa responsável – Embraer

18) Abastecimento de água da capital peruana – Projeto Bayovar (Peru) – Valor – Não informado

Empresa responsável – Andrade Gutierrez

19) Renovação da rede de gasodutos em Montevideo (Uruguai) – Valor – Não informado

Empresa responsável – OAS

20) Via Expressa Luanda/Kifangondo – Valor – Não informado

IoP


Fontes:

Exportações de milho em Mato Grosso aumentam 61%, impulsionadas pela China

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Foto: Daniela Paola Alchapar/Unsplash

O Mato Grosso tem impulsionado suas exportações de milho no primeiro bimestre deste ano. Com um aumento de 61,06% em relação ao mesmo período do ano passado, o estado embarcou 3,78 milhões de toneladas do cereal. Esse crescimento é resultado da demanda global por alimentos e da falta de oferta de grandes players do mercado, como a China, que representou 27,91% do milho exportado.

De acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) divulgados pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), no seu boletim semanal do milho desta segunda-feira (13), o volume de milho embarcado por Mato Grosso representa 44,7% do total de 8,45 milhões de toneladas enviados pelo Brasil para o mercado externo.

China lidera embarques de milho

A China foi o principal destino do milho mato-grossense no primeiro bimestre deste ano, representando 27,91% das exportações. Em relação aos demais países, o Imea destaca que “apesar de ter iniciado recentemente as compras do milho mato-grossense, o país asiático foi responsável por 1,05 milhão de toneladas do total escoado de MT”.

Perspectivas para o mercado de milho

O Imea acredita que a demanda pelo milho deve continuar em alta, devido a fatores como a incerteza quanto à extensão do acordo entre a Rússia e a Ucrânia para a retomada das exportações de grãos ucranianos, a quebra de safra na Argentina, a redução nas perspectivas de escoamento dos Estados Unidos e a demanda crescente dos principais países importadores de milho.

O Brasil é um dos maiores produtores de milho do mundo, ocupando atualmente a terceira posição, atrás apenas dos Estados Unidos e da China. O país tem grande importância no mercado global de milho, sendo um dos principais exportadores desse cereal. Além disso, a produção de milho é de extrema importância para a economia brasileira, contribuindo significativamente para o PIB agrícola e para a geração de empregos no setor.

IoP

Em uma economia de livre mercado, nenhum lucro é “excessivo” – por definição

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Foto: Ryunosuke Kikuno/Unsplash

Durante a maior parte da história humana, os indivíduos tinham muito pouco controle sobre sua própria riqueza. Tribos violentas e beligerantes rotineiramente saqueavam vilarejos, e reis e imperadores poderosos podiam confiscar a propriedade das pessoas de acordo apenas com seus caprichos.

Se você trabalhasse duro e conseguisse acumular alguma riqueza, não havia nenhuma garantia de que você poderia manter essa riqueza para si. Consequentemente, a maioria das pessoas se contentava em viver de maneira extremamente discreta e levando uma vida de grandes privações, tudo para não atrair muita atenção.

Mas algo de importante aconteceu no século XVII: os direitos de propriedade começaram a ser reconhecidos e estabelecidos. Em seu livro Dois Tratados sobre o Governo (1689), John Locke escreveu:

“Cada homem tem uma propriedade em sua própria pessoa; a essa propriedade ninguém mais tem direito nenhum senão ele. Podemos dizer que o trabalho de seu corpo e de suas mãos é devidamente dele.”

Isso deu início a uma grande alteração na sociedade, permitindo às pessoas manterem a renda do seu trabalho. Também significou que sua posição na sociedade (classe, casta etc.) não mais era determinada em seu nascimento. Com muito trabalho e visão de mundo, você poderia crescer e enriquecer, permitindo um padrão de vida melhor para si próprio e para seus filhos.  

Com a ascensão social se tornando possível, a mentalidade empreendedora dos indivíduos foi estimulada. As pessoas passaram a criar novos produtos e serviços para ofertar aos consumidores em troca do lucro. Ao fazerem isso, desejavam enriquecer. A consequência dessa busca pelo lucro — lucro esse possibilitado pela satisfação dos desejos e necessidades dos consumidores — foi o surgimento de várias inovações, as quais melhoraram substantivamente a vida de todos, ricos e pobres.

Em algumas culturas, tornou-se até mesmo mais favorável ser visto como um indivíduo que venceu pelo esforço próprio do que alguém que já nasceu em berço de ouro — um fragoroso contraste em relação à era dos reis e imperadores.

Muito já foi escrito sobre as causas da Revolução Industrial. Mas é certo que uma condição necessária, embora não suficiente, foi o fato de que as pessoas que fizeram fortunas passaram a poder usufruí-las em paz.

Permitir que as pessoas controlassem a própria riqueza não apenas acelerou as inovações, como também atraiu os melhores e mais brilhantes indivíduos para determinados países.

No livre mercado, a propriedade privada dos fatores de produção já é uma função social

É costume ver as inovações radicais que o capitalismo produziu ao substituir os mais primitivos e menos eficientes métodos dos artesãos pelas fábricas mecanizadas. No entanto, esta é uma visão bastante superficial. A feição característica do capitalismo que o distinguiu dos métodos pré-capitalistas de produção era o seu novo princípio de distribuição e comercialização de mercadorias.

Surgiram as fábricas e começou-se a produzir bens baratos para a multidão.  Todas as fábricas primitivas foram concebidas para servir às massas, a mesma camada social que trabalhava nas fábricas. 

Os empregados são eles próprios os consumidores da maior parte de todos os bens produzidos em uma economia. Eles são os consumidores soberanos que “sempre têm razão”. Sua decisão de consumir ou de se abster de consumir determina o que deve ser produzido, em qual quantidade, e com que qualidade. Ao consumirem aquilo que mais lhe convém, eles determinam quais empresas obtêm lucros e quais sofrem prejuízos. 

Aquelas que lucram expandem suas atividades e aquelas que sofrem prejuízos contraem suas atividades.

Desta forma, as massas, na condição de consumidores no mercado, estão continuamente retirando o controle dos fatores de produção das mãos dos empreendedores menos capazes e transferindo-o para as mãos daqueles empreendedores que são mais bem sucedidos em satisfazer seus desejos.

Sob o capitalismo, a propriedade privada dos fatores de produção por si só representa uma função social. Os empreendedores, os capitalistas e os proprietários de terras são os mandatários, por assim dizer, dos consumidores, e seus mandatos são plenamente revogáveis. Em um mercado livre e desimpedido, no qual não há regulamentações, subsídios ou protecionismos estatais, para um indivíduo ser rico, não basta ele ter poupado e acumulado capital. É necessário que ele invista, contínua e repetidamente, naquelas linhas de produção que melhor atendam aos desejos dos consumidores. 

O processo de mercado torna-se um plebiscito que é repetido diariamente, e que inevitavelmente expulsa da categoria dos eficazes e rentáveis aquelas pessoas que não empregam sua propriedade de acordo com as ordens dadas pelo público.  Consequentemente, em um mercado livre de protecionismos e privilégios concedidos pelo governo, as grandes empresas — sempre o alvo do ódio fanático de todos os governantes e de pretensos intelectuais — adquirem e mantêm seu tamanho unicamente pelo fato de elas atenderem aos desejos das massas.

As indústrias voltadas para satisfazer os luxos de poucos jamais adquirem um tamanho significativo.

Como ocorrem os lucros e os prejuízos

Em um sistema capitalista de organização econômica, os empreendedores determinam como serão os processos de produção. Porém, nesta tarefa, caso haja livre concorrência e uma genuína liberdade de entrada no mercado, eles sempre estarão total e incondicionalmente sujeitos à soberania do público consumidor

Aqueles empreendedores que se mostrarem incapazes de produzir — da melhor e mais barata maneira possível — os bens e serviços que os consumidores estão demandando com mais urgência, sofrerão prejuízos e serão, em última instância, eliminados de sua posição empreendedorial. Outros empreendedores que tenham maior capacidade administrativa e que saibam melhor como servir aos consumidores substituirão estes que falharam.

O que possibilita o surgimento do lucro é a ação empreendedorial em um ambiente de incerteza. Um empreendedor, por natureza, tem de estar sempre estimando quais serão os preços futuros dos bens e serviços por ele produzidos. Ao estimar os preços futuros, ele irá analisar os preços atuais dos fatores de produção necessários para produzir estes bens e serviços futuros. Caso ele avalie que os preços dos fatores de produção estão baixos em relação aos possíveis preços futuros de seus bens e serviços produzidos, ele irá adquirir estes fatores de produção. Caso sua estimação se revele correta, ele auferirá lucros.

Portanto, o que permite o surgimento do lucro é o fato de que aquele empreendedor que estima quais serão os preços futuros de alguns bens e serviços de maneira mais acurada que seus concorrentes irá comprar fatores de produção a preços que, do ponto de vista do estado futuro do mercado, estão hoje muito baixos. Consequentemente, os custos totais de produção — incluindo os juros pagos sobre o capital investido — serão menores que a receita total que o empreendedor irá receber pelo seu produto final. 

Esta diferença é o lucro empreendedorial.

Por outro lado, o empreendedor que estimar erroneamente os preços futuros dos bens e serviços irá comprar fatores de produção a preços que, do ponto de vista do estado futuro do mercado, estão hoje muito altos.  Seu custo total de produção excederá a receita total que ele irá receber pelo seu produto final.  Esta diferença é o prejuízo empreendedorial.

Assim, lucros e prejuízos são gerados pelo sucesso ou pelo fracasso de se ajustar as atividades produtivas de acordo com as mais urgentes demandas dos consumidores.  Tão logo este ajuste correto seja alcançado, lucros e prejuízos desaparecem. Os preços dos fatores de produção chegam a um nível em que os custos totais de produção coincidem com o preço do produto final. 

Lucros e prejuízos são fenômenos que só existem constantemente porque a economia está sempre em contínua mudança, o que faz com que recorrentemente surjam novas discrepâncias entre os preços dos fatores de produção e os preços dos bens e produtos por eles produzidos, e consequentemente haja a necessidade de novos ajustes.

Não há isso de “lucros excessivos”

Lucros nunca são um fenômeno normal e corriqueiro. Eles surgem onde há uma discrepância entre o uso atual dos fatores de produção e o uso possível destes fatores de modo a fazer com que o material e os recursos mentais disponíveis satisfaçam da melhor maneira possível os desejos do público. 

Lucros são a recompensa para aqueles empreendedores que descobrem esta discrepância; e eles desaparecem tão logo a discrepância seja totalmente removida. 

Quanto maior forem as discrepâncias antecedentes, maiores serão os lucros auferidos pela sua remoção. As discrepâncias podem muitas vezes ser consideradas excessivas.  Mas é inapropriado aplicar o epíteto “excessivo” aos lucros.

As pessoas dizem que há ‘lucros excessivos’ quando analisam os lucros auferidos pelo capital empregado no empreendimento, e mensuram o lucro como porcentagem deste capital. Porém, o que cria lucros e prejuízos não é o capital empregado. Ao contrário do que pensava Marx, o capital não “gera lucro”. Bens de capital são objetos sem vida que, por si sós, não realizam nada. Se eles forem utilizados de acordo com uma boa ideia, haverá lucros. Se eles forem utilizados de acordo com uma ideia equivocada, haverá prejuízos ou, na melhor das hipóteses, não haverá lucros. 

É a decisão empreendedorial o que cria tanto lucros quanto prejuízos. É dos atos mentais, da mente do empreendedor, que os lucros se originam, essencialmente. O lucro é um produto da mente, do sucesso de se saber antecipar o estado futuro do mercado. É um fenômeno espiritual e intelectual.

Condenar qualquer lucro como sendo ‘excessivo’ pode levar a situações tão absurdas quanto aplaudir uma empresa que, outrora muito lucrativa, passou a desperdiçar capital e a produzir ineficientemente a custos mais altos. Esta redução na eficiência e, consequentemente, nos lucros logrou apenas fazer com que os cidadãos fossem privados de todas as vantagens que poderiam usufruir caso os bens de capital desperdiçados por esta empresa fossem disponibilizados para a produção de outros produtos.

Ao repreender alguns lucros como sendo ‘excessivos’ e consequentemente penalizar empreendedores eficientes com uma elevação de impostos para “compensar” os altos lucros, a sociedade está prejudicando a si própria. Tributar lucros é o equivalente a tributar quem se mostrou bem-sucedido em servir ao público

O único objetivo de toda e qualquer atividade produtiva é empregar o menor número possível de fatores de produção de tal modo que eles produzam a maior quantidade possível de bens. Quanto menor a quantidade de insumos necessária para a produção de um bem, maior será a quantidade de fatores de produção — escassos por natureza — disponível para ser empregada na manufatura de outros bens. No entanto, e ironicamente, quanto mais um empreendedor se mostra bem-sucedido nesta difícil tarefa, mais ele é difamado e mais a sociedade exige que ele seja tributado mais rigorosamente. 

Aumentar os custos por unidade produzida — ou seja, aumentar o desperdício — passou a ser exaltado como uma virtude.

A mais espantosa manifestação desta total incapacidade de compreender o objetivo da produção e a natureza e a função dos lucros e prejuízos pode ser vista na popular superstição de que o lucro é apenas um valor adicionado aos custos de produção (fenômeno conhecido como markup), com seu valor dependendo exclusivamente do arbítrio do vendedor.  É exatamente esta crença que está por trás de todos os programas estatais de controle de preços ou de especificação de margens de lucros.

Todas as pessoas, empreendedoras e não-empreendedoras, olham com desconfiança para qualquer lucro auferido por terceiros. A inveja é um defeito e uma fraqueza comum aos homens. As pessoas são avessas a aceitar o fato de que elas próprias poderiam ter auferido estes lucros caso houvessem demonstrado a mesma iniciativa, a mesma presciência e o mesmo julgamento dos empreendedores bem-sucedidos. Seu ressentimento é tanto mais violento quanto mais elas estão subconscientemente cientes deste fato.

Não existiriam lucros se não houvesse um ímpeto do público em adquirir os bens e serviços oferecidos pelo empreendedor bem-sucedido. Porém, as mesmas pessoas que se esforçam para adquirir estes bens e serviços são aquelas que vilipendiam os empreendedores e dizem que seus lucros são abusivos e imerecidos.

A opinião pública tolera os lucros apenas se eles não excederem o salário pago a um empregado. Todo o excedente é caluniado como sendo injusto. O objetivo da tributação é, de acordo com o princípio de ‘tributar quem ganha mais’, exatamente o de confiscar este excedente. Não levam em conta que, sem lucros, não há investimentos futuros, não há expansão dos negócios e não há contração de mais mão-de-obra, o que levará a uma escassez de bens e serviços e, no final, a uma redução do padrão de vida de todos.

Uma das principais funções dos lucros é direcionar o controle do capital para aqueles que sabem como empregá-lo da melhor maneira possível para satisfazer o público.  Empreendedores que sofrem seguidos prejuízos vão à falência e, consequentemente, liberam capital e recursos para serem utilizados por empreendedores mais bem sucedidos. Já empreendedores que obtêm seguidos lucros se tornam mais capazes de obter capital e recursos de empreendedores menos eficientes, que estão desperdiçando estes recursos escassos.

Lucros e prejuízos são os instrumentos por meio dos quais os consumidores passam o controle das atividades produtivas para as mãos daqueles mais capacitados para servi-los. Qualquer medida que seja tomada para se restringir ou confiscar os lucros irá debilitar esta função de mercado que eles exercem. 

A máquina econômica se tornará, do ponto de vista do público consumidor, menos eficiente e menos ágil em suas respostas.

O invejoso homem mediano imagina que os lucros dos empreendedores são totalmente gastos em consumo próprio, de maneira hedonista. Uma parte, de fato, é consumida. Porém, só irão alcançar riqueza e influência no âmbito dos negócios aqueles empreendedores que consumirem apenas uma fração de suas receitas e reinvestirem a grande fatia restante em suas empresas.  O que faz com que pequenas empresas se tornem grandes não é o seu gasto, mas sim sua poupança e sua acumulação de capital.

Conclusão

Em um cenário de livre concorrência, a riqueza de empreendedores bem-sucedidos significa que os consumidores estão mais bem servidos do que estariam na ausência dos esforços empreendedoriais destas pessoas. O padrão de vida do cidadão comum é maior justamente naqueles países que possuem o maior número de empreendedores ricos. 

Países que possuem poucos empreendedores ricos possuem um maior número de miseráveis. É do total interesse material de todas as pessoas que o controle dos meios de produção esteja concentrado nas mãos daqueles indivíduos que sabem como utilizá-los da maneira mais eficiente possível.

Se a atual política de perseguir e confiscar a riqueza dos milionários houvesse sido implementada no início do século XX, tanto o crescimento das indústrias quanto a produção de bens de consumo de todos os tipos não teria ocorrido. Automóveis, aviões, geladeiras, telefones, rádios, televisores, aparelhos elétricos e eletrônicos, eletrodomésticos e centenas de outras inovações menos espetaculares mas ainda mais úteis não teriam se tornado corriqueiros no mundo atual.

O assalariado médio, o operário comum, acredita que para manter funcionando a atual estrutura de produção, para aprimorar e aumentar a produção, não é necessário mais do que a comparativamente simples rotina de trabalho atribuída a ele. Ele não percebe que o mero trabalho exaustivo e rotineiro não é o suficiente. Sua diligência e habilidade seriam qualidades totalmente vãs caso não houvesse um empreendedor presciente para direcioná-las para o seu mais importante objetivo e caso não houvesse capital acumulado pelos capitalistas para auxiliar nesta tarefa.

A pior ameaça para a prosperidade, para a civilização e para o bem-estar material dos assalariados é justamente a incapacidade de líderes sindicais, de sindicalistas em geral e das camadas menos inteligentes dos próprios trabalhadores de entender e apreciar o papel dos empreendedores e capitalistas na produção.


Ludwig von Mises foi o reconhecido líder da Escola Austríaca, um prodigioso originador na teoria econômica e um autor prolífico. Os escritos e palestras de Mises abarcavam teoria econômica, história, epistemologia, governo e filosofia política.

Fontes: Mises Brasil