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Petrobras registra em 2020 melhor desempenho operacional desde 2015

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Foto: Stéferson Faria/Agência Petrobras

Petrobras teve seu melhor desempenho operacional em 2020, com recordes de produção anual, com 2,28 milhões de barris diários (MMbpb) de petróleo e LGN (líquido de gás natural) e 2,84 milhões de barris de óleo equivalente por dia (MMboed) de produção total, informou hoje (2) a estatal. Os recordes anteriores foram obtidos em 2015: 2,23 MMbpd e 2,79 MMboed, respectivamente.

O desempenho foi obtido durante a pandemia e em um ano em que houve contração da demanda global por combustíveis e preços baixos do petróleo no mercado internacional.

A dimensão qualitativa da produção, considerada elemento extremamente importante para a geração de valor, também aumentou. A produção dos campos do pré-sal no ano passado alcançou 1,86 MMboed, com participação de 66% na produção total, contra 24% em 2015. Segundo a Petrobras, isso significa menores custos operacionais e petróleo de melhor qualidade. 

A produção média de óleo, LGN e gás natural realizada em 2020 está alinhada à meta de produção revisada e divulgada no Relatório de Produção e Vendas do terceiro trimestre (2,84 MMboed), superando em 5% a meta prevista originalmente de 2,7 MMboed.

No quarto trimestre do ano passado, a produção média de óleo, LGN e gás natural foi de 2,68 MMboed, ficando 9,1% abaixo do trimestre anterior, em função da retomada de grande parte das paradas programadas que não puderam ser efetuadas nos segundo e terceiro trimestres.

Destaques

Na avaliação da Petrobras, alguns pontos foram fundamentais para o desempenho da empresa em 2020. Entre eles, a maior produção das plataformas P-74, P-75, P-76 e P-77, no campo de Búzios, em função da ampliação da capacidade de processamento de óleo e gás das unidades, por meio da utilização de folgas temporárias de geração de energia e compressão de gás disponíveis, além do alto potencial de produção dos poços e do reservatório.

Destacam-se também o menor número de intervenções em relação ao previsto para combate à corrosão por CO2 nos dutos submarinos de injeção de gás, por meio do desenvolvimento de novas ferramentas e tecnologias de inspeção; o menor declínio de produção em relação ao previsto nos campos de Tupi e Sapinhoá, como resultado do melhor desempenho dos reservatórios; e a maior eficiência de produção e otimização de paradas de produção nas plataformas, apesar do cenário de restrições operacionais decorrente dos impactos provocados pela pandemia.

Exportação

O foco na melhoria de gestão de estoques permitiu a redução de estoques da companhia em 8 milhões de barris de petróleo, em 2020. A Petrobras afirmou também que o foco na alocação eficiente de recursos, incluindo fechamento de escritórios fora do Brasil, resultou em recordes de exportação de petróleo e óleo combustível, o que compensou a contração da demanda doméstica por combustíveis, em especial no segundo trimestre de 2020.

As exportações de petróleo permitiram geração de caixa em um momento crítico, causado pela pandemia, além de evitar perdas de produção. No ápice da crise, em abril, foram exportados 1 milhão de barris por dia. De acordo com a Petrobras, o desempenho positivo do petróleo de Búzios, principal óleo da cesta de exportação, resultou na inclusão de 14 novos clientes ao longo de 2020.

Derivados

As vendas de derivados se mantiveram em patamar similar ao de 2019, permitindo o fator de utilização (FUT) do parque de refino no mesmo nível do ano anterior, a despeito da sua significativa redução no segundo trimestre. A companhia explicou que isso ocorreu graças ao aumento das exportações, destacando o óleo combustível de baixo teor de enxofre (com recorde anual de 194 Mbpd em 2020), “associado às novas ações comerciais implementadas em 2020, como os leilões de diesel e gasolina”.

Em 2020, a produção de derivados cresceu 2,8%. A produção de diesel S-10, com baixo teor de enxofre, tem alcançado recordes desde julho, como reflexo de ações comerciais implementadas pela companhia para ampliar a oferta desse produto em substituição ao S-500. A produção total de diesel S-10 em 2020 foi recorde anual, atingindo patamar de 121 milhões de barris. O objetivo da Petrobras é lançar produtos mais limpos para a preservação do meio ambiente, informou a empresa.

No segmento de gás e energia, a geração de energia em 2020 foi de 1.756 megawatts (MW) médios, mostrando queda de 13% em relação a 2019, em decorrência do menor consumo provocado pela queda na atividade econômica, como efeito da pandemia. No quarto trimestre, entretanto, a geração de energia aumentou 315,4% em relação ao trimestre anterior, como reflexo da escassez de chuvas, o que implicou em forte aumento na demanda por gás natural para substituição da geração de energia hidrelétrica.

Agência Brasil

Os gastos do governo são o grande inimigo do crescimento econômico

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Ilustração: Eric Perlin/Pixabay

Imagine que você tenha um primo que mora muito longe, a uns 2 mil quilômetros de distância. No entanto, por algum motivo, ele consegue se apropriar de 40% de sua renda mensal. Consequentemente, ele é o responsável por 40% dos gastos totais de sua família.

Vivendo tão longe, e com tão pouco interesse em melhorar sua qualidade de vida, os resultados esperáveis de tal esquema são fáceis de serem previstos. Sua família não apenas terá problemas para se manter, como também estará bastante desmotivada para produzir, pois sabe que terá de sustentar esse primo folgado que vive às suas custas.

Substitua ‘primo’ por ‘estado’ no relato acima e o raciocínio se mantém.

O governo toma dinheiro do setor produtivo e gasta com o suposto intuito de gerar bens públicos. Do ponto de vista keynesiano, este sistema é benéfico para a economia, pois, segundo tal escola de pensamento econômico, o gasto do governo estimula a demanda e isso gera crescimento econômico por meio do famoso “multiplicador keynesiano“.

Mas não apenas a teoria do multiplicador keynesiano é falsa (clique aqui para entender por quê), como também a realidade é mais parecida com a do nosso primo.

Para começar, a diferença de um governo para uma família é que suas receitas são auferidas de maneira coercitiva, sendo confiscada de todos aqueles trabalhadores assalariados e empreendedores que atuam no setor produtivo da economia. 

Neste sentido, um aumento dos gastos do governo significa, de maneira muito simples, que o governo ou aumentará os impostos para fazer frente a esses novos gastos ou irá se endividar ainda mais — o que significa que, dado que o governo está tomando mais crédito, sobrará menos crédito disponível para financiar empreendimentos produtivos. 

Há uma terceira hipótese, que seria a simples criação de dinheiro pelo Banco Central para financiar diretamente o governo. Sempre que essa medida foi utilizada — como no Brasil da década de 1980 —, o resultado foi a hiperinflação.

Portanto, tendo em mente que o governo só pode gastar aquilo que ele antes confiscou de alguém, a ideia de que gastos do governo estimulam a “demanda agregada” e geram crescimento econômico equivale a dizer que tomar dinheiro de uns para gastar com outros pode enriquecer a todos. Para se utilizar uma metáfora, tal ideia significa dizer que tirar água da parte funda da piscina e jogá-la na parte rasa fará o nível geral de água na piscina aumentar.

Consequentemente, os gastos do governo não apenas não podem “estimular a demanda”, como também geram uma maior carga tributária, um maior endividamento do governo e uma maior inflação.

E dado que os gastos do governo são financiados via impostos e endividamento do governo, eles desestimulam a poupança, a produção e o investimento.

Mas piora: o gasto do governo é inevitavelmente de má qualidade. Há três problemas incontornáveis em relação aos gastos do governo, os quais impedem que ele possa ter efeitos benéficos.

Problemas de incentivos

A relação negativa entre gasto público e crescimento econômico (comprovada empiricamente) tem várias explicações. A primeira é que o governo enfrenta o inevitável problema dos incentivos.

Como explicava de maneira bem simples Milton Friedman, existem quatro maneiras de gastar dinheiro.

1) Gastar o seu dinheiro com você mesmo: neste caso, você procurará o menor custo e a máxima qualidade.

2) Gastar o seu dinheiro com os outros: você almejará o menor custo e a mínima qualidade.

3) Gastar o dinheiro dos outros com você: o maior custo e a máxima qualidade serão seu objetivo.

4) Gastar o dinheiro dos outros com os outros: você não terá nenhum preocupação com custo e qualidade.

Para Friedman, a maneira mais eficiente de gasto é a primeira. Ali, você se preocupa com o custo do que compra e também com a qualidade. Já a última maneira, por sua vez, é a menos eficiente de todas. O comprador não se preocupa com os recursos, pois não são dele, e também não se preocupa com a qualidade do que é comprado, pois o receptor também não será ele. O resultado será uma compra cara e de má qualidade.

Quando o governo gasta, ele utiliza uma combinação das maneiras 3 e 4, gerando ineficiência na economia. O governo gasta o dinheiro alheio (dos impostos) com os outros (funcionalismo público, subsídios para grandes empresários amigos do regime, obras públicas feitas por empreiteiras ligadas a políticos, artistas e eventos culturais etc.) e consigo próprio (salários, benefícios e mordomias para políticos; ministérios, agências reguladoras, secretarias e estatais; campanhas eleitorais; contratação de apadrinhados; propagandas etc.).

Nenhum desses gastos está ligado à maximização do bem-estar social.

Outra consequência não-premeditada dos gastos do governo são os incentivos adversos que ele gera. De acordo com uma recente publicação do britânico Institute of Economic Affairs:

Os gastos do governo em consumo tendem a diminuir o crescimento. O gasto em programas sociais mal desenhados pode ser especialmente nefasto, uma vez que reduz os incentivos ao trabalho e à produção.

O governo simplesmente não possui os incentivos corretos para gastar de maneira eficaz. E muito menos pode gastar de modo a maximizar o crescimento econômico. Ademais, seu gasto distorce os incentivos da sociedade, reduzindo-os.

Problemas de informação

Um segundo problema é a questão da informação. A maneira como o setor privado utiliza as informações de mercado disponíveis é diferente da maneira como o setor estatal as utiliza.

O setor privado é guiado pelo sistema de preços, o qual permite todo o cálculo econômico. Os preços informam o que está sendo demandado pelos consumidores, quais produtos estão em falta, quais estão em excesso, e permitem o cálculo dos lucros e prejuízos.

Acima de tudo, os preços ajudam os empreendedores a alocar recursos escassos de maneira eficiente. Se o preço de algo está demasiado alto, isso significa que os consumidores estão necessitando de uma maior quantidade deste bem, o que estimula os empreendedores a aumentarem a produção. Sob este arranjo, produz-se aquilo que gera benefício econômico, e este benefício decorre da melhor satisfação das necessidades dos consumidores.

Já o setor público não tem como produzir seguindo este critério do benefício econômico. Com efeito, se algum empreendimento estatal gera perdas financeiras, isso é prontamente justificado pela tese de que o governo busca “objetivos sociais”. Os gastos do governo até podem almejar objetivos amorfos, como solidariedade e igualdade, mas o fato é que eles são ineficientes do ponto de vista econômico e, consequentemente, reduzem o crescimento.

Por exemplo, dado que o governo não se guia pelo sistema de preços e nem pelo critério de lucros e prejuízos — pois o dinheiro vem de impostos ou é tomado emprestado (sendo que essa dívida também será paga com impostos) —, é provável que ele construa uma ponte que ligue o nada a lugar nenhum, e faça tal obra utilizando materiais caros e pagando preços superfaturados (os fornecedores, por saberem que o governo não tem preocupação com custos, irão cobrar o máximo possível por seus materiais).

Neste caso, é óbvio que estes mesmos recursos poderiam ter sido mais bem utilizados pelo setor privado, o qual tem de se preocupar com custos e com o sistema de lucros e prejuízos.

Por causa deste problema de informação enfrentado pelo governo, seu gasto é menos eficiente e faz uma pior alocação dos recursos escassos da sociedade. Aquilo que é utilizado em um setor será necessariamente retirado de outro setor. Se os gastos do governo concentraram recursos em um setor, então outros setores ficaram sem estes mesmos recursos.

A consequência será um menor crescimento econômico. Não há crescimento econômico genuíno se os gastos são ineficientes e não se preocupam com o sistema de lucros e prejuízos.

(Para entender com mais detalhes por que até mesmo obras públicas subtraem riqueza da população, veja este artigo).

Mais gasto é mais imposto

Este é o mais óbvio, mas é também amplamente ignorado.

Maior gasto público significa, a curto ou longo prazo, maior carga tributária. Tudo o que o governo gasta foi antes retirado da sociedade. O dinheiro do gasto, como já dito no início, é oriundo ou de impostos ou de endividamento. Quando é oriundo de impostos, o confisco é direto. Pessoas e empresas ficam com menos dinheiro para que o governo tenha mais. Já quando o dinheiro é oriundo de endividamento, isso significa que, em algum momento futuro, o dinheiro de impostos será utilizado para pagar o serviço desta dívida.

E isso gera maiores incertezas: se o governo está se endividando continuamente para gastar, então essa dívida terá de ser futuramente quitada com mais impostos. Essa mera possibilidade de aumentos de impostos futuros já serve para inibir investimentos produtivos. Como investir quando não se sabe como serão os impostos no futuro?

Portanto, os impostos são a contra-partida dos gastos do governo, e seus efeitos sobre os incentivos a poupar, a investir produtivamente, a abrir empresas e a produzir são deletérios.

Os impostos são como uma mochila pesada nas costas dos reais criadores de riqueza da sociedade, e aumentá-los em decorrência de um maior gasto público é a receita garantida para que a economia fique estagnada.

Conclusão

O gasto público é o inimigo do crescimento econômico. E tanto argumentos teóricos quanto empíricos sustentam esta afirmação. Para que uma economia se reative, o governo tem de seriamente considerar reduzir seus gastos.

O melhor e mais recente exemplo é a Irlanda, que, de 2010 a 2015, reduziu os gastos do governo de incríveis 65% do PIB para “apenas” 29,5% do PIB. Como consequência, isso fez os investimentos dispararem, e o crescimento econômico foi junto: nada menos que 13,4% em dois anos.

Iván Carrino é analista econômico da Fundación Libertad y Progreso na Argentina e possui mestrado em Economia Austriaca pela Universidad Rey Juan Carlos, de Madri.

Mises Brasil

Leilão do 5G prevê criação de rede privativa para o governo federal

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Foto: Thomas Millot/Unsplash

O Ministério das Comunicações (MCom) estabeleceu as diretrizes para o edital do leilão das frequências do 5G, a quinta geração de comunicação móvel. Uma das determinações é a criação de uma rede privativa, de alta segurança e criptografada, para a comunicação entre os órgãos da administração pública federal.

A portaria foi publicada ontem (29) em edição extra do Diário Oficial da União e deve ser seguida pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), que coordenará o processo. A previsão é de que o leilão aconteça ainda no primeiro semestre deste ano.

A rede privativa, chamada de Rede Segura, deverá chegar a todo o território nacional com infraestrutura de cabos de fibra ótica, complementar à rede de governo existente, e através de uma rede móvel no Distrito Federal. Nesse último caso, algumas faixas de frequência deverão atender as atividades de segurança pública, defesa, serviços de socorro e emergência, resposta a desastres e outras atribuições críticas de Estado, incluindo as realizadas por entes federados, bem como para atendimento aos órgãos públicos federais.

“Para que isso ocorra, a portaria elenca regras mais rígidas que limitam o perfil dos equipamentos que irão compor a rede privativa. A ideia é promover mais segurança para o tráfego de dados e de informações estratégicas do governo. As empresas que fornecerão equipamentos para essa rede precisam ter padrão de transparência e governança corporativa compatíveis com os exigidos no mercado acionário brasileiro”, explicou o MCom, em comunicado.

Critérios

Além disso, a portaria determina que cidades, vilas, áreas urbanas isoladas e aglomerados rurais com população superior a 600 habitantes, ainda desassistidos de internet, serão atendidos com banda larga móvel em tecnologia 4G ou superior. De acordo com o MCom, a medida deve beneficiar cerca de 18 mil localidades e atender a mais de 8,8 milhões de brasileiros.

A portaria regulamenta ainda que todas as rodovias federais devam receber, de forma obrigatória, o sinal 4G ou superior. Além disso, prioriza as BR-163, BR-364, BR-242, BR-135, BR-101, BR-116. “Ao todo, são mais de 48 mil quilômetros de estradas que ainda não possuem nenhuma cobertura móvel”, diz o comunicado.

Além das medidas para a banda larga móvel, os recursos do leilão deverão custear a implantação de 12 mil quilômetros de cabos de fibra ótica subfluvial. A estrutura será instalada em leitos de rios como o Rio Negro, o Rio Solimões e o Rio Amazonas. O projeto Norte Conectado abrange cerca de 13 mil quilômetros de cabos de fibra óptica, totalizando um investimento de R$ 1,2 bilhão e, segundo o MCom, deve beneficiar mais de 9,5 milhões de pessoas, sendo 1,7 milhões de alunos da rede pública de ensino em todo país.

Entre outras diretrizes, o documento prioriza, ainda, o atendimento de rede por fibra ótica de altíssima velocidade a municípios das regiões Norte e Nordeste do país que ainda não possuem esse tipo de cobertura, bem como municípios que constam nas rotas de integração nacional do Ministério do Desenvolvimento Regional.

As operadoras vencedoras do leilão também deverá oferecer serviço de roaming obrigatório, quando uma linha de celular é ativada fora da área de cobertura e precisa de outra rede, que não a da sua operadora, para ser utilizada.

O edital do leilão deverá definir prazos para a ativação desses serviços nas faixas licitadas. Se não forem cumpridos, elas serão disponibilizadas para outras empresas, com garantias de proteção.

TV aberta

A portaria publicada nesta sexta-feira também define critérios para a proteção dos usuários que recebem sinais de televisão aberta e gratuita por meio de antenas parabólicas na Banda C Satelital. De acordo com o texto, a Anatel deverá estabelecer medidas de melhor eficiência técnica e econômica para solucionar interferências prejudiciais identificadas sobre serviços fixos por satélite em operação na Banda C. Nesse caso, a solução adotada poderá envolver a digitalização e migração dos sinais recebidos pela população para outra faixa de radiofrequência.

Assim, a agência deverá adotar arranjo de frequência que favoreça a convivência harmônica entre os sistemas, o proveito social proporcionado pelos serviços ofertados e o aproveitamento de ganhos de escala visando à inclusão digital. Nesse sentido, caberá à Anatel realizar estudos sobre a disponibilização da Banda C Satelital, total ou parcialmente, para a prestação de serviços de telecomunicações de suporte à banda larga.

Agência Brasil

China dificulta visita de equipe da OMS a Wuhan

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Foto: Martin Sanchez/Unsplash

Uma equipe da Organização Mundial da Saúde (OMS) visitou hoje (29) o hospital onde a China diz que os primeiros pacientes com covid-19 foram tratados, há mais de um ano, na cidade chinesa de Wuhan. A visita faz parte da investigação sobre as origens do novo coronavírus.

Os especialistas da OMS viajaram para a China, procedentes de Cingapura, no dia 14 deste mês, mas desde então observaram duas semanas de quarentena. A missão deve durar mais algumas semanas.

Os técnicos e as autoridades chinesas tiveram as primeiras reuniões presenciais hoje em um hotel.

“Primeiro encontro cara a cara com os nossos colegas. Correção: máscara para máscara, dadas as restrições médicas”, disse a virologista holandesa Marion Koopmans, por meio da rede social Twitter.

Membros da equipe deixaram o hotel de carro e, pouco tempo depois, entraram nos portões do Hospital Provincial de Medicina Integrada Chinesa e Ocidental de Hubei, onde, de acordo com o relato oficial da China, em 27 de dezembro de 2019, o médico Zhang Jixian diagnosticou os primeiros casos do que era então designado como “pneumonia de origem desconhecida”.

Dados detalhados

A OMS disse anteriormente no Twitter que a equipe solicitou “dados detalhados” e planejou falar com alguns dos primeiros pacientes.

Os especialistas também têm procurado visitar locais como o mercado de mariscos de Huanan, ligado a muitos dos primeiros casos, o Instituto de Virologia de Wuhan e laboratórios em instalações como o Centro de Controle de Doenças de Wuhan.

A investigação, que a China levou mais de um ano para autorizar, é extremamente sensível para o regime comunista, cujos órgãos oficiais têm promovido teorias que apontam que o vírus tenha tido origem em outros países.

A visita dos especialistas acontece depois de longas negociações com Pequim, que incluíram uma rara reprimenda por parte da OMS, que afirmou que a China estava demorando muito para fazer os acertos finais da inspeção.

“Todas as hipóteses estão sobre a mesa, enquanto a equipe segue a ciência no seu trabalho para entender as origens da covid-19”, afirmou a OMS.

A investigação da origem do vírus pode levar anos. Determinar o reservatório animal de um surto normalmente requer pesquisa exaustiva, incluindo amostras de animais, análises genéticas e estudos epidemiológicos.

Animais selvagens

Uma possibilidade é que um caçador de animais selvagens tenha passado o vírus para comerciantes que o levaram para Wuhan. O governo chinês promoveu teorias, com poucas evidências, de que o surto pode ter começado com a importação de frutos do mar congelados contaminados com o vírus, uma ideia totalmente rejeitada por cientistas e agências internacionais.

Um possível foco para pesquisadores é o instituto de virologia da cidade, um dos principais laboratórios de pesquisa de vírus da China, que detinha um arquivo de informações genéticas sobre coronavírus em morcegos.

Os membros da equipe da OMS passaram as últimas duas semanas em quarentena obrigatória, período durante o qual se comunicaram com as autoridades chinesas por videoconferência, para estabelecer as bases para as visitas no terreno.

Os primeiros casos de covid-19 foram detectados em Wuhan no final de 2019. Desde então, a China relatou mais de 89 mil casos e 4.600 mortes.

Apesar de alguns surtos recentes, o país conseguiu extinguir a doença em grande parte do território, após ter adotado medidas de prevenção, que incluíram isolar cidades inteiras e confinar parte da população.

Agência Brasil

Novas metas para telecomunicações são publicadas no Diário Oficial

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Foto: Rémy Ajenifuja/Unsplash

As novas metas para o setor de telecomunicações do Plano Geral de Metas de Universalização (PGMU5) foram publicadas hoje (28) no Diário Oficial da União (DOU). O decreto com o plano, aprovado em novembro de 2020 pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), traz as obrigações impostas às concessionárias de telefonia fixa em um período de cinco anos (2021-2025).

Entre as obrigações está a de que as concessionárias de telefonia fixa invistam na implantação de redes de fibra ótica, o chamado backhaul, em 1,5 mil municípios brasileiros que ainda não têm essa estrutura. O backhaul são redes de alta capacidade e velocidade que permitem a conexão de localidades à rede nacional de telecomunicações, as backbone, por onde trafegam os dados de internet.

A meta vale para as operadoras Oi, Telefônica, Claro e Algar. Os custos relacionados com o cumprimento das metas previstas são de competência exclusiva das concessionárias, nos termos estabelecidos nos contratos de concessão.

De acordo com o plano, se a nova meta for cumprida, a estimativa é de que a cobertura de internet por fibra ótica alcance cerca 5.500 cidades, equivalente a 99% dos municípios brasileiros, até 2024.

Com o novo plano, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) precisa agora, em um prazo de três meses, elaborar a lista das cidades que deverão ser contempladas na meta.

O plano diz que a rede de fibra deverá ter capacidade mínima de 10 gigabits por segundo (Gbps) do início ao fim do trecho utilizado para atendimento do respectivo município. A rede deve ter, até 31 de dezembro de 2021, cobertura mínima de até 10% do território.

A instalação de redes de fibra ótica substitui uma meta do PGMU anterior, que previa instalação do 4G em localidades sem essa tecnologia. Apesar de a obrigatoriedade não constar no novo plano, a Secretaria Geral da Presidência informou que essas localidades serão priorizadas para receber esse sinal no edital do leilão para a tecnologia do 5G.

No PGMU anterior, a previsão era de que ao menos 10% desses 1.105 municípios passassem a contar com a rede 4G, mas a meta não foi cumprida e deu lugar à nova meta de estender fibra ótica a novas localidades.

Agência Brasil

Governo institui política para modernizar a administração pública

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Foto: Marcello Casal Jr/AB

O governo federal publicou hoje (27), no Diário Oficial da União (DOU), um decreto instituindo a Política Nacional de Modernização do Estado (Moderniza Brasil) e o Fórum Nacional de Modernização do Estado. Segundo o decreto, a política tem por objetivo direcionar os esforços governamentais para aumentar a eficiência e modernizar a administração pública, a prestação de serviços e o ambiente de negócios para melhor atender às necessidades dos cidadãos.

A atuação se dará por meio da integração de ações de modernização já existentes, com coordenação, articulação, adequação, monitoramento e avaliação das políticas, programas, ações e iniciativas do Poder Executivo Federal, em parcerias da União com estados, Distrito Federal e iniciativa privada.

Entre os princípios da política estão o foco nas necessidades dos cidadãos; a simplificação normativa e administrativa; a confiabilidade na relação Estado-cidadão e a competitividade dos setores público e privado.

Caberá ao Fórum Nacional de Modernização do Estado propor a adoção de modelos e estratégias nacionais ou internacionais que envolvam a temática de modernização do Estado, auxiliar na elaboração de um plano de modernização e traçar as diretrizes para a concessão de um selo de modernização do estado criado com a política.

O fórum será presidido pelo ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República e contará com representantes dos ministérios da Economia; Comunicações; Ciência, Tecnologia e Inovações; da Controladoria-Geral da União; da Secretaria de Governo da Presidência da República, e da Advocacia-Geral da União.

Agência Brasil

Governo é favorável à importação privada de vacinas

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Foto: Daniel Schludi/Unsplash

O presidente Jair Bolsonaro disse hoje (16) que o governo federal apoia a iniciativa de empresários de importar, por conta própria, vacinas contra a covid-19 para imunizar seus funcionários. A afirmação ocorreu durante participação, por videoconferência, em um seminário sobre investimentos na América Latina, realizado pelo banco Credit Suisse.

“O governo federal é favorável a esse grupo de empresários para levar avante sua proposta para trazer vacina para cá, a custo zero, para o governo federal, para imunizar 33 milhões de pessoas. No que puder essa proposta ir à frente, nós estaremos estimulando porque, com 33 milhões de doses de graça, ajudaria e muito a economia e para aqueles que queiram se vacinar o façam para ficar livre do vírus”, disse Bolsonaro.

O presidente explicou que, na semana passada, o governo foi procurado por empresários para que fossem importadas 33 milhões de doses da vacina de Oxford. 

Desse total, metade seria incorporada ao Sistema Único de Saúde (SUS), e disponibilizada à população de acordo com os critérios do Ministério da Saúde, e a outra metade seria utilizada pelas empresas de acordo com critérios próprios. Segundo o presidente, o governo assinou uma carta de intenção favorável à medida.

“Já somos o sexto país que mais vacinou no mundo, brevemente estaremos nos primeiros lugares, para dar mais conforto à população, segurança a todos e de modo que a nossa economia não deixe de funcionar”, disse, destacando que o governo editou medida provisória, no ano passado, destinando R$ 20 bilhões para a compra de vacinas.

Atração de investimentos

Durante seu discurso, Bolsonaro reafirmou o compromisso com o teto de gastos públicos e disse que o governo quer acelerar as privatizações e reformas para incentivar e facilitar o trabalho da iniciativa privada na recuperação da economia, após a crise gerada pela pandemia de covid-19.

“Manteremos firme o compromisso com a regra do teto de despesas como âncora de sustentabilidade e credibilidade econômica. Não vamos deixar que medidas temporárias relacionadas com a crise se tornem compromissos permanentes de despesas. Nosso objetivo é passar da recuperação baseada no apoio ao consumo para um crescimento sustentado pelo dinamismo do setor privado”, disse.

Segundo o presidente, o trabalho desenvolvido pelo governo visa à atração de investimentos estrangeiros diretos, principalmente para projetos prioritários na área de infraestrutura. 

“Pretendemos acelerar os leilões de concessões e privatizações, em especial no âmbito do Programa de Parcerias de Investimentos, o PPI, que tem uma carteira de projetos estratégicos de longo prazo, baixo risco e com taxas de retorno atraentes e estáveis”, frisou.

Mudanças

Além disso, Bolsonaro afirmou que entende os problemas estruturais da indústria brasileira e global e disse que está empenhado em realizar mudanças nesse setor “com pensamento estratégico e redefinição de vínculos das cadeias produtivas globais”.  

A agenda de reformas no Congresso Nacional e a ascensão do Brasil à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) também continuam como prioridades na agenda do governo federal, segundo o presidente.

“Seguiremos defendendo a ampla concorrência, o livre comércio, a modernização do Estado, os valores democráticos e o combate implacável à corrupção. Já estamos vendo reflexos muito positivos e contamos com apoio da iniciativa privada para consolidarmos um novo ciclo de desenvolvimento e prosperidade em nosso país. Contem com nosso empenho para trilhar o caminho da abertura econômica e facilitação dos comércios e investimentos”, disse.

Agência Brasil

Queda na arrecadação foi “resultado excelente”, diz Guedes

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Foto: Wilson Dias/AB

A queda na arrecadação federal em 2020 pode ser considerada um “resultado excelente”, diante das estimativas no início da pandemia de covid-19, disse hoje (25) o ministro da Economia, Paulo Guedes. Ao comentar a arrecadação do ano passado, que caiu 3,75% em termos nominais e 6,91% em valores corrigidos pela inflação, ele reafirmou que os números mostram que a economia está em recuperação.

Em rápido discurso na apresentação dos dados, o ministro lembrou que, em maio, a arrecadação chegou a cair 32% em relação ao mesmo mês do ano anterior, descontada a inflação. De lá para cá, ressaltou Guedes, as receitas do governo iniciaram um processo de recuperação até registrar crescimento de 3,18% na arrecadação de dezembro na comparação com dezembro de 2019.

“A arrecadação é um dos indicadores do ritmo de crescimento da economia brasileira. A economia brasileira voltou em V [forte queda seguida de forte alta]”, declarou o ministro. Guedes acrescentou que a recuperação econômica se expressará de forma mais intensa no emprego formal, dizendo acreditar que o resultado do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), a ser divulgado na quinta-feira (28), mostrará que as perdas de vagas com carteira assinada no início da pandemia foram revertidas.

Diferimento

Sobre o diferimento (adiamento) de cerca de R$ 85 bilhões em tributos concedidos durante a pandemia, o ministro disse que o governo federal recuperou mais de R$ 60 bilhões. Na avaliação de Guedes, essas medidas ajudaram a enfrentar a pandemia e estimularam a recuperação da atividade econômica.

A Receita divulgou estimativa de que faltam R$ 20,8 bilhões para serem recuperados, mas Guedes explicou, sem dar detalhes, que a diferença deverá ficar em torno de R$ 8 bilhões. Esse valor pode ser alcançado com pagamentos que serão feitos em 2021 e com a atualização da previsão de impacto de R$ 85 bilhões, que teriam sido superestimadas pelo Fisco.

Vacinação

O ministro comentou ainda o início da vacinação contra a covid-19. Depois de saudar os profissionais da saúde, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o Instituto Butantan e as Forças Armadas, Guedes disse que a imunização “garante o retorno seguro ao trabalho” e é imprescindível para a retomada da economia.

“Temos dias melhores pela frente. A vacinação em massa é decisiva, fator crítico para bom desempenho da economia”, declarou o ministro. Guedes reafirmou a confiança no governo e disse ser testemunha de que o governo está comprando todas as doses de todas as vacinas autorizadas. “Espero que todos auxiliem esse processo de vacinação em massa, temos logística e capacidade para isso”, disse o ministro.

O ministro falou ainda sobre a reforma tributária. Guedes disse que a agenda foi travada por “interdições”, mas prometeu destravar a pauta logo após o retorno às atividades no Congresso e trabalhar para simplificar e reduzir impostos.

Agência Brasil

Fiocruz negocia mais 15 milhões de doses de vacina da AstraZeneca

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Foto: Vincent Ghilione/Unsplash

A presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Nísia Trindade, disse que a instituição negocia com a AstraZeneca a possibilidade de receber 15 milhões de doses prontas de vacinas para garantir a imunização até que chegue ao Brasil o Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) que vai permitir a produção de vacinas em BioManguinhos, da Fiocruz. 

“Até que esse gap possa ser superado sempre com o objetivo de trazer de forma mais rápida possível a vacina para nossa população e também de começar a produzir o mais rápido possível”, informou em entrevista à imprensa neste sábado (23), logo antes do início da distribuição de 2 milhões de doses de vacina da AstraZeneca pelos estados brasileiros. O imunizante chegou na sexta-feira (22) ao Brasil, vindo da Índia.

De acordo com Nísia Trindade, as medidas estão estabelecidas no contrato de encomenda e tecnologia e também no memorando de acordo geral da AstraZeneca para encomenda e depois de transferência de tecnologia, quando todas as etapas serão feitas em BioManguinhos. “Isso tudo é contratual. Estaremos recebendo inicialmente 15 milhões de doses”, disse, acrescentando que há um aceno da AstraZeneca para antecipar os envios posteriores, que permitiriam completar até de 110 milhões e 400 mil doses da vacina. “Um aceno de que possa antecipar, não agora nesse momento, mas tão logo esse processo da exportação se resolva, antecipar a vinda de meses seguintes”, revelou.

Para a presidente da Fiocruz, a grande preocupação atual da instituição é com a chegada mais célere possível do Ingrediente Farmacêutico Ativo para a produção de vacinas em BioManguinhos da Fiocruz. Segundo Nísia, a perspectiva é de receber o insumo no início de fevereiro, por volta do dia 8, mas não há ainda uma data definida. A presidente disse que o processo passa por muitas etapas na China, além de por questões diplomáticas, e por isso não é possível saber quanto tempo vai levar para ser concluído.

Ainda na entrevista do sábado, o diretor de BioManguinhos, Maurício Zuma, informou que pelo contrato, a Fiocruz vai receber por mês insumos referentes a 15 milhões de doses em dois lotes equivalentes a 7,5 milhões de vacinas, com intervalo de duas semanas em cada lote. “Se ele [IFA] atrasar um pouquinho estamos discutindo a possibilidade de acelerar mais para frente a chegada dos lotes, para ver se a gente consegue antecipar um pouco, porque certamente teremos mais capacidade de produção do que esse cronograma de lotes. Se a gente puder receber mais IFA a gente vai poder produzir mais e entregar mais rápido “, completou. 

Entrega

As vacinas desenvolvidas pela Universidade de Oxford e pela biofarmacêutica AstraZeneca em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que chegaram ontem (23) ao Brasil, começaram ontem mesmo a ser distribuídas aos estados. “A vacina chegou muito tarde aqui, mas conseguimos executar todas as atividades com bastante velocidade, agilidade e logo no começo da tarde a gente já estava encaminhando vacinas”, afirmou sobre o processo que antecedeu a preparação para a distribuição das doses aos estados. 

Nísia Trindade ressaltou que as vacinas saíram da Fiocruz após cumpridos os procedimentos recomendados de verificação da temperatura e das embalagens, inclusive as avaliações do Centro de Controle de Qualidade em Saúde da instituição.

Índia

O cônsul-geral da Índia, Leonardo Ananda, que estava ontem na cerimônia de liberação das vacinas, disse que era uma honra estar presente naquele momento de extrema relevância para a população brasileira. “Mais um passo está sendo dado no combate a essa pandemia. É também um marco histórico na relação entre Índia e Brasil. Duas nações irmãs que os laços vêm se fortalecendo a cada dia”, disse. 

O cônsul disse que é um momento simbólico onde a Índia está auxiliando uma nação irmã. “Temos certeza que em pouco tempo terá milhões de vacinas produzidas nesta casa. A Índia se orgulha muito de ter estabelecido esta parceria muito sólida e muito forte, assim como a do Instituto Serum [da Índia] com a Fiocruz e BioManguinhos” concluiu.

AB

Democracia ou liberdade?

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Imagem: Unsplash

As manchetes de hoje no New York Times e no Financial Times gritavam com as palavras do presidente Biden no dia da posse: “A democracia prevaleceu”. Para aqueles que conhecem a história da América, essas palavras levantam questões.

A maioria das pessoas, incluindo a maioria dos americanos, ficaria surpresa ao saber que a palavra “democracia” não aparece na Declaração da Independência (1776) ou na Constituição dos Estados Unidos da América (1789). Eles também ficariam chocados ao saber o motivo dessa ausência nos documentos de fundação dos Estados Unidos. Ao contrário do que a propaganda leva o público a acreditar, os fundadores da América eram céticos e preocupados com a democracia. Eles estavam cientes dos males que acompanham a tirania da maioria. Os redatores da Constituição não mediram esforços para garantir que o governo federal não fosse baseado na mera vontade da maioria e que, portanto, não fosse democrático.

A Constituição dividiu o governo federal em legislativo, executivo e judiciário. Cada ramo foi projetado para verificar o poder dos outros ramos. Os fundadores não queriam depender apenas dos eleitores para verificar o poder do governo. Como resultado, os cidadãos receberam muito pouco poder para selecionar funcionários federais. Nem o presidente, nem membros do judiciário, nem senadores foram eleitos por voto popular direto. Apenas os membros da Câmara dos Representantes foram eleitos diretamente pelo voto popular.

Se os autores da Constituição não abraçaram a democracia, a que aderiram? Para um homem, os autores concordaram que o propósito do governo era garantir os cidadãos na trilogia de John Locke dos direitos à vida, liberdade e propriedade. Os Fundadores escreveram extensa e eloquentemente sobre isso. Sobre propriedade, por exemplo, John Adams escreveu que “no momento em que a ideia é admitida na sociedade, essa propriedade não é tão sagrada quanto as leis de Deus, e que não há força de lei e justiça pública para protegê-la, anarquia e tirania começa.”

As ações dos Fundadores costumam falar ainda mais alto do que suas palavras. Alexander Hamilton, um distinto advogado, assumiu muitos casos famosos por princípio. Após o início da Guerra Revolucionária, o estado de Nova York decretou medidas severas contra os legalistas e súditos britânicos. Entre eles estão a Lei de Confisco (1779), a Lei de Citação (1782) e a Lei de Trespass (1783). Todos envolveram a tomada de propriedade. Na opinião de Hamilton, esses atos ilustravam a diferença inerente entre a democracia e a lei. Embora os atos fossem amplamente populares, eles desrespeitavam os princípios fundamentais do direito de propriedade. Hamilton levou seus pontos de vista em ação e defendeu com sucesso – em face da enorme hostilidade pública – aqueles que tiveram propriedades tomadas sob aqueles três estatutos do estado de Nova York.

A Constituição foi projetada para promover a causa da liberdade, não da democracia. Para fazer isso, a Constituição protegeu os direitos dos indivíduos do governo, bem como de seus concidadãos. Para tanto, a Constituição estabeleceu regras claras, inequívocas e exequíveis para proteger os direitos dos indivíduos, o que limitou estritamente o escopo e a escala do governo. A liberdade econômica, que é uma condição prévia para o crescimento e a prosperidade, foi consagrada na Constituição.

A conflagração da Primeira Guerra Mundial marcou uma ruptura violenta com a letra e o espírito da Constituição. Os direitos de propriedade foram suspensos em grande escala. Houve nacionalizações em larga escala da indústria ferroviária, telefônica, telegráfica e, em menor grau, marítima. Mais de 100 fábricas foram nacionalizadas. O governo envolveu-se nas relações de gestão de trabalho sob a Lei Adamson em 1916. O recrutamento foi instituído. A Lei de Espionagem foi aprovada em 1917. A Lei de Sedição de 1918 impôs penalidades para a expressão antigovernamental, subvertendo assim a Declaração de Direitos. O romancista Upton Sinclair foi realmente preso por ler a Declaração de Direitos. Roger Baldwin, um dos fundadores da American Civil Liberties Union, foi preso por ler a Constituição.

Muito desse aparato anticonstitucional foi destruído após a Primeira Guerra Mundial. No entanto, os resíduos permaneceram e eventualmente reapareceram. Bastou outras emergências nacionais – a Grande Depressão, a Segunda Guerra Mundial, a Guerra do Vietnã, a Guerra contra o Terror e, mais recentemente, a pandemia COVID-19. Com cada um deles, leis foram promulgadas, agências criadas e orçamentos aumentados. Em muitos casos, essas mudanças acabaram sendo permanentes. O resultado é que as crises agiram como uma catraca, mudando a linha de tendência do tamanho e escopo do governo para um nível mais alto.

Não é nenhuma surpresa que os governos gastem mais dinheiro e regulem mais ativamente durante as crises – guerras e resgates econômicos são caros e complicados. Mas um governo mais ativo também atrai oportunistas, que percebem que uma emergência nacional pode servir de pretexto útil para alcançar seus próprios objetivos.

Que lições podemos aprender? Primeiro, “democracia” e “liberdade” não são palavras intercambiáveis. Em segundo lugar, apenas o primeiro século da experiência americana representa aquele em que a libertação e a liberdade eram o padrão. Invocar a palavra “democracia” requer muita cautela. Isso pode facilmente resultar em tirania eleita. Liberdade é o que os Fundadores buscavam.

STEVE H. HANKE é professor de economia aplicada na Universidade Johns Hopkins em Baltimore. Ele é um pesquisador sênior e diretor do Troubled Currencies Project no Cato Institute em Washington, DC

Fonte: National Review