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Por que as pessoas se submetem aos desmandos do Estado e de seus políticos

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Como corretamente diz o ditado, a intimidade pode gerar desprezo, mas também pode gerar algum tipo de sonolência ou tédio.

Aquelas pessoas que nunca conheceram outro arranjo fora daquele em que vivem — mesmo que vivam em um arranjo extraordinariamente problemático — tendem a não perceber nenhuma anomalia ao seu redor.  No mínimo, são incapazes de relacionar causa e consequência.  É como se fossem zumbis que caminham por aí indiferentes às coisas ao seu redor.

Essa é exatamente a postura das pessoas de hoje em relação ao Estado.

Elas sempre conheceram o Estado como ele é, e o veem como um fato consumado, como algo natural.  Elas encaram o Estado como encaram o tempo: haja chuva ou sol, tempestade com raios e trovões ou uma agradável brisa de primavera, ele sempre se manifesta, e não há nada que você possa fazer contra.  Trata-se de um aspecto da própria natureza.  Mesmo quando ele se mostra destrutivo, sua destruição é vista como algo semelhante a “atos de Deus”.

Essa nossa postura conformista em relação ao Estado ocorre não porque tal tipo de comportamento esteja predisposto em nossos genes, mas sim porque nossas condições de vida e nosso longo histórico de aceitação a este arranjo nos predispõem a encará-lo desta maneira resignada. 

Já aquelas pessoas que chegaram a viver sob outros arranjos reagiram a tentativas de imposição de um Estado de maneiras bem distintas.  Foi somente quando populações humanas desenvolveram a agricultura e passaram a se estabelecer em localidades fixas, que a humanidade se tornou mais condescendente com a dominação estatal.

Durante aquele período de tempo vastamente mais longo em que a humanidade era nômade e vivia em pequenos bandos que praticavam a caça e a coleta, o Estado era um arranjo impossível: as pessoas não tinham praticamente nenhuma espécie de riqueza não-perecível que podia ser espoliada pelo Estado, e se alguém tentasse impor algo semelhante a um domínio estatal sobre um bando, seus membros simplesmente sairiam daquela localidade, abrindo o máximo de distância possível entre si próprios e aqueles exploradores, evitando assim as depredações desta tentativa de criação de um Estado. 

Para ver relatos históricos sobre isso, leia o livro The Art of Not Being Governed: An Anarchist History of Upland Southeast Asia, de James C. Scott.

No entanto, ao longo dos últimos 5.000–10.000 anos, para praticamente todos os seres humanos do mundo, o Estado sempre existiu e sempre esteve presente com suas depredações e abusos dos direitos humanos.  Seu poder de dominar, subjugar e espoliar seus súditos é cuidadosamente sustentado pela sua destreza em explorar os medos humanos, dentre eles o medo dos indivíduos em relação ao próprio Estado e a outras ameaças à vida e à integridade, contra as quais o Estado jura que irá nos proteger.  (Nessa postura, o Estado em nada se difere daquelas gangues de bairro que extorquem pessoas em troca de “proteção”.)

Em todo caso, praticamente todos os indivíduos se tornaram totalmente incapazes de sequer imaginar como seria a vida sem um Estado.

Já aqueles poucos que se mostraram capazes de se libertar dessa condição hipnótica e vergonhosamente submissa em relação ao Estado se fazem duas perguntas:

1) Quem essas pessoas — a saber, os cabeças do Estado, sua guarda pretoriana, seus bajuladores e seus megaempresários protegidos no setor privado — pensam que são para nos tratar dessa maneira?

2) Por que praticamente todos nós aceitamos receber esse ultrajante tratamento do Estado?

Essas duas simples perguntas podem facilmente se tornar — e de fato formam — o cerne de vários livros, artigos e manifestos.  Embora algo semelhante a um consenso jamais tenha ocorrido, parece ser pouco controverso dizer que as respostas para a primeira pergunta têm muito a ver com o amplo predomínio de pessoas arrogantes e mal intencionadas que usufruem uma vantagem comparativa em coagir e confundir suas vítimas.  Tendo de escolher entre enriquecer por meios econômicos (pela produção e pelas trocas voluntárias) ou por meios políticos (roubo e extorsão), os membros das classes dominantes sempre optaram decisivamente pela segunda alternativa. 

O papa Gregório VII (1071-85), o líder da momentosa Revolução Papal que se iniciou durante seu papado e continuou durante os cinquenta anos seguintes (durando ainda mais na Inglaterra), não mediu palavras quando escreveu (como citado pelo estudioso Harold Berman): “Reis e príncipes obtiveram seus poderes porque seus conterrâneos eram homens ignorantes de Deus; e se elevaram acima destes seus conterrâneos por meio da soberba, da espoliação, da deslealdade e do homicídio — em suma, por todos os tipos de crime –, sempre instigados pelo Demônio, o príncipe deste mundo.  São homens cegados pela ganância e insuportáveis em sua insolência”.

É sim possível que alguns líderes políticos sinceramente acreditem possuir uma justificativa virtuosa para impor sua dominação sobre seus conterrâneos — e mais do que nunca nos dias de hoje, em que políticos populistas juram que uma vitória eleitoral equivale a uma consagração divina –, mas tal autoengano não altera em absolutamente nada a realidade da situação.

Quanto ao motivo de aceitarmos nos submeter aos ultrajes do Estado, as respostas mais persuasivas têm a ver com o medo que temos do Estado (em conjunto com o temor da responsabilidade própria que muitos sentem). 

Há aquela apreensão de ser o desafiante solitário, que no momento decisivo não contará com o apoio e a solidariedade das outras vítimas, as quais acabarão se omitindo e não juntarão forças.  E talvez ainda mais importante, há aquela “hipnose” ideológica (como explicada por Leon Tolstoi) que impede que a maioria das pessoas seja capaz de imaginar a vida sem o Estado ou seja incapaz de entender que o Estado reivindicar imunidade ao mesmos códigos morais que vinculam todos os outros seres humanos é uma impostura absurda.

Se um indivíduo comum não pode moralmente roubar, espoliar, sequestrar, fraudar ou matar, os indivíduos que compõem o Estado também têm de estar sujeitos a essas mesmas proibições. 

Igualmente, indivíduos comuns não podem delegar ao Estado as tarefas de roubar, espoliar, sequestrar, fraudar ou matar simplesmente porque tais indivíduos não têm tais diretos que seus conterrâneos; portanto, tais tarefas não podem ser terceirizadas. (Um simples lobby de poderosos empresários pedindo ao Estado mais protecionismo já configura uma intolerável terceirização da espoliação.)

Assim como Tolstoi, vários escritores e pensadores reconheceram que as classes dominantes se esforçam incansavelmente para incutir em suas vítimas uma ideologia que santifique o Estado e suas ações criminosas.  Sob esse prisma, é inegável que, historicamente, vários Estados foram extremamente bem-sucedidos nessa empreitada.  Sob o regime nazista, vários cidadãos alemães pensavam ser livres, assim como vários cidadãos das democracias ocidentais de hoje também pensam ser livres. 

A capacidade de uma ideologia cegar pessoas e deixá-las propensas à Síndrome de Estocolmo parece não ter limites, embora um regime como o da URSS, que mantinha as pessoas na persistente pobreza, pode descobrir que suas tentativas de produzir encanto ideológico em suas vítimas irá, ao final, gerar retornos cada vez mais decrescentes.

Portanto, uma astuta — e em contínua mudança — combinação de força arrogante e fraude insolente pode ser vista como sendo o principal ingrediente utilizado pelo Estado em seus multifacetados esforços para induzir sonolência em suas vítimas.  É claro que uma certa dose de cooptação acrescenta um tempero especial à mistura, de modo que todos os Estados se esforçam para presentear suas vítimas com um pedaço do pão que ele próprio roubou delas. 

Em troca desta graciosa benevolência, as vítimas se tornam profundamente agradecidas.


Robert Higgs é scholar adjunto do Mises Institute, é o diretor de pesquisa do Independent Institute

Fonte: Mises Institute

O que diferencia o capitalismo não é a competição, mas a liberdade de escolha

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O capitalismo é frequentemente descrito pelos seus detratores como “um sistema darwinista de competição”, uma selva na qual apenas os mais fortes sobrevivem, e na qual os mais fracos e os menos capazes definham.

Já os mais comedidos simplesmente descrevem o capitalismo como um sistema “baseado na concorrência”.

Curiosamente, vários defensores do capitalismo também parecem assimilar essa ideia de que o capitalismo é um sistema baseado na competição. Eles apenas contra-argumentam que essa concorrência, longe de ser um defeito, é na realidade a grande virtude do sistema, sendo ela a responsável por elevar o padrão de vida da população ao criar bens e serviços de melhor qualidade.

Em minha visão, isso é um erro. Aceitar a pressuposição de que o capitalismo é um sistema baseado na competição — em contraste a outros sistemas que hipoteticamente seriam de cooperação (como socialismo e comunismo) — significa aceitar um debate que já começa inteiramente moldado nos termos criados pelos seus detratores, de modo que, a partir daí, qualquer discussão já está contaminada e enviesada.

No âmbito estatal, a competição é selvagem

Obviamente, não estou criticando a concorrência. Nem poderia. Afinal, não fosse a concorrência entre produtores, com cada um deles se esforçando para ganhar acesso ao dinheiro dos consumidores, não haveria como vivenciarmos um progressivo aumento em nossa qualidade de vida em decorrência da contínua melhora observada nos bens e serviços que usufruímos — os quais, vale ressaltar, apresentaram quedas reais nos preços em decorrência exatamente desta competição.

A concorrência de mercado é o que aumenta a eficiência e reduz o preço real dos bens e serviços, ao mesmo tempo em que gera inovação. Dado que todos nós já estamos familiarizados com este argumento — até porque o vivenciamos diariamente –, é desnecessário ficar reforçando este ponto.

Adicionalmente, a alternativa à concorrência é o planejamento centralizado, no qual há um único fornecedor de bens e serviços, sendo ele quem decide “em nosso nome” como estes serão produzidos e alocados. Todas as sociedades que tentaram este arranjo se afundaram na miséria e no extermínio em massa.

O ponto aqui é outro.

Se os detratores do capitalismo consideram a competição de mercado algo ruim, por que o mesmo não se aplica à esfera política?

Peguemos a tão venerada democracia. Se a competição é um fator deletério e corruptor, então a democracia tem de ser o primeiro sistema a ser abolido. Afinal, o que fazem os políticos senão competirem acirradamente entre si para conseguir um cargo?

Pior: não apenas há essa acirrada competição entre partidos políticos, como também há uma vigorosa competição entre empresas, lobistas e grupos de interesse para ver quem consegue tratamento preferencial (subsídios, patrocínios, reservas de mercado etc.) de políticos e legisladores, tudo com o dinheiro do povo.

Se as pessoas que estão no mercado (a seção livre e voluntária da sociedade) vivem em um sistema de competição, o que dizer então do aparato estatal? O que dizer das pessoas que querem acesso a ele? A democracia é também um sistema de competição. E darwinista. Os políticos estão sempre competindo pelo acesso ao aparato de controle da sociedade. Estão competindo pelo “direito” de aprovar e impingir leis, legislações e políticas que serão aplicadas a todos e que afetarão a todos (queiramos nós ou não). Mais: tudo isso será compulsoriamente pago por nós.

Políticos e todas as pessoas que querem fazer parte do aparato estatal não estão simplesmente competindo por uma fatia de mercado, na qual o vencedor da competição é aquele que melhor satisfaz as demandas dos consumidores. Eles estão afetando diretamente a todos nós, a sem a nossa anuência.

O capitalismo é sobre trocas voluntárias

É óbvio que a competição, por si só, não é um mal. Longe disso. O problema é que definir o capitalismo como um sistema “baseado na competição” — em comparação a outros arranjos que supostamente são baseados na cooperação — é um truque retórico.

Aqueles que acreditam que o capitalismo é baseado na concorrência podem honestamente acreditar nisso, mas não é verdade. O capitalismo é um sistema tão concorrencial e competitivo quanto qualquer outro sistema. Concorrência e competição existem em todos os arranjos. Não é uma exclusividade do capitalismo.

Consequentemente, o correto seria dizer que o capitalismo (ao menos no ideal laissez-faire) é um sistema baseado em transações livres e voluntárias de bens e serviços, transações estas que ocorrem na ausência de coerção física, roubo, compulsão ou fraude, e é baseado no direito fundamental de ter e acumular propriedade.

Ou, em nome da brevidade: o capitalismo é um sistema de trocas voluntárias, baseado no direito de ter propriedade.

Sendo assim, é até possível concluir que o capitalismo é, com efeito, o sistema que mais apresenta as características de cooperação. Afinal, no capitalismo, a competição significa que os produtores têm de se esforçar para agradar seus clientes, e eles terão de agir assim exatamente porque visam ao seu interesse próprio. Em outras palavras, os vendedores cooperam com os consumidores, atendendo às suas necessidades e preferências.

Dado que há escassez, sempre haverá competição — em qualquer sistema

Não é a existência da propriedade privada ou da livre transação de bens que gera a concorrência. O que gera a concorrência é a escassez.

Em qualquer situação em que haja escassez de recursos, haverá alguma forma de competição pela apropriação destes recursos (bem como para decidir a maneira como esses recursos serão alocados).

Se houver um sistema que permita trocas voluntárias, alguma competição surgirá naturalmente neste arranjo. Mas a competição também surgiria em qualquer outro sistema. Mesmo se existisse uma sociedade completamente comunista, que fosse inteiramente planejada por um comitê central, e que não praticasse absolutamente nenhuma transação envolvendo dinheiro, ainda assim haveria competição, e por um motivo incontornável: o tempo das pessoas sempre será limitado.

Se você fosse, por exemplo, um cineasta nesta sociedade comunista utópica, você provavelmente iria querer que o máximo possível de pessoas assistisse ao seu filme. só que todos os outros cineastas iriam querer o mesmo. Isso colocaria você em concorrência direta com eles. Podemos então concluir que o comunismo também é um sistema baseado na competição? É certo que você estaria competindo pelo único cliente: o patrocínio do estado. Corrupção e compadrio certamente seriam o inevitável resultado. Quem terá seu filme financiado? Quem não terá? Quem ganhará o altamente cobiçado emprego de cineasta em vez do nada desejável emprego de varredor de rua ou de recolhedor de lixo? Como conseguir favores das autoridades? A competição será selvagem. Mas, em vez de ser decidida pelas transações livres e voluntárias dos espectadores, dos investidores e dos cineastas, ela será decidida por uma autoridade do comitê central — e de maneira bastante autoritária, eu apostaria.

A competição, em suma, continuaria existindo. Ela apenas seria de outra natureza: em vez de produtores competindo entre si para conseguir clientes, eles irão competir entre si para ver quem obtém mais favores da poderosa e corrupta estrutura do estado.

A competição é simplesmente uma característica inerente ao fato de que vivemos em um mundo de escassez. Ela existiria em qualquer outro sistema econômico. O socialismo não pode abolir a competição. Assim como nenhum outro sistema.

O custo de oportunidade significa que a competição está em todos os lugares

Quando você finalmente constata essa realidade, você percebe que a escassez faz com que a competição esteja muito além da economia.

Por exemplo, imagine que dois amigos distintos me convidem para um jantar em suas respectivas casas na mesma noite. Eu, obviamente, terei de optar por apenas um, o que fará com que o outro fique sem minha companhia. Isso por acaso significa que a amizade é um sistema baseado na competição?

Não podemos nos encontrar com todos os nossos amigos o tempo todo, ou mesmo com todos eles ao mesmo tempo. E, mesmo se conseguíssemos, teríamos de dividir nossa atenção entre eles. Adicionalmente, não somos íntimos de todos eles, de modo que apenas alguns serão realmente amigos. Não dá para ser amigo íntimo de todos. Tudo isso significa que inevitavelmente teremos de fazer escolhas. E, com elas, renúncias. No final, não importa quais critérios você utilizará para escolher quais amizades priorizar: você estará optando e decidindo; escolhendo alguns e isolando outros. Em alguns casos, você pode acabar isolando pessoas que adorariam ter a sua companhia. Mais: ao optar por priorizar amizades, você terá de sacrificar outras atividades que gostaria de fazer, apenas para ficar na companhia deles.

Estes são fatos básicos da vida, pelos quais todos nós já passamos. Mas eles não fazem com que a amizade seja vista como um sistema de competição.

Similarmente, no mercado, nossos recursos e tempo são limitados. Estamos, a todo o momento, fazendo juízos de valor, escolhendo quais produtos e serviços iremos consumir tendo por base a utilidade que imaginamos que eles nos trarão. Ao fazermos isso, sacrificamos algumas opções em prol de outras. Talvez iremos escolher uma cafeteria que tenha o café mais saboroso. Ou então aquela que tem o melhor ambiente. Ou talvez aquela que é mais próxima. Ou aquela outra cujo serviço é o melhor. Ou então aquela que é a mais barata. Ou quem sabe aquela a que sempre fomos e com a qual estamos mais familiarizados. Ou talvez aquela que implantou atitudes mais “socialmente conscientes” — a que sempre privilegiou a contratação de deficientes físicos, por exemplo. O fato é que nós decidimos.

Cada provedor de serviços acredita que irá se beneficiar de nossa clientela e fará diversas tentativas de nos atrair, seja melhorando a qualidade dos serviços, seja reduzindo (os mantendo baixos) os preços, o que corretamente podemos identificar como uma forma de competição. Dado que seres humanos não são infalíveis, em algumas ocasiões alguém irá comprar um café do qual não irão gostar; mas, no longo prazo, a competição tenderá a ser vencida por aqueles que agradarem de maneira melhor e mais consistente seus clientes.

Os benefícios da liberdade de escolha

O fenômeno realmente miraculoso que ignoramos ao concentrarmos nossa atenção na concorrência é a própria capacidade que temos de fazermos escolhas.

Por exemplo, suponha que dois eventos comerciais estejam ocorrendo na mesma tarde. Cada cliente potencial irá escolher aquele evento que mais lhe seja atraente, utilizando para isso uma variedade de critérios subjetivos. Entretanto, simplesmente dizer que esses dois eventos são “concorrentes” seria ignorar completamente o ponto essencial: os frequentadores destes eventos (que são muito mais numerosos que os organizadores destes eventos) podem escolher entre dois eventos. Muito melhor ter a opção de dois (e inclusive optar por nenhum) do que ter apenas a opção de um. Com efeito, pode até ser possível ir aos dois na mesma tarde, sacrificando o tempo que ficam em cada um.

Sendo assim, a realidade é que há muito mais cooperação envolvida no ato fornecer bens e serviços às pessoas do que há competição. Para conseguir fazer qualquer coisa no mercado, você tem de cooperar com compradores, vendedores, administradores, gerentes, empregados, fornecedores, clientes, anunciantes, promotores de eventos, comerciantes, negociantes, compradores coletivos etc.

O clássico ensaio Eu, o Lápis ainda continua sendo o melhor exemplo ilustrativo disso: quando você se dá conta da quantidade de pessoas, nos mais distintos lugares do mundo, trabalhando conjuntamente para fabricar um simples lápis de madeira — e cada um buscando apenas seus próprios interesses financeiros –, é inevitável não se maravilhar ao constatar como realmente funciona todo este arranjo empreendedorial. Essas pessoas, que nem se conhecem, estão atuando em conjunto, em cooperação, e o resultado é que você consegue comprar um lápis — algo que jamais conseguiria fabricar sozinho — por centavos.

A competição no mercado é o que permite a escolha em meio à escassez

Dado que os recursos são escassos e o tempo sempre é limitado, as pessoas têm de fazer escolhas. Consequentemente, a competição sempre será uma parte inerente a todo e qualquer sistema econômico. Enquanto vivermos em um mundo caracterizado pela escassez, haverá competição.

A característica precípua do capitalismo de livre mercado não é a competição, mas a liberdade de escolha. Pessoas que criticam a competição no capitalismo estão, na prática, pedindo para que o estado substitua a competição entre produtores para ver quem obtém mais consumidores voluntários por uma competição entre produtores para ver quem obtém mais favores do governo. Em vez de produtores tentando convencer consumidores a voluntariamente gastar seu dinheiro em uma ampla variedade de bens e serviços, cada vez mais vastos, teremos produtores tentando convencer políticos a coercivamente tomar dinheiro da população para lhes repassar na forma de subsídios e demais protecionismos.

Compare o arranjo capitalista com arranjos corporativistas e socialistas: em todos há competição, mas apenas no primeiro há liberdade de escolha para os indivíduos.

Compare o livre mercado com outros sistemas nos quais a competição é feroz para ver quem consegue obter mais favores de burocratas em cargo de poder: é nestes que realmente há a “lei da selva” e a “sobrevivência do mais forte”.


Antony Sammeroff é apresentador do canal Scottish Liberty Podcast

Fonte: Mises Brasil

Um novo dia raiou na Argentina

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Foto: Martin Sanchez/Unsplash

Javier Milei é o novo presidente da República Argentina! Pela primeira vez, a Argentina, e a América Latina, tem um presidente declaradamente anarcocapitalista. A vitória de Milei representa, acima de tudo, a derrota do Kirchnerismo, do Peronismo e do Socialismo que há décadas dominam a política argentina.

A vitória de Milei representa também um novo capítulo para as ideias de liberdade na tão sofrida América Latina: na Venezuela de Nicolás Maduro e do bolivarianismo chavista; na Colômbia de Gustavo Petro, das guerrilhas e do narcotráfico; no Chile de Gabriel Bóric e da tentativa fracassada de criar uma Constituição progressista; na Bolívia de Luis Arce e de Evo Morales; no México de Andrés Obrador e da violência dos cartéis; na Nicarágua de Pedro Ortega e da perseguição religiosa; no Brasil do lulopetismo e da democracia relativa. O segundo maior país da América Latina nos mostra que há esperanças.

A oportunidade perdida: Mises em Buenos Aires

Em 1959, Ludwig von Mises visitou a Argentina e palestrou em Buenos Aires para uma palestra formada por jovens estudantes, jornalistas, professores e empresários. Dado o desconhecimento do grande público sobre as teorias econômicas e políticas, Mises falou de maneira simples, porém assertiva, sobre capitalismo, socialismo, intervencionismo, política econômica, inflação e outros temas. Suas palestras foram transcritas e se tornaram o livro mais vendido de Mises: As Seis Lições.

A oportunidade que se apresentou a Mises e às ideias da liberdade pareceu perfeita. Mises rogava aos argentinos que fugissem do populismo peronista e dos presidentes militares, ambos igualmente intervencionistas. O professor Iorio descreve o evento:

“Mostra Ludwig von Mises que a melhor política econômica é aquela que limita o governo a criar as condições que permitem aos indivíduos perseguirem seus próprios objetivos e viverem em paz e que a obrigação do governo é simplesmente proteger a vida e a propriedade para permitir que as pessoas desfrutem da liberdade e da oportunidade de cooperar e de efetuar trocas entre si. Assim, o governo deve criar o ambiente que permita que o capitalismo possa florescer”.

Naquela época, o ditador Juan Domingo Perón, depois de anos de governos desastrosos que destruíram a economia argentina, estava exilado. Ele era o presidente desde 1946, mas foi deposto e forçado a sair do país em 1955.

Perón é um símbolo do populismo latino-americano e serve de inspiração para os economistas socialistas que o seguiram na Argentina. O peronismo, como ficou conhecida sua corrente política, nada mais é do que uma variação latino-americana do socialismo e do fascismo: estado forte, indivíduo fraco. Aqui no Brasil, tivemos um fenômeno semelhante, o Varguismo, representado pela figura do ditador fascista e populista Getúlio Vargas.

As palestras de Mises não surtiram o efeito desejado no público argentino. De fato, Perón voltaria à Argentina e seria eleito presidente em 1973. Sua segunda esposa, Isabelita Perón, foi sua vice-presidente e, após a morte de Juan Perón, assumiu o governo. Mas as seguidas e insustentáveis acusações de corrupção provocaram sua deposição em março de 1976.

Na conturbada história política argentina, não muito diferente do restante da América Latina, observou-se uma alternância entre governos populistas e socialistas e governos militares intervencionistas. Desde a década de 1990, as ideias peronistas permaneceram quase sem trégua no poder, entregando anos de inflação e dívida. A situação se tornou insustentável no começo dos anos 2000.

Mas a resposta às dificuldades econômicas e sociais do país foram das piores possíveis: dobrar a aposta. Um novo nome populista surgiu na Argentina: o Kirchnerismo. Não se tratava de uma grande novidade, já que representava a continuidade do peronismo, mas serviu para renovar as ideias socialistas no país.

Primeiro com Néstor Kirchner e depois com Cristina Kirchner, o peronismo do século XXI não foi muito diferente: mais inflação, corrupção, dívida e pobreza. Nem mesmo o respiro conservador de Maurício Macri foi capaz de corrigir os problemas. E a chegada de Alberto Fernández só pioraria a situação.

A Argentina, que no início do século XX figurava como um dos mais ricos, então a sexta maior economia do mundo, hoje amarga 40% de sua população na pobreza e inflação de preços na casa dos 140%.

Uma nova oportunidade: o fenômeno Milei

Mas nem tudo se perdeu e, 64 anos depois daquela visita de Ludwig von Mises, o povo argentino abraçou uma nova oportunidade.

Javier Milei ganhou proeminência na segunda metade da década de 2010, participando de debates calorosos na televisão, em que denunciava o socialismo e defendia as ideias da liberdade. Seu perfil combativo e sua retórica agressiva, somados à deterioração da economia argentina, lhe valeram uma exponencial popularidade.

Milei entrou na política em 2020, quando se juntou à coalização La Libertad Avanza. Identificando-se como anarcocapitalista, Milei defendeu o “liberalismo duro e puro” para derrotar o socialismo. Sua filosofia se resume ao respeito aos projetos de vida dos outros, ao princípio da não-agressão e à defesa da propriedade privada e de mercados desimpedidos.

Eleito deputado em 2021, o fenômeno Milei não parou de crescer. A destruição da economia pelos peronistas-kirchneristas tornou a candidatura de Milei à presidência um imperativo. Em seu plano de governo, Milei não se furtou apenas a denunciar os problemas, mas realmente apontou o caminho para as soluções.

A inflação, que chega a três dígitos, é um roubo perpetrado pelo banco central, explica Milei. A solução? O fim do banco central. Sua marca registrada durante a campanha eleitoral foi a serra elétrica, para simbolizar sua missão de reduzir drasticamente o tamanho do estado argentino. Milei também defende a desregulamentação do mercado legal de armas, a dolarização da economia, a adoção de vouchers educacionais para substituir as escolas públicas, o fim da obrigatoriedade da educação sexual integral, a reforma judicial e a modernização do mercado de trabalho, entre outras propostas.

Um novo dia raiou na América Latina

Passaram-se 64 anos desde as palestras de Mises em Buenos Aires e, hoje, Milei é o presidente eleito. Naquela ocasião, Mises visitou o país a convite de Alberto Benegas Lynch. Por coincidência, ou não, seu filho, também chamado Alberto Benegas Lynch, é o mentor de Javier Milei. “Ideias, e somente ideias, podem iluminar a escuridão”, ensinou Mises.

Só o tempo vai dizer se Milei, o primeiro presidente declaradamente anarcocapitalista da América Latina, será capaz de imprimir as mudanças que a Argentina tanto precisa. Mas o sinal que sua eleição envia a toda América Latina nos renova. Há esperança!


Samuel Vaz-Curado é mestre em Economia pela Universidade Federal de Sergipe.

Fonte: Mises Brasil

Javier Milei não é o problema da Argentina

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O Banco Central da Argentina não precisa desvalorizar o peso devido à vitória de Javier Milei nas primárias. O Banco Central da Argentina e o governo peronista vêm desvalorizando o peso e afundando a moeda há anos. A desvalorização de agora não é por conta de Milei, mas porque o Banco Central ficou sem reservas.

A Argentina não enfrenta uma ameaça “antissistema” ou de “extrema direita”. Eles já têm um governo de extrema esquerda e antissistema: as políticas monetárias e fiscais extrativistas e confiscatórias do socialismo do século XXI, defendidas pela peronista Cristina Kirchner. Essa é a chamada política monetária “inclusiva”, como a denominou Axel Kicilloff, ex-ministro da Economia de Cristina Kirchner.

A política peronista de máximo intervencionismo, bem como irresponsabilidade fiscal e monetária, destruiu a Argentina e deixou o Banco Central sem reservas.

O peso perdeu mais de 90% do seu valor em relação ao dólar americano desde que Alberto Fernández assumiu o cargo, e a inflação na Argentina já ultrapassa os 120% anualizados, com mais de 40% da população vivendo na pobreza.

Descontrole monetário

Nos anos dos governos do “socialismo do século XXI” de Cristina Kirchner e Alberto Fernández, um aumento completamente descontrolado da base monetária destruiu a moeda local. O governo de centro-direita de Mauricio Macri, que tomou posse brevemente entre Kirchner e Fernández, cometeu o erro de pensar que medidas graduais e suaves poderiam conter a espiral inflacionária, especialmente porque não considerou as evidências da bomba-relógio deixada por Cristina em compromissos futuros de emissão monetária por meio de dívidas de curto prazo a taxas muito elevadas acumuladas no Banco Central (Leliq, Lebac e Pases).

Essa dívida remunerada pelo Banco Central cresceu em 22 bilhões de dólares americanos equivalentes durante os anos de Cristina Kirchner. O governo Macri reduziu a dívida em 26 bilhões de dólares. Estas emissões de dívida “remunerada” do Banco Central são futuros aumentos da base monetária e inflação garantida.

O governo de Alberto Fernández deixou uma bomba-relógio de Leliq e Pases que ultrapassa os 12% do PIB. Assim, é garantida uma desvalorização gigantesca do peso, uma vez que os passivos do Banco Central excedem várias vezes as suas reservas. É por isso que o Banco Central deve desvalorizar o peso.

Segundo dados publicados pelo Banco Central da República Argentina em agosto de 2023, a Argentina realizou a maior experiência monetária da região, perdendo apenas para a Venezuela. A base monetária aumentou 46,2% ao ano, 117,2% em dois anos e 172% em três anos. No entanto, a base monetária, incluindo os depósitos e o referido Leliq, disparou 392,6% em três anos. Esse desastre é o legado deixado pelo governo Fernández.

Expropriação de riqueza no mercado cambial

O peronismo abraçou o “socialismo do século XXI” e implementou os mais prejudiciais “grampos cambiais” (cepo cambiario), que drenam as reservas dos setores exportadores e os forçam a converter os seus dólares a taxas de câmbio fictícias. Esse é um roubo patrocinado pelo estado que destruiu a entrada de novas reservas no país. Em vez de maximizar as reservas, esta política travou o crescimento das exportações.

Com a recente criação do chamado “dólar soja”, uma taxa artificial para os produtores agrícolas liquidarem sua moeda estrangeira, existem mais de dez taxas de câmbio na Argentina.

Como pode um país ter dez taxas de câmbio em relação a uma moeda? A resposta é simples. Todas essas taxas de câmbio impostas pelo governo são formas de expropriação de riqueza para confiscar os dólares dos exportadores e dos cidadãos a uma taxa irrealista.

O governo expropria os destinatários dos dólares americanos com uma troca pelo peso que o próprio governo não encontraria em nenhuma transação no mercado aberto.

Essa loucura monetária financia gastos políticos descontrolados, já que o estado argentino não pode ser financiado através de dívida, pois não há confiança na sua solvência como emissor, uma vez que entrou em default em diversas ocasiões.

Não existe uma verdadeira procura local ou global de pesos, pois os investidores e os cidadãos sabem que o governo continuará a imprimir moeda sem controle.

Peso, uma moeda sem valor

Na Argentina, em 57% das províncias, o emprego estatal é maior que o emprego privado. O estado aumenta os gastos públicos mais do que as receitas fiscais e a inflação, financiando-os através da impressão de mais pesos, o que cria mais pobreza e uma inflação mais elevada. Entretanto, a tributação implementada pelos governos peronistas é uma das mais confiscatórias da região, atingindo 106% dos lucros de uma pequena/média empresa que paga todos os seus impostos, segundo o relatório Doing Business.

Assim, o governo promete enormes subsídios numa moeda que perde constantemente valor e se apresenta como a solução para o problema criado pelas suas próprias políticas fiscais e monetárias. O peronismo “doa” dinheiro que é impresso massivamente e não tem valor. O resultado: mais de 18 milhões de cidadãos pobres.

Muitos grandes economistas argentinos analisaram detalhadamente a importância da dolarização para acabar com essa espiral de incentivos perversos que leva o governo a tornar os cidadãos mais dependentes através da emissão de uma moeda sem valor nem procura. De Nicolas Cachanosky a Steve Hanke e muitos outros, lembram-nos que o Equador, o Panamá ou El Salvador dolarizaram com sucesso.

O problema da Argentina não é a dolarização, mas a evidência de que possui uma moeda inviável e fracassada. A Argentina já está em grande parte dolarizada, porque os cidadãos estão fugindo da moeda local.

Por que o peso é uma moeda sem valor? Porque o governo e o Banco Central têm implementado a sua própria Teoria Monetária Moderna sob a ideia de que os problemas do país podem ser resolvidos através da emissão de mais moeda. Após anos de destruição monetária, a procura global e nacional pelo peso está em mínimos históricos.

O peso é, novamente em 2023, uma das piores moedas do mundo em relação ao dólar americano, enquanto o aumento da base monetária do Banco Central da Argentina é de insanos 46% no acumulado do ano até aqui. E algumas pessoas se perguntam por que a inflação está acima dos 120%.

O problema não é o Milei

Não, a Argentina não enfrentará um abismo se Milei se tornar presidente. A Argentina, um país rico e com enorme potencial, já está no abismo.

Tal como o Chavismo na Venezuela, os governos peronistas destruíram a moeda e o tecido produtivo para impulsionar os gastos políticos e transformar o país num deserto econômico, onde os salários e as poupanças dos cidadãos são confiscados através de elevados impostos diretos e indiretos, inclusive o imposto inflacionário.

Milei quer acabar com essa insanidade monetária e fiscal com políticas que não sejam radicais, mas sim lógicas. Acabar com a monetização insana dos gastos do governo, acabar com as perigosas medidas inflacionárias do Banco Central, dolarizar, cortar gastos políticos excessivos, reduzir os impostos, abrir a economia e permitir que o livre comércio e o investimento fluam de volta para a Argentina.

Algo está muito errado no mundo desenvolvido quando alguns consideram Milei um radical perigoso e nada dizem sobre o radicalismo implementado nos anos Fernández-Kirchner.

A Argentina deve implementar políticas fiscais e monetárias sérias para alcançar o seu enorme potencial. As propostas de Milei não são antissistema, são pró-lógica.

O problema da Argentina não é Milei. O problema é que implementaram ponto a ponto as políticas fiscais e monetárias que muitos dos chamados partidos “progressistas” exigem.


Daniel Lacalle é Ph.D. em economia, gestor de fundos de investimentos, e autor do livro “Escape from the Central Bank Trap”.

Fonte: Mises Institute

Os gastos do governo impedem a criação de riqueza

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Bem, essa foi uma das experiências de corte de cabelo mais interessantes que tive nos últimos tempos. A senhora que corta meu cabelo disse à colega que está atrasada no pagamento do carro. A outra senhora respondeu que ela também estava e as duas riram.

A segunda, porém, ressaltou que seu carro está quebrado e ela não tem condições de arcar com o conserto. Então, alguém disse que seu carro estava na oficina há semanas e ele não conseguia retirá-lo. Depois, outra disse que o pagamento do seguro do seu carro havia aumentado e que ela estava pensando em se mudar apenas dois quarteirões para escapar do bairro de alto prêmio.

Finalmente, interrompi essas histórias de tristeza e fiz uma pergunta normal. O que está acontecendo por aqui? Alguém disse: “Estamos sem dinheiro”. Todos concordaram. Não há dinheiro e os contracheques não cobrem as contas, então eles estão fazendo malabarismos de maneiras estranhas, uma no final deste mês e outra no final do mês seguinte.

Fiquei curioso sobre tudo isso e comecei a me aprofundar. Essas taxas de empréstimo são ajustáveis ​​e alteradas com as novas taxas? Não, esse não é o caso. O problema é que, embora os salários pagassem as contas há alguns anos, agora tudo está muito mais caro e os aumentos não acompanham. Economizar dinheiro está fora de questão. Neste ponto, eles estão apenas tentando manter os cobradores afastados.

Alguma dessas coisas lhe parece familiar? Aposto que sim. É uma experiência normal hoje em dia, de tal forma que a classe média está sendo espremida pelos dois lados. Eles estão profundamente endividados, mas não podem vender carros ou casas porque teriam de adquirir novos e contrair dívidas muito mais caras. Então, eles se apegam ao que têm.

Em termos reais, tudo está muito mais caro hoje do que há três anos.

Nunca ouvi essas conversas em um cabelereiro antes. As pessoas são muito abertas sobre isso porque sabem que outras pessoas compartilham os mesmos problemas, eliminando assim a vergonha. É uma situação compartilhada. Entretanto, temos as principais mídias dizendo que a economia está em alta e crescendo de forma robusta. Neste ponto, cabe a pergunta: crescendo para quem? Não para a classe de pessoas que antes contava com um bom emprego como forma de pagar as contas.

Compreensivelmente, todo esse problema deixou muitas pessoas de mau humor. Elas estão brigando com os amigos e irritadas com os problemas financeiros que forçaram um grande número de pessoas a reduzir seus gastos, e voltam um olhar invejoso para os ricos, o que pode ser perigoso. Este declínio gradual nos padrões de vida se expressa numa incivilidade crescente, que se manifesta de formas estranhas, desde queixas públicas na barbearia até furtos organizados em lojas de varejo da rua.

No entanto, não chamamos isso de recessão, embora todos os sinais concretos mostrem que já estamos numa. As receitas fiscais do governo caíram vertiginosamente, exatamente como em todas as recessões anteriormente declaradas desde a Segunda Guerra Mundial. As razões são duas: a taxa de desemprego e o produto nacional bruto positivo.

Os números do trabalho são claramente distorcidos pelo abandono do mercado de trabalho e pela dupla contagem de múltiplos titulares de empregos. Pessoas que trocam empregos em tempo integral por vários empregos de meio período não sinalizam uma boa saúde econômica.

Chegou a hora de falar sobre o Produto Interno Bruto (PIB). As manchetes, como esperado, estavam repletas de entusiasmo porque os dados mostram um aumento anualizado de 4,9% no terceiro trimestre. A CNN diz que esse crescimento é “impressionante”.

Passei a desconfiar de qualquer notícia que utilize este termo: é uma exortação sobre como você deve responder.

Talvez seja melhor apenas nos atermos aos fatos. Hoje em dia, nada é o que parece. Por exemplo, o Departamento de Comércio reporta um aumento de 4,9% no PIB real no terceiro trimestre, conforme dados anualizados. Mas se você observar a mudança ano a ano, verá que é de apenas 2,9%. Aqui está um exemplo de como esses relatórios são sensíveis à forma como você os renderiza.

Vamos olhar mais de perto.

O que entra no cálculo do PIB? A fórmula é: a soma do consumo (C), investimento (I), despesas governamentais (G) e exportações líquidas (X—M). C é um cálculo dos gastos do consumidor, mas não inclui a dívida crescente. Investimento é o que as empresas gastam em plantas, pesquisas, equipamentos e assim por diante. Ambos dependem fundamentalmente de técnicas de coleta precisas, e estas estão quebradas há anos.

Quanto às despesas, são despesas do governo e isso é um absurdo. Os gastos do governo prejudicam a criação de riqueza. Apenas o fóssil keynesiano mais obstinado acreditaria no contrário e, no entanto, esta falácia continua. E os dados comerciais são distorcidos por um estranho preconceito mercantilista que supõe que as exportações são sempre boas e as importações más.

Veja, não existe nenhuma máquina mágica no céu que observe as operações do mundo e produza um número para nos dizer se estamos ganhando riqueza ou não. Nesses enormes agregados sempre entram e saem lixo. Eles também estão seriamente sujeitos à manipulação política, e juro que nenhuma administração presidencial brincou mais com esse truque do que a administração Biden.

O lançamento mais recente é mais uma prova disso.

Uma análise mais detalhada mostra dois grandes drivers: mais gastos dos consumidores, o que não é nenhuma surpresa, e um aumento muito grande nos gastos do governo nos níveis federal e estadual. Os gastos do governo federal aumentaram 6,2%, com uma grande parcela desse valor em gastos militares (aumento de 8%). Isso explica por que a dívida pública aumentou em 600 bilhões de dólares num mês! Isso está fora de controle, é uma loucura e ainda assim está sendo transformada em crescimento econômico.

É verdade que o investimento também aumentou, mas quando se analisa isso, o maior aumento se verifica nos produtos de propriedade intelectual, o que significa navegar na espessura das patentes de medicamentos, softwares e diversas implementações técnicas. Não é o lugar para uma discussão extensa sobre este tema (talvez algum dia), mas isto não é crescimento econômico. É um custo de regulamentação, como qualquer pessoa nas indústrias afetadas pode dizer. É preciso algum malabarismo extremo para transformar esta confusão numa contribuição para a riqueza nacional.

Quanto aos gastos do consumidor, aumentaram, mas veja só: os gastos pessoais no trimestre caíram para 3,8%, o que é extremamente baixo. É ainda mais alarmante que isto aconteça na presença de taxas de juro muito mais elevadas. Você pode ser pago agora por economizar dinheiro pela primeira vez em uma década e meia. O problema é que as pessoas não têm rendimento discricionário para tirar vantagem das novas taxas de poupança.

E por falar em rendimento disponível, aqui vai um detalhe devastador que não consta no comunicado do governo e nem nas tabelas principais. Você só pode encontrá-lo listado em “aditivos”. O rendimento pessoal disponível é totalmente negativo, caindo 1% no terceiro trimestre. Este pequeno fato desagradável não é relatado em nenhuma notícia que eu tenha visto, e isso acontece porque o Bureau of Economic Analysis não o publicou no comunicado.

Consideremos tudo isto: enormes aumentos nas despesas públicas, aumento do endividamento, queda das poupanças e queda do rendimento disponível. Vamos apenas recorrer à intuição humana normal aqui. Parece que isto é um crescimento econômico para comemorar?

Como mostra E.J. Antoni, tudo o que aparentemente é bom neste relatório vai, na verdade, ser subtraído do crescimento econômico no futuro.

Estou começando a acreditar que você pode aprender muito mais sobre as realidades econômicas ouvindo atentamente na barbearia do que lendo comunicados de agências de estatísticas. E, aliás, quando os números recentes forem revisados cada vez mais para baixo, isso não será notícia.


Jeffrey Tucker é diretor-editorial do American Institute for Economic Research. Também gerencia a Vellum Capital, é pesquisador sênior do Austrian Economic Center in Viena, Áustria.

Fonte: Originalmente publicado em The Epoch Times

Ayn Rand previu o assalto aos contribuintes brasileiros

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Imagine ser empresário em um país onde o Estado aumenta erraticamente a carga tributária para fazer frente às crescentes despesas públicas, e os agentes públicos abertamente afirmem ser uma obrigação dos mais ricos pagar mais tributos para equilibrar o orçamento e beneficiar os mais pobres com políticas públicas.

Em A Revolta de Atlas, romance publicado em 1957, Ayn Rand elabora uma intrincada distopia na qual a sociedade norte-americana passa a ser governada por um governo totalitário que exerce controle absoluto sobre a economia e a vida das pessoas. Na obra, o governo impõe coercitivamente a equidade na sociedade, de modo que os empresários mais bem-sucedidos são obrigados a contribuir cada vez mais com recursos para a execução de políticas redistributivas. Diante dessa opressão, os indivíduos talentosos optam por abandonar a sociedade e construir uma comunidade secreta, na qual podem conduzir as suas vidas de acordo com os seus próprios valores. Como resultado dessa “greve de produtores”, acentua-se o declínio econômico provocado pelo próprio governo, até o ponto do total colapso da sociedade.

A provocação inicial parece dizer respeito à obra A Revolta de Atlas, mas, na verdade, faz referência ao Brasil, que repete com semelhança surpreendente o roteiro da ficção. Para o atingimento das metas do recém-aprovado arcabouço fiscal, que instituiu mecanismos de controle do endividamento público, o Governo Federal tem promovido diversas de alterações na legislação tributária com o objetivo de aumentar a arrecadação.

Mais recentemente, os esforços para aumentar as receitas da União se intensificaram. Isso porque, em um espaço de apenas quatro dias, no mês de agosto de 2023, o Governo Federal:

• Em 31.08.2023, publicou a Medida Provisória nº 1.185/2023, para alterar no âmbito federal o tratamento fiscal conferido aos incentivos do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços concedidos pelos Estados. Com essa Medida, o Governo estima arrecadar R$ 35,3 bilhões de reais em 2024;

• Na mesma data, encaminhou à Câmara dos Deputados o Projeto de Lei nº 4.258/2023, que revoga a dedutibilidade dos Juros sobre Capital Próprio na apuração do lucro real e da base de cálculo da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido. Com a conversão do Projeto em Lei, o Governo estima arrecadar R$ 10,5 bilhões de reais em 2024;

• Em 29.08.2023, encaminhou à Câmara dos Deputados o Projeto de Lei nº 4.173/2023, que dispõe sobre a tributação da renda auferida por pessoas físicas residentes no Brasil em aplicações financeiras, entidades controladas e trusts no exterior. Com a conversão do Projeto em Lei, o Governo estima arrecadar R$ 7,05 bilhões de reais em 2024; e

• Em 28.08.2023, publicou a Medida Provisória nº 1.184/2023, para alterar as regras de tributação dos fundos de investimento no Brasil. Com essa medida, o Governo estima arrecadar R$ 13,28 bilhões de reais em 2024.

Como se vê, o Governo Federal projeta retirar dos contribuintes mais R$ 66 bilhões de reais, somente no ano de 2024, com essas quatro medidas, que continuarão produzindo efeitos nos anos seguintes.

Para além da constitucionalidade e da legalidade questionáveis de vários pontos dessas propostas, os quais gerarão um grave estado de insegurança jurídica, merece destaque a abordagem utilizada pelas autoridades públicas para validar politicamente, perante a opinião pública e o Congresso Nacional, alterações tributárias tão impactantes.

Com frequência, observa-se manifestações dos gestores públicos e políticos alinhados à atual gestão federal no sentido de que a cobrança de mais tributos sobre certos contribuintes ou operações corrigiria um problema moral, já que os ricos sempre se beneficiam da possibilidade de realização de planejamentos tributários, ao passo que a renda dos mais pobres é proporcionalmente mais impactada pela carga tributária.

Para essa corrente de pensamento, tal como se verifica na distopia de A Revolta de Atlas, os ricos no Brasil teriam uma responsabilidade moral de entregar mais recursos para o Estado, que, por sua vez, teria a função de redistribuir tais recursos para as demais camadas da população, mediante alguma forma de incentivo ou benefício concedido pelo próprio Estado. Em outras palavras, no Brasil, caberia à legislação tributária o papel de catalisar a justiça social redistributiva.

Essa perspectiva ficou recentemente em evidência após o anúncio da correção da tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física e da ampliação da faixa de isenção. O Governo Federal estimou que essa alteração reduziria a receita da União em R$ 3,2 milhões ainda no ano de 2023, mas que tal perda seria reduzida pela criação de um mecanismo de tributação de bens e direitos mantidos por brasileiros no exterior. Trata-se da materialização jurídica da orientação política de que, “para o pobre pagar menos tributo, o rico tem que pagar mais tributo”, necessariamente.

Ao mesmo tempo, não se verifica entre os defensores desse modelo de justiça social um envolvimento equiparável nas discussões sobre a redução das despesas públicas, para que aumentos de carga tributária se tornem, no mínimo, evitáveis. De acordo com levantamento do Tesouro Nacional, as despesas do Governo Central aumentaram 18,9% de 2021 (R$ 2,730 trilhões de reais, ou 30,68% do PIB) para 2022 (R$ 3,246 trilhões de reais, ou 32,74% do PIB).

A despeito desse alarmante crescimento das despesas públicas sob a gestão anterior, o atual Governo Federal não dá indícios na comunicação com a população de que priorizará a revisão das despesas públicas como forma de buscar um equilíbrio no orçamento e controlar o endividamento. Pelo contrário, as medidas adotadas em agosto (que se somam a diversas outras implementadas desde o início de 2023) demonstram aquilo que já se afirmou: (i) primeiro, que o foco será o aumento da carga tributária; (ii) segundo, que a legitimação política dessa opção reside no discurso de promoção de uma justiça social que exige do rico o pagamento de mais tributos.

Ainda que pertencente ao gênero da ficção, A Revolta de Atlas antecipa uma série de consequências decorrentes dessa concepção de justiça social, que se verificam, na prática, em razão de alterações na legislação cada vez mais agressivas: insegurança jurídica, redução da capacidade de investimento das empresas, em particular com a pesquisa e o desenvolvimento de novas tecnologias e processos, interrupção de geração de novos postos de trabalho e inibição do empreendedorismo.

Se em A Revolta de Atlas a reação dos indivíduos mais produtivos e talentosos ao avanço das medidas governamentais sobre as atividades econômicas é abandonar a sociedade, no Brasil de 2023 a alternativa de curto prazo das empresas e empreendedores é buscar criativamente soluções para obter resultados positivos em suas atividades, a despeito dos inúmeros obstáculos criados pelo Governo. Todavia, em um horizonte mais amplo, a resposta provavelmente se dará por meio do apoio consistente a candidatos para mandatos políticos cuja visão política priorize o fomento da liberdade econômica (o que necessariamente passa pela redução da carta tributária e de sua complexidade) e a indispensável revisão das despesas públicas.

Em conclusão, as críticas às alterações da legislação tributária promovidas pelo Governo Federal, com o objetivo de sanear as contas públicas, não se destinam a defender qualquer tipo de privilégio para os mais ricos às custas dos mais pobres. Muito pelo contrário, defende-se que os agentes econômicos privados tenham mais liberdade para investir e empreender, de modo a se gerar mais prosperidade para todos, mais, inclusive, do que poderia ser alcançada por qualquer medida redistributiva.


Hugo Schneider é Associado III do Instituto Líderes do Amanhã.

Fonte: Instituto Liberal

Fiel ao princípio de que seus autores têm ampla liberdade de se expressar, o Instituto O Pacificador reitera que as opiniões dos autores não necessariamente representam o posicionamento do IoP diante das temáticas apresentadas.

Por que os piores chegam ao topo?

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Não há dúvida de que um sistema “fascista” americano ou inglês seria muito diferente dos modelos italiano ou alemão; sem dúvida, se a transição fosse efetuada sem violência, poderíamos esperar obter um tipo de líder melhor. No entanto, isto não significa que o nosso sistema fascista acabaria por se revelar muito diferente ou muito menos intolerável do que os seus protótipos. Existem fortes razões para acreditar que as piores características dos sistemas totalitários são fenómenos que o totalitarismo certamente produzirá mais cedo ou mais tarde.

Tal como o estadista democrático que se propõe a planear a vida económica será em breve confrontado com a alternativa de assumir poderes ditatoriais ou abandonar os seus planos, também o líder totalitário teria em breve de escolher entre o desrespeito pela moral comum e o fracasso. É por esta razão que os inescrupulosos terão provavelmente mais sucesso numa sociedade que tende ao totalitarismo. Quem não vê isto ainda não compreendeu toda a extensão do abismo que separa o totalitarismo da civilização ocidental essencialmente individualista.

O líder totalitário deve reunir à sua volta um grupo que esteja preparado voluntariamente para se submeter à disciplina que irá impor pela força ao resto do povo. O fato de o socialismo só poder ser posto em prática através de métodos que a maioria dos socialistas desaprova é, evidentemente, uma lição aprendida por muitos reformadores sociais no passado. Os velhos partidos socialistas foram inibidos pelos seus ideais democráticos; eles não possuíam a crueldade necessária para o desempenho da tarefa escolhida. É característico que tanto na Alemanha como na Itália o sucesso do fascismo tenha sido precedido pela recusa dos partidos socialistas em assumir as responsabilidades do governo. Eles não estavam dispostos a empregar de todo o coração os métodos para os quais haviam apontado o caminho. Eles ainda esperavam pelo milagre de uma maioria concordar com um plano específico para a organização de toda a sociedade. Outros já tinham aprendido a lição de que numa sociedade planeada a questão já não pode ser sobre o que faz a maioria das pessoas. concordam, mas qual é o maior grupo cujos membros concordam o suficiente para tornar possível a direção unificada de todos os assuntos.

Existem três razões principais pelas quais um grupo tão numeroso, com pontos de vista bastante semelhantes, não é provavelmente formado pelos melhores, mas sim pelos piores elementos de qualquer sociedade.

Primeiro, quanto mais elevada se torna a educação e a inteligência dos indivíduos, mais diferenciados são os seus gostos e pontos de vista. Se quisermos encontrar um elevado grau de uniformidade de perspectiva, teremos de descer às regiões de padrões morais e intelectuais mais baixos, onde prevalecem os instintos mais primitivos. Isto não significa que a maioria das pessoas tenha padrões morais baixos; significa apenas que o maior grupo de pessoas cujos valores são muito semelhantes são as pessoas com padrões baixos.

Em segundo lugar, uma vez que este grupo não é suficientemente grande para dar peso suficiente aos esforços do líder, ele terá de aumentar o seu número convertendo mais pessoas ao mesmo credo simples. fortes convicções próprias, mas estão prontos a aceitar um sistema de valores já pronto, se este lhes for martelado nos ouvidos suficientemente alto e frequentemente. Serão aqueles cujas ideias vagas e imperfeitamente formadas são facilmente influenciadas e cujas paixões e emoções são facilmente influenciadas. despertados que irão assim engrossar as fileiras do partido totalitário.

Terceiro, para unir um corpo de apoiantes estreitamente coerente, o líder deve apelar para uma fraqueza humana comum. Parece ser mais fácil para as pessoas concordarem com um programa negativo – sobre o ódio de um inimigo, sobre a inveja dos que estão em melhor situação – do que sobre qualquer tarefa positiva.

O contraste entre “nós” e “eles” é, consequentemente, sempre empregado por aqueles que buscam a lealdade de grandes massas. O inimigo pode ser interno, como o “judeu” na Alemanha ou o “kulak” na Rússia, ou pode ser externo. Em qualquer caso, esta técnica tem a grande vantagem de deixar ao líder uma maior liberdade de ação do que qualquer programa positivo.

O avanço dentro de um grupo ou partido totalitário depende em grande parte da vontade de fazer coisas imorais. O princípio de que o fim justifica os meios, que na ética individualista é considerado como a negação de toda a moral, na ética coletivista torna-se necessariamente a regra suprema. Não há literalmente nada que o coletivista consistente não deva estar preparado para fazer se isso servir ao “bem do todo”, porque esse é para ele o único critério do que deve ser feito.

Uma vez admitido que o indivíduo é apenas um meio para servir os fins da entidade superior chamada sociedade ou nação, a maioria das características do totalitarismo que nos horrorizam surgem necessariamente. Do ponto de vista coletivista, a intolerância e a repressão brutal da dissidência, do engano e da espionagem, o completo desrespeito pela vida e felicidade do indivíduo são essenciais e inevitáveis. Atos que revoltam todos os nossos sentimentos, como fuzilar reféns ou matar idosos ou doentes, são tratados como meras questões de conveniência; o desenraizamento e transporte compulsórios de centenas de milhares de pessoas torna-se um instrumento de política aprovado por quase todos, exceto pelas vítimas.

Para ser um assistente útil na gestão de um Estado totalitário, portanto, um homem deve estar preparado para quebrar todas as regras morais que alguma vez conheceu, se isso lhe parecer necessário para alcançar o fim que lhe foi proposto. Na máquina totalitária haverá oportunidades especiais para os implacáveis ​​e inescrupulosos. Nem a Gestapo, nem a administração de um campo de concentração, nem o Ministério da Propaganda, nem as SA ou SS (ou os seus homólogos russos) são locais adequados para o exercício de sentimentos humanitários. No entanto, é através de tais posições que se conduz o caminho para os cargos mais elevados no Estado totalitário.

Um ilustre economista americano, professor Frank H. Knight, observa corretamente que as autoridades de um estado coletivista “teriam de fazer essas coisas, quisessem ou não: e a probabilidade de as pessoas no poder serem indivíduos que não gostariam de possuir e o exercício do poder está no mesmo nível da probabilidade de que uma pessoa de coração extremamente terno conseguiria o emprego de mestre chicoteador em uma plantação de escravos”.

Um outro ponto deve ser salientado aqui: o coletivismo significa o fim da verdade. Para fazer um sistema totalitário funcionar eficientemente, não basta que todos sejam forçados a trabalhar para os fins selecionados por aqueles que estão no controle; é essencial que o povo passe a considerar estes fins como seus. Isto é provocado pela propaganda e pelo controle total de todas as fontes de informação.

A forma mais eficaz de fazer com que as pessoas aceitem a validade dos valores que devem servir é persuadi-las de que são realmente os mesmos que sempre defenderam, mas que não foram devidamente compreendidos ou reconhecidos antes. E a técnica mais eficiente para esse fim é usar as palavras antigas, mas mudar seu significado. Poucos traços dos regimes totalitários são ao mesmo tempo tão confusos para o observador superficial e, no entanto, tão característicos de todo o clima intelectual como esta completa perversão da linguagem.

O que mais sofre neste aspecto é a palavra “liberdade”. É uma palavra usada tão livremente em estados totalitários como em outros lugares. Na verdade, quase se poderia dizer que sempre que a liberdade tal como a conhecemos foi destruída, isso foi feito em nome de uma nova liberdade prometida ao povo. Mesmo entre nós temos planeadores que nos prometem uma “liberdade coletiva”, o que é tão enganador como qualquer coisa dita por políticos totalitários. A “liberdade coletiva” não é a liberdade dos membros da sociedade, mas a liberdade ilimitada do planeador para fazer com a sociedade o que lhe agrada. Esta é a confusão da liberdade com o poder levado ao extremo.

Não é difícil privar a grande maioria do pensamento independente. Mas a minoria que conservará a inclinação para criticar também deve ser silenciada. As críticas públicas ou mesmo as expressões de dúvida devem ser suprimidas porque tendem a enfraquecer o apoio ao regime. Como relatam Sidney e Beatrice Webb sobre a situação em todas as empresas russas: “Enquanto o trabalho está em andamento, qualquer expressão pública de dúvida de que o plano será bem sucedido é um ato de deslealdade e até mesmo de traição devido ao seu possível efeito sobre a vontade”. e esforços do restante da equipe.”

O controle estende-se mesmo a assuntos que parecem não ter significado político. A teoria da relatividade, por exemplo, tem sido contestada como um “ataque semita aos fundamentos da física cristã e nórdica” e porque está “em conflito com o materialismo dialético e o dogma marxista”. Toda atividade deve derivar sua justificativa de um propósito social consciente. Não deve haver nenhuma atividade espontânea e não orientada, porque pode produzir resultados que não podem ser previstos e que o plano não prevê.

O princípio se estende até mesmo a jogos e diversões. Deixo ao leitor adivinhar onde foi que os jogadores de xadrez foram oficialmente exortados de que “devemos acabar de uma vez por todas com a neutralidade do xadrez. Devemos condenar de uma vez por todas a fórmula do xadrez pelo bem do xadrez”.

Talvez o fato mais alarmante seja que o desprezo pela liberdade intelectual não é algo que surge apenas quando o sistema totalitário é estabelecido, mas pode ser encontrado em todo o lado entre aqueles que abraçaram uma fé coletivista. A pior opressão é tolerada se for cometida em nome do socialismo. A intolerância a ideias opostas é abertamente exaltada. A tragédia do pensamento coletivista é que, embora comece por tornar a razão suprema, acaba por destruir a razão.

Há um aspecto da mudança nos valores morais provocada pelo avanço do coletivismo que fornece um alimento especial para o pensamento. É que as virtudes que são cada vez menos apreciadas na Grã-Bretanha e na América são precisamente aquelas das quais os anglo-saxões se orgulhavam com justiça e das quais eram geralmente reconhecidos como excelentes. Estas virtudes eram a independência e a autossuficiência, a iniciativa individual e a responsabilidade local, a confiança bem-sucedida na atividade voluntária, a não interferência com o próximo e a tolerância para com o diferente, e uma desconfiança saudável do poder e da autoridade.

Quase todas as tradições e instituições que moldaram o caráter nacional e todo o clima moral da Inglaterra e da América são aquelas que o progresso do coletivismo e as suas tendências centralistas estão progressivamente destruindo.

[Extraído de O Caminho para a Servidão]

Para saber mais

O caminho para a servidão com os intelectuais e o socialismo por Friedrich A. Hayek (The Institute of Economic Affairs, 2005), pp.

Nota: As opiniões expressas em Mises.org não são necessariamente as do Instituto O Pacificador.


FA Hayek (1899–1992) é sem dúvida o mais eminente dos economistas austríacos modernos e membro fundador do Instituto Mises. Aluno de Friedrich von Wieser, protegido e colega de Ludwig von Mises, e principal representante de uma notável geração de teóricos da Escola Austríaca, Hayek teve mais sucesso do que qualquer outro na divulgação das ideias austríacas por todo o mundo de língua inglesa. Ele partilhou o Prémio Nobel de Economia de 1974 com o rival ideológico Gunnar Myrdal “pelo seu trabalho pioneiro na teoria do dinheiro e das flutuações económicas e pela sua análise penetrante da interdependência dos fenómenos económicos, sociais e institucionais”. Entre os economistas tradicionais, ele é conhecido principalmente por seu popular The Road to Serfdom  (1944).

Fonte: Mises.org

O que ativistas não querem que você saiba?

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Imagem gerada por AI

Enquanto Israel continua a operação Espadas de Ferro contra o grupo terrorista Hamas, os protestos pró-Palestina em todo o mundo têm acusado o país de genocídio.

Embora a difamação do apartheid tenha sido lançada há muito tempo sobre Israel, numa tentativa de estabelecer uma equivalência moral com o apartheid na África do Sul, esta nova calúnia de que Israel está envolvido num genocídio contra os palestinos tenta fazer o impensável – ligar o Estado Judeu à Alemanha nazi. Este cálculo cínico é tão errado quanto obsceno. 

A definição comum de “genocídio” é o ataque deliberado a um grupo inteiro de pessoas num esforço para eliminar esse grupo. O termo foi originalmente cunhado pelo jurista judeu polonês Raphael Lemkin em seu livro de 1944, Axis Rule in Occupied Europe. Refletindo sobre o massacre em massa de 6 milhões de judeus, Lemkin declara: “Novas concepções requerem novos termos”. O neologismo é uma combinação de genos , que significa “raça” em grego, e cide , que significa “matar” em latim. 

No entendimento de Lemkin , genocídio refere-se à “destruição de uma nação ou de um grupo étnico” ou “a um plano coordenado de diferentes ações visando a destruição de alicerces essenciais da vida de grupos nacionais, com o objetivo de aniquilar os próprios grupos”. ” O crime de genocídio foi codificado pelas Nações Unidas em 1946 com a aprovação da Resolução 96 da Assembleia Geral, definida como “uma negação do direito à existência de grupos humanos inteiros, assim como o homicídio é a negação do direito de viver de seres humanos individuais .”

Em 1948, a Assembleia Geral da ONU aprovou a sua “Convenção sobre a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio”, que se refere a cinco atos distintos, cuja prática de qualquer um deles constitui o crime de genocídio: (1) matar membros da grupo em questão; (2) causar sérios danos corporais ou mentais a membros do grupo; (3) infligir deliberadamente ao grupo condições de vida calculadas para provocar a sua destruição física, no todo ou em parte; (4) impor medidas destinadas a prevenir nascimentos dentro do grupo; (5) transferência forçada de crianças do grupo para outro grupo.

Então, as ações do Estado de Israel durante a atual guerra contra o Hamas satisfazem alguma destas definições? 

O “Código de Ética” das Forças de Defesa de Israel, emitido em 1994, identifica os onze valores-chave das FDI: tenacidade, responsabilidade, integridade, exemplo pessoal, vida humana, pureza de armas, profissionalismo, disciplina, lealdade, representação e camaradagem . Dois destes valores são de especial relevância aqui: a vida humana e a pureza das armas. De acordo com o Código, o valor da “vida humana” significa que o “soldado fará o máximo para preservar a vida humana”. Além disso, o valor da “pureza das armas” exige que o “soldado use a sua arma e o seu poder para derrotar o inimigo apenas na medida necessária, e exerça o autocontrole, a fim de evitar danos desnecessários à vida humana, ao corpo, honra ou propriedade.” Na verdade, num documento emitido em Janeiro de 2023 em resposta a um aumento no lançamento de pedras pelos palestinos, que podem causar ferimentos graves, as FDI deixaram claro que a força letal só pode ser usada em resposta a um “perigo claro e presente” envolvendo uma “vida -situação ameaçadora.”

Israel cumpriu estes princípios orientadores em Gaza? Sim. As FDI não mediram esforços consideráveis ​​para minimizar as vítimas civis. Tal como em guerras anteriores, Israel lançou panfletos e enviou mensagens de texto orientando os civis palestinos a evacuarem áreas perigosas – neste caso, o norte de Gaza. Esta evacuação está a ser monitorizada a partir de Israel através do rastreio dos movimentos de celulares em Gaza. Israel também utiliza armas precisas para minimizar as vítimas civis em ambientes urbanos densos. Uma dessas armas, usada pela primeira vez nesta guerra, é o morteiro de precisão apelidado de “Picada de Ferro”. De acordo com o Jerusalem Post , “O morteiro foi projetado para uso tanto em terreno aberto quanto em ambientes urbanos, ao mesmo tempo em que utiliza seu direcionamento preciso para reduzir a possibilidade de não-combatentes serem feridos.”

Tragicamente, todas as guerras provocam baixas civis – e isto é especialmente verdade em Gaza, devido às densas condições urbanas e à estratégia deliberada do Hamas de tentar maximizar as baixas civis. De acordo com um relatório recente da OTAN , o Hamas “tem usado escudos humanos em conflitos com Israel desde 2007”: 

O Hamas confia no objetivo do governo israelita de minimizar os danos colaterais e também está consciente da sensibilidade do Ocidente em relação às vítimas civis. A utilização de escudos humanos pelo Hamas visa, portanto, provavelmente minimizar as suas próprias vulnerabilidades, limitando a liberdade de ação das Forças de Defesa Israelenses (IDF). Visa também obter influência diplomática e de opinião pública, apresentando Israel e as FDI como um agressor que ataca civis indiscriminadamente.

O Hamas utilizou as suas quase duas décadas de controlo sobre Gaza para construir uma extensa rede de túneis fortificados dentro, sob e em torno de infraestruturas civis, a fim de contrabandear contrabando e armas, ao mesmo tempo que levava a cabo uma campanha de terror contra Israel e os seus civis. Ainda mais revelador é o facto de o Hamas utilizar atualmente o maior hospital de Gaza como sede. Embora o primeiro dever de qualquer governo seja proteger os seus cidadãos, o princípio central de governo do Hamas é oprimir o seu povo, colocando-o, ao mesmo tempo, em perigo. Perante isto, é claro que o Hamas tem responsabilidade moral por todas as vidas perdidas neste conflito, tanto israelitas como palestinianas, incluindo os civis palestinos que Israel se esforçou ao máximo para proteger. 

Os dados demográficos também contradizem a ideia de que Israel está a cometer genocídio. Desde o ano 2000, a população de Gaza quase duplicou; possui a 39ª maior taxa de natalidade entre os países do mundo e a esperança média de vida é de quase 76 anos (a esperança média de vida nos EUA é de pouco mais de 77 anos). Se Israel pretende cometer genocídio em Gaza, está a fazer um péssimo trabalho.

Tal como sempre haverá vítimas civis na guerra, infelizmente também haverá sempre alguns soldados individuais que pretendem ferir ou matar civis. Felizmente, nas FDI, este número é pequeno e, o que é crucial, os soldados que infringem o Código de Ética das FDI e as leis da guerra são tratados como criminosos e processados ​​como tal. 

Para os combatentes do Hamas – que não devem ser chamados de “soldados”, uma vez que não aderem a quaisquer leis ou normas de guerra – a violência contra civis é o ponto principal, e quanto mais carnificina um combatente inflige, mais ele é celebrado. 

O pacto fundador do Hamas apela a um “Movimento de Resistência Islâmica” que “se esforce por levantar a bandeira de Alá sobre cada centímetro da Palestina” e forneça “um dos elos na cadeia da luta contra os invasores sionistas”. A razão de ser do Hamas, então, é expulsar todos os israelitas e judeus de Israel-Palestina, eliminando tanto o Estado de Israel como os judeus que nele habitam. “Não há solução para a questão palestina exceto através da Jihad”, afirma o documento. Cita um Hadith (um ditado do profeta Maomé) que deixa este ponto assustadoramente claro: 

O Dia do Juízo não acontecerá até que os muçulmanos lutem contra os judeus (matando os judeus), quando os judeus se esconderão atrás de pedras e árvores. As pedras e as árvores dirão: Ó muçulmanos, Ó Abdulla, há um judeu atrás de mim, venha e mate-o. 

(O Hamas emitiu uma nova carta em 2017. Ainda está repleta de linguagem inflamada sobre a “entidade sionista”.) 

Assim, enquanto o Código de Ética das FDI exige que todos os soldados israelitas ajam com “pureza de armas” e façam todos os esforços para evitar baixas civis, a carta do Hamas de 1988 apela à jihad incessante contra os judeus. Embora o Código de Ética das FDI proíba crimes de guerra, incluindo o genocídio, o Pacto do Hamas define o genocídio como a sua missão principal.

Vimos esta missão em ação no dia 7 de Outubro, quando o Hamas levou a cabo um dos mais hediondos pogroms antijudaicos da história, numa campanha de terror que satisfaz todas as definições de genocídio.

Comentando o massacre brutal de civis no kibutz Kfar Aza, o major-general israelense Itai Veruv disse aos repórteres :

Vi centenas de terroristas com armadura completa, equipamento completo, com todo o equipamento e toda a capacidade para fazer um massacre, ir de apartamento em apartamento, de quarto em quarto e matar bebés, mães, pais nos seus quartos… Ouvi dizer durante minha infância sobre os pogroms na Europa, o Holocausto, é claro. Toda a minha família veio da Europa, são sobreviventes. Mas nunca pensei que veria… coisas assim.

Quando a poeira baixou, após o massacre mais letal de judeus desde o Holocausto, mais de 1.400 israelitas tinham sido mortos – na sua maioria civis e de formas indescritivelmente brutais – e mais de 220 civis tinham sido raptados e levados à força para Gaza.

Os 1.400 mortos não foram danos colaterais; eles eram os alvos civis pretendidos pelo Hamas. O Hamas não só alvejou intencionalmente civis israelitas, marcando-os para a morte simplesmente porque eram israelitas e cometendo assim um ato de genocídio, mas também levou a cabo a sua campanha assassina com um nível de selvageria que quase desafia a compreensão. E essa selvageria foi deliberada e planejada. Como revelam documentos encontrados entre os corpos de terroristas mortos do Hamas, as suas ordens eram atingir civis, fazer reféns e “matar o maior número possível”. 

É evidente que os verdadeiros genocidas na guerra Israel-Hamas são os terroristas do Hamas e aqueles que os apoiam, e não Israel. Então, por que a mancha do genocídio? 

Os protestos pró-Palestina eclodiram imediatamente após a violência assassina do Hamas em Israel – mesmo antes de qualquer resposta militar israelita. Do mundo árabe aos EUA e à Europa Ocidental, ativistas pró-palestinos celebraram o assassinato brutal de israelitas, distribuindo até doces em comemoração. E desde o início da operação Espadas de Ferro de Israel, os sinais que condenam o “genocídio” na Palestina têm sido uma visão omnipresente nos protestos. Outrora marginais e raras, as alegações de “genocídio” parecem agora omnipresentes nas manifestações e nos discursos anti-Israel. 

Como observou o teórico marxista Antonio Gramsci , todo movimento revolucionário, inclusive os terroristas, conduz duas guerras simultaneamente: uma “guerra de posição” e uma “guerra de manobra”. Esta última é a guerra real tal como a conhecemos, com armas e bombas. No entanto, como os terroristas bem sabem, as guerras não são travadas apenas nos campos de batalha, mas também nas redes sociais, nas redações e, em última análise, nos corações e mentes dos espectadores em todo o mundo. 

A Palestina é de longe o maior beneficiário per capita de ajuda externa , mas grande parte deste dinheiro é desviado para corrupção, para armas e para apoiar o terrorismo. Ao empobrecer a sua população em Gaza e ao esconder os seus combatentes entre a população civil, ao armazenar esconderijos de armas nas infraestruturas civis ou perto delas, e ao utilizar essas mesmas infraestruturas para fazer a guerra, o Hamas força Israel a infligir danos colaterais. Este é o objetivo do Hamas: quer corpos e destroços que possa colocar em frente de celulares e câmaras de notícias para culpar Israel pela carnificina. Quanto mais mortes – especialmente mortes de civis – melhor será o seu cálculo niilista. Infelizmente, o Hamas teve grande sucesso com esta estratégia. Embora muito do vitríolo anti-Israel seja certamente produto do antissemitismo, grande parte dele se deve à estratégia de relações públicas do Hamas e aos “idiotas úteis” que o engolem.

Mas isto ainda não explica completamente a acusação específica de genocídio. 

A maioria concordaria que o genocídio é o maior mal que o homem pode perpetrar. Portanto, para execrar uma nação ao máximo possível, é preciso acusá-la de genocídio. A opressão, as violações dos direitos humanos, os crimes de guerra, a ocupação, o apartheid – são todas acusações graves, mas a acusação de genocídio é o ne plus ultra. É a maior difamação que aqueles que realmente odeiam Israel podem reunir, por isso usam-na como arma. Danem-se os fatos.

Como argumentou o cientista político James Farr : “Apenas nas circunstâncias mais raras… a linguagem funciona apoliticamente como um meio neutro para expressar ideias ou descrever coisas”. Mais frequentemente, serve “as necessidades, interesses e poderes dos indivíduos ou grupos que o utilizam”. Ao acusar Israel de genocídio, os tácticos retóricos do movimento anti-israelense estão a tentar um truque semântico, redefinindo “genocídio”, este mal dos males, como uma vaga combinação de mortes de civis, a destruição de infraestruturas de dupla utilização, e dificuldades de guerra, em vez da maior afronta à humanidade: o assassinato de um povo inteiro.

Desde a Idade Média, os judeus têm sido acusados ​​de assassinar crianças e de usar o seu sangue para fins rituais. Este libelo de sangue continua hoje sob uma nova forma, já que os judeus do Estado de Israel são acusados ​​de matar propositadamente crianças numa campanha de genocídio. 

Este novo libelo de sangue – a acusação de genocídio – é também uma tentativa de subjugar o Estado de Israel ao mesmo regime cujo assassinato industrial de judeus deu origem à necessidade de criar o próprio termo “genocídio”: a Alemanha nazi. Como argumentou o filósofo Bernard Harrison , a intenção “é difamar Israel pela associação com o símbolo mais poderoso do mal, daquilo que, por não conter a menor centelha de bondade, deve ser totalmente rejeitado e arrancado da face do terra.” Harrison continua:

Usar “analogias nazistas para criticar as políticas de Israel” é disseminar a sugestão de que as políticas israelenses são moralmente indistinguíveis das políticas nazistas e, portanto, que o Estado de Israel não é, portanto, de forma alguma moralmente distinguível do Terceiro Reich, do qual, se for verdade, segue-se certamente que a existência do Estado de Israel tem tão pouco a ser dito quanto a existência do Terceiro Reich; ou seja, nada; e daí que os Judeus, uma vez que muitos deles apoiam a existência de Israel, são, colectivamente, inimigos da humanidade. Divulgar tais sugestões, por qualquer razão, e com qualquer cor de compromisso moral ou preocupação humanitária, é, a meu ver, disseminar opiniões antisemitas de um tipo bastante tradicional.

É por esta razão que comparar Israel à Alemanha nazi foi reconhecido como um ato antissemita pelo Departamento de Estado dos EUA na sua definição funcional de antisemitismo.

Mesmo antes da fundação de Israel em 1948, ideólogos e anti-semitas argumentam que os judeus não têm direito à autodeterminação nacional, não têm direito a uma pátria e não têm direito a defender a pátria que lhes foi concedida a contragosto.

Hoje, estes ideólogos têm uma nova arma para atacar Israel – a difamação infundada do genocídio. Esta difamação é fundamentalmente antissemita e abre a porta a uma hostilidade maior e mais extrema contra Israel. Faz com que a violência contra Israel e contra os judeus em todo o mundo pareça mais aceitável. Ao mesmo tempo, acusar falaciosamente Israel de genocídio serve para obscurecer a natureza do verdadeiro genocídio que aqui ocorre. Esconde os atos e intenções genocidas do Hamas, ao mesmo tempo que fornece um libelo de sangue antijudaico remodelado para o século XXI.


Zachary R. Goldsmith é o autor de “Fanatismo: Uma História Política Filosófica” (2022). Seus escritos foram publicados no The Washington Post, NBC News e Law & Liberty, entre outros locais.

Fonte: Quilette

Ser adulto significa resistir ao impulso estatizante

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Recentemente, ao entrar em um restaurante, pedi para que o garçom me arrumasse uma mesa na seção de não-fumantes. O garçom respondeu: “Sem problemas.  Por lei, todos os restaurantes agora proíbem o fumo. Pode me acompanhar, por favor”.

Meu primeiro pensamento, enquanto me encaminhava para a mesa, foi o de alívio. “Ótimo! Sem chance de sequer sentir o cheiro de cigarro. Gosto assim!”

Mas aí, logo em seguida, fui tomado por um sentimento de vergonha. Percebi que havia me quedado vítima exatamente do mesmo impulso estatizante que acomete os progressistas de hoje.  Por mais de 40 anos, sempre me vi como um apaixonado e inflexível defensor da sociedade livre.  E, no entanto, por alguns breves segundos, cá estava eu sentindo prazer em ver o governo solapando não apenas uma liberdade empreendedora (o dono do estabelecimento estava proibido de sequer ter um ambiente separado para fumantes), como também a liberdade de adultos consensuais em um arranjo privado.

Esse incidente me afetou. Por que escorreguei dessa maneira? Por que meu primeiro instinto foi o de abandonar princípios sólidos, pelos quais lutei durante boa parte de minha vida, em troca de alguns minutos de conveniência? 

Pior ainda: se um indivíduo comprometido com a liberdade como eu foi tão facilmente seduzido para o mau caminho, como querer que os não-comprometidos não caiam em tentações similares ou ainda mais pavorosas?

De início, procurei uma forma de suavizar minha falha.  Pensei em todos os malefícios, tão propagados por médicos, do fumo passivo.  Talvez, quem sabe, não seja errado o governo proteger os não-fumantes caso haja alguém impondo uma danosa externalidade.  Porém, rapidamente percebi duas contradições: ninguém me obrigou a entrar naquele restaurante, e o restaurante não pertencia nem ao governo e nem a mim.

O fato inegável é que, em uma sociedade genuinamente livre, o proprietário de um estabelecimento privado que queira permitir que algumas pessoas fumem em seu estabelecimento tem tanto direito de permitir isso quanto eu tenho de não entrar no recinto dele e ir para outro lugar. 

Ninguém é obrigado a entrar em um restaurante cujo proprietário permita o fumo. Ponto. E nenhum indivíduo tem o direito de obrigar outro indivíduo a lhe fornecer um restaurante livre de fumaça de cigarro.  Isso não é um direito natural.

No que mais, conheço vários outros comportamentos arriscados que adultos praticam de maneira livre e voluntária, os quais eu jamais pediria que o governo banisse: paraquedismo e bungee jumping são apenas dois deles. Aliás, estatísticas mostram que frequentar escolas públicas em periferias violentas também é uma prática extremamente arriscada — talvez mais arriscada do que ocasionalmente inalar a fumaça de cigarro de outra pessoa.

Veja como esse caminho é traiçoeiro. Tão logo você aceita que seja correto o governo ditar quais atividades uma pessoa pode fazer, qual o limite?  Muitas pessoas leem livros realmente nefastos.  Deveríamos então proibi-las disso?  Um progressista irá apoiar que o governo proíba livros de ideologia socialista com o intuito de proteger a mente das pessoas?

Aplicar e zelar por direitos de propriedade (tanto sobre seu corpo quanto sobre os bens físicos que você possui) produz regras comportamentais muito mais precisas e previsíveis para uma sociedade civilizada.  Em vez de decretar leis que coercivamente ajustem nosso comportamento à maneira que um burocrata do governo julgue ser a mais apropriada, não faria mais sentido definir direitos de propriedade e então impingi-los? 

Que se permita as interações pacíficas e voluntárias, e que se puna somente aquelas ações que agridam os direitos e a propriedade de terceiros. Frequentar um restaurante sem cheiro de cigarro não é um direito.  Por outro lado, se o proprietário do estabelecimento determinou que ali não é permitido fumar, o fumante não pode fazê-lo.  Qual a dificuldade?

O problema é que, quanto mais as coisas se tornam “socializadas”, mais invasivo e intrusivo o Estado irá necessariamente se tornar.  Por exemplo, se há um sistema de saúde estatal, no qual todo mundo paga pela saúde de todo mundo, então passa a existir um nefasto incentivo para que todo mundo regule e denuncie o comportamento de todo mundo.  Se estou pagando por sua saúde, não quero que você fume e nem que coma bobagens.  Agora, se é você quem está pagando com seu próprio dinheiro, então isso não é problema meu. 

Quanto mais as relações humanas se tornam pautadas por políticas estatais, mais as pessoas se tornam intrusivas, raivosas e ditatoriais.

O impulso estatizante é uma preferência pelo uso da força do Estado para a consecução de um benefício — real ou imaginário, para si próprio ou para os outros — em detrimento de alternativas voluntárias e mais intelectualmente desafiadoras, como persuasão, educação ou liberdade de escolha.  Se as pessoas vissem as coisas nesses termos tão contrastantes, ou se elas percebessem que o apoio a intervenções governamentais é uma opção que aniquila as liberdades, o apoio a medidas coercivas para se solucionar questões comportamentais diminuiria bastante. 

O problema é que as pessoas frequentemente são incapazes de equiparar intervenção a força e coerção.  E é exatamente isso o que ocorre.  Veja, o governo não pediu que os restaurantes proibissem o fumo; ele simplesmente deu essa ordem e ameaçou com multas e até mesmo encarceramento quem descumprir seu mandado.

Já tentei essa argumentação com alguns amigos.  Exceto aqueles que já tinham propensões libertárias, eis algumas típicas reações e como elas foram expressas:

– Ilusão: “Não é bem uma ‘coerção’ se a maioria das pessoas aprova a medida.”

– Paternalismo: “Nesse caso, a coerção foi algo positivo, pois foi para o seu próprio bem.”

– Dependência: “Se o governo não fizer isso, quem fará?”

– Miopia: “Você está fazendo tempestade em copo d’água.  Como é que banir o cigarro em restaurantes pode representar uma ameaça às liberdades?  Mesmo que representasse, seria algo tão ínfimo que não incomoda.”

– Impaciência: “Não quero ter de esperar até que meu restaurante favorito decida voluntariamente banir o cigarro.”

– Ânsia de poder: “Restaurantes que não querem proibir fumantes devem ser obrigados a fazê-lo.”

– Alienação: “Não estou nem aí. Odeio cigarro e não quero nem pensar na hipótese de sentir seu cheiro, mesmo que o dono do restaurante crie uma seção isolada para fumantes.”

Se você pensar bem, cada um desses argumentos pode ser utilizado — e, de fato, eles sempre são utilizados — para justificar a imposição de intoleráveis limitações às liberdades do indivíduo.  Se há algo que já deveríamos ter aprendido com a história dos governos é que, sempre que você dá a mão, eles arrancam o braço; e fazem isso apelando aos instintos mais fracos da população.

O desafio é fazer as pessoas entenderem que a liberdade sempre é tolhida gradualmente, um pouco de cada vez; ela não é destruída repentinamente, de uma só vez.  E que lutar e resistir à destruição da liberdade em coisas pequenas é uma postura muito mais racional e sensata do que ceder e apenas desejar que batalhas maiores não serão travadas mais tarde.

Ilusão, paternalismo, dependência, miopia, impaciência, ânsia de poder e alienação: todas elas são razões por que as pessoas sucumbem a impulsos estatizantes.  Elas também são vestígios de um pensamento infantil.  Quando crianças ou adolescentes, nossa compreensão de como o mundo funciona é, na melhor das hipóteses, simplória.  Esperamos que adultos nos provenham e nos sustentem, e não ligamos muito para como eles irão fazer isso.  E queremos tudo para agora.

Somente nos tornarmos “adultos” quando aprendemos que há limites que restringem nosso comportamento; quando começamos a pensar no longo prazo e em todas as outras pessoas, e não apenas em nós mesmos e no aqui e agora; quando fazemos o máximo de esforço para nos tornarmos independentes na medida em que nossas capacidades mentais e físicas nos permitam; quando deixamos os outros em paz, a menos que eles nos ameacem; e quando pacientemente satisfazemos nossos desejos por meios pacíficos, e não recorrendo a porretes.

Nós nos tornamos “adultos” quando aceitamos a responsabilidade pessoal e respondemos por nossos próprios atos.  E voltamos a ser crianças quando transferimos nossas responsabilidades e nosso controle para terceiros, especialmente para o governo.

No entanto, apenas olhe ao seu redor e veja o nível do debate público e de todas as políticas recomendadas.  Não há limites para as demandas pela coerção do Estado.  Todos exigem que o Estado “faça algo”.  Tribute mais aquele sujeito porque ele é mais rico do que eu.  Subsidie a cultura. Imponha uma tarifa para que eu não sofra a concorrência de importados.  Dê mais dinheiro para essa indústria.  Pague por minha faculdade.  Pague por minha saúde.  Proíba a posse de armas.  Desaproprie aquele lugar e construa um hospital ali.  Facilite minha vida obrigando os outros a me sustentar.  Corrija esse problema para mim, e faça isso já.  Diga àquele cara que é dono do restaurante que ele está proibido de atender quem quer fumar.

A impressão é que nossa sociedade se tornou um imenso berçário repleto de bebês chorões que veem o Estado como uma babá amorosa. A vontade que tenho é a de gritar “cresçam!”

Sociedades prosperam e entram em decadência de acordo com a civilidade de seus cidadãos.  Quanto mais eles se respeitam e se associam voluntariamente, mais prósperos e seguros eles se tornam.  Quanto mais eles demandam força e coerção — legitimadas ou não –, mais dóceis e maleáveis eles se tornam nas mãos de demagogos e tiranos.

Portanto, resistir ao impulso estatizante não é algo trivial.  Resistir a esse impulso nada mais é do que a postura genuinamente adulta a ser tomada.


Lawrence W. Reed é presidente da Foundation for Economic Education.

Artigo originalmente publicado em Mises.org

A “justiça social” não é social nem justa

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Thomas Sowell nos deu uma crítica penetrante à abordagem da justiça adotada por muitos filósofos políticos, especialmente John Rawls e seus inúmeros seguidores. Sowell diz que eles constroem uma imagem de como a sociedade deveria ser, mas não perguntam se seus planos são viáveis. Sua crítica é bem-feita, embora ele não ofereça uma explicação adequada dos direitos que as pessoas têm.

Ele diz sobre Rawls:

“Em grande parte da literatura sobre justiça social, incluindo o clássico Uma Teoria de Justiça, do professor John Rawls, várias políticas têm sido recomendadas com base em sua conveniência do ponto de vista moral – mas muitas vezes com pouca ou nenhuma atenção à questão prática de se essas políticas poderiam de fato ser realizadas e produzir os resultados desejados. Em vários lugares, por exemplo, Rawls se referiu a coisas que a ‘sociedade’ deveria ‘organizar’ – mas sem especificar os instrumentos ou as viabilidades desses arranjos”.

Mais adiante, Sowell observa que “a exaltação da desejabilidade e a negligência da viabilidade, que Adam Smith criticou, ainda hoje é um ingrediente importante nas falácias fundamentais da visão de justiça social”.

Sowell concorda com Rawls que muitas desigualdades nas condições das pessoas parecem arbitrárias e injustas, se vistas como o resultado de um plano. Mas, uma vez que percebemos que em um mercado livre não existe tal plano, é evidente que a crítica ao mercado sob o argumento de que ele permite desigualdades injustas é descabida. A vida é apenas “assim”, e as tentativas de desfazer essas desigualdades provavelmente fracassarão e terão resultados ruins.

O argumento de Sowell segue Friedrich Hayek, sobre quem ele diz:

   “Claramente, Hayek também via a vida em geral como injusta, mesmo dentro do livre mercado que ele defendia. Mas isso não é o mesmo que dizer que ele via a sociedade como injusta. Para Hayek, a sociedade era uma ‘estrutura ordenada’, mas não uma unidade decisória ou uma instituição tomando ações. Isso é o que os governos fazem. Mas nem a sociedade nem o governo compreendem ou controlam todas as muitas e muito variadas circunstâncias – incluindo um grande elemento de sorte – que podem influenciar o destino de indivíduos, classes, raças ou nações”.

Como exemplo, Sowell cita estudos que mostram que os primogênitos tendem a ser mais bem-sucedidos academicamente do que as crianças que têm irmãos ou irmãs mais velhos. “Isso é algo que requer ações corretivas por parte do governo?”, ele pergunta. A própria ideia já é ridícula. Devemos, pensa Sowell, simplesmente viver e deixar viver.

É certamente verdade, como sugere Sowell, que as questões de viabilidade restringem severamente o que aqueles que buscam “justiça social” podem fazer, mas ele não mostrou que essas questões reduzem o espaço de ação a nada. Às vezes, ele implicitamente postula uma falsa antítese entre a rejeição total da justiça social e a aceitação de uma concepção abrangente de justiça social que ele chama de “justiça cósmica”, que tentaria corrigir todas as desigualdades consideradas imerecidas. (Apresso-me a acrescentar que rejeito completamente a justiça social, mas defender adequadamente essa posição requer uma consideração de direitos, o que Sowell não fornece).

Em apoio à sua crítica à justiça social, Sowell faz um argumento dúbio. As pessoas que apoiam a justiça social muitas vezes tomam como um de seus principais exemplos a necessidade de programas especiais para ajudar os negros, porque a discriminação contra eles, tanto no presente quanto no passado, os colocou em uma grave desvantagem em relação aos brancos. Mas as evidências empíricas não apoiam a afirmação de que as desigualdades atuais de renda entre negros e brancos decorrem principalmente do tratamento discriminatório, argumenta.

Sowell é um mestre em implantar evidências, e qualquer um que queira desafiá-lo sobre a causa da desigualdade enfrenta uma tarefa difícil, se não totalmente impossível. Mas um defensor da justiça social pode argumentar que a exigência de corrigir o tratamento discriminatório não é uma reivindicação empírica sobre as fontes da desigualdade atual, mas uma demanda moral. As pessoas que defendem esta opinião podem pensar que, mesmo que agora estejamos muito bem, ainda temos direito a uma indenização se tivermos sofrido discriminação. (Mais uma vez, não sou a favor dessa visão, muito pelo contrário; mas uma resposta adequada a ela deve envolver a teoria moral).

É mais importante, porém, ter em mente a força do argumento de Sowell do que suas limitações. As questões de viabilidade limitam sobremaneira o alcance da justiça social, mesmo que não a excluam completamente. E podemos concordar sem reservas com outro excelente ponto que Sowell faz. Ele diz:

 “Ironicamente, muitas elites intelectuais – antigamente e agora – parecem considerar-se promotoras de uma sociedade mais democrática, quando se antecipam às decisões alheias (…). Sua concepção de democracia parece ser a equalização de resultados pelas elites intelectuais. Isso conferiria benefícios aos menos afortunados, em detrimento daqueles que esses substitutos consideram menos merecedores. (…) [Woodrow Wilson] favoreceu o governo por meio de tomadores de decisão substitutos, armados com conhecimento e compreensão superiores – ‘perícia executiva’ – e facilitados pelo público votante. A resposta de Woodrow Wilson às objeções de que isso privaria as pessoas em geral da liberdade de viver suas próprias vidas como bem entendessem foi redefinir a palavra ‘liberdade’. (…) Ao simplesmente retratar os benefícios fornecidos pelo governo – dispensados por tomadores de decisão substitutos – como uma liberdade adicional para os beneficiários, o presidente Wilson fez desaparecer a questão da perda de liberdade das pessoas, como se fosse um truque verbal”.

Sowell faz um ponto vital. Você é livre se os outros não agredirem sua pessoa e propriedade; se eles agridem, mas lhe dão benefícios, você não está livre. Sowell eloquentemente diz:

   “As ‘complexidades’ dessa definição wilsoniana de liberdade são certamente compreensíveis, uma vez que fugir do óbvio pode se tornar muito complexo. Quando Espártaco liderou uma revolta de escravos, nos tempos do Império Romano [República], ele não estava fazendo isso para obter benefícios do estado de bem-estar social”.

Como o bispo Joseph Butler observou há muito tempo, “tudo é o que é, e não outra coisa”.


Esse artigo foi originalmente publicado em https://mises.org/wire/social-justice-neither-social-nor-just 

David Gordon é membro sênior do Mises Institute, analisa livros recém-lançados sobre economia, política, filosofia e direito para o periódico The Mises Review, publicado desde 1995 pelo Mises Institute.